O RenovaBR, apesar de não se caracterizar
como partido político, conseguiu eleger 12,6% dos seus membros nas
eleições de 2018. O grupo chamou atenção quando oito deputados do PDT
votaram a favor da reforma da Previdência e levaram punições da sigla,
culminando na suspensão da deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP). Ela é
uma das integrantes do grupo RenovaBR, que surgiu em 2017 encabeçado
pelo empresário paulistano Eduardo Mufarej e ganhou adesão de 134
membros políticos no ano passado.
Do total de associados, 17 venceram a eleição. Além de
Tabata, oito deputados federais, sete estaduais e um senador estão no
grupo de eleitos que proclamam melhorias na política. Dentre eles, quase
metade são do Novo, com oito parlamentares. Em relação aos filiados
nacionalmente, o movimento é formado predominantemente por lideranças da
Rede (25), Novo (17), PPS (16), PSB (15), DEM (12), PSDB (9) e Psol
(3). Contabilizando, o Renova BR somou 4,5 milhões de votos na eleição
passada.
Já entre os que não foram eleitos, aparecem quatro
cearenses. São eles: a ex-candidata ao Senado, Mayra Pinheiro (PSDB) -
hoje secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do
Ministério da Saúde (SGTES), e os ex-candidatos à Câmara dos Deputados,
Júnior Gonçalves (Rede), Fredy Bezerra (Novo) e Ítalo Alves (PPS).
Segundo Mayra, o RenovaBR é uma escola de formação política apartidária e
de ideologias diferentes. Para ela, existe uma qualidade de formação de
líderes que "nunca antes se teve acesso".
Ela explica que, logo após o movimento abrir seleção
pública, e ela se inscrever, já foi selecionada. Com processo de escolha
extenso, desde avaliação de conteúdo, entrevistas e encontro presencial
de candidatos, o RenovaBR "busca formar pessoas capacitadas para lidar
com temas diversos, como saúde, educação e segurança pública, sem viés
ideológico, mas com diálogo".
Sobre a situação de Tabata Amaral, a psdbista Mayra
afirma que a atitude da deputada é "a que população quer dos novos
modelos políticos". Segundo ela, é essencial que partidos não julguem
seus integrantes. "Partido nenhum pode decidir pelos parlamentares. O
voto é pela consciência. A escolha do partido não pode fazer com quem as
pessoas que pensem diferentes se submetam a ela", assegura.
Além disso, para ela, é essencial que os políticos
tenham autonomia, defendam boas práticas e os interesses da sociedade, e
não apenas do partido. Em relação à ausência de petistas no movimento,
Mayra declara que o RenovaBR sempre foi plural. "O que aprendi é que as
pessoas não devem ser radicais. Devemos dialogar e lá encontrei pessoas
de todos os partidos, com diversas ideologias. Foi uma grande
oportunidade", reitera.
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O debate sobre a formação de grupos
Para o cientista político Horácio Frota, a
constituição dos partidos que compõem o movimento de renovação se
apresenta com discurso de inovação que não vinga. "Isso é a velha
política. Pode ser nova em termos de discursos, mas, ao aliar-se aos
setores conservadores, jogou fora a possibilidade de inovação",
ressalta.
Segundo ele, que é professor do Curso de
Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (Uece), o surgimento
desses grupos necessita de cautela. A renovação não pode aproximar de
segmentos conservadores da sociedade, diz ele.
"Assim,
unem-se, além de conservadores, pessoas que estão sem espaço e
procurando ter visibilidade. Isso é tão primário e batido que não chama
atenção. É uma nova roupagem de apresentar velhas políticas", avalia.
De
acordo com o cientista político e professor da Universidade Federal do
Ceará (UFC), Valmir Lopes, a situação é diferente. Ele assegura que a
existência de grupos como RenovaBR é positiva, pois a instituição de
partido político já foi muito formalizada.
"É
plenamente importante, porque indica que a sociedade civil está se
movimentando", afirma. Valmir Lopes justifica que a estrutura do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é similar a do
RenovaBR.
Os dois, segundo ele, possuem candidatos
eleitos com duplo pertencimento (do partido político e do grupo
ideológico). "O MST é um partido, mas que não é organizado como tal.
Embora, na época eleitoral, os integrantes desses grupos surjam dentro
dos partidos como candidatos", avalia. Para Valmir, esse tipo de
movimento é reflexo da forma "artificial" de como os partidos existem.
Valmir
acrescenta ainda que os "partidos, no Brasil, do ponto de vista legal e
institucional, têm muito poder". Mesmo assim, a ascensão dos movimentos
de renovação política, diz ele, vem ocorrendo. Eles derivam do
histórico do eleitor brasileiro de escolher o candidato nominalmente, e
não pelo partido, segundo o professor.
A análise,
portanto, é que a fidelidade do parlamentar, em momentos de votações
polêmicas, como ocorreu com Tabata Amaral (PDT), pode vir à tona. "Os
partidos que aceitaram esses candidatos sabiam que não poderiam
controlar os votos de parlamentares ligados a esses grupos", analisa.
O POVO