Em uma mistura de cores e crítica política, a
22ª edição da Parada do Orgulho LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e
transgêneros) de Brasília foi realizada neste domingo, 14. A terceira
parada mais antiga do País estimou 120 mil pessoas na capital federal,
segundo os organizadores.
O tema da parada deste ano é uma homenagem aos 50 anos
da revolta de Stonewall, série de manifestações de membros da comunidade
LGBT contra uma invasão da polícia de Nova York ao bar Stonewall Inn.
A
rebelião ocorreu nas primeiras horas da manhã de 28 de junho de 1969. A
mobilização é considerada um marco do movimento de liberação gay e por
causa de Stonewall que o orgulho LGBT é celebrado em junho. A revolta
também foi tema da maior parada do país, em São Paulo.
Além de Stonewall, a parada faz uma homenagem aos 40
anos do "beijaço" no bar Beirute. Em 1979, um grupo de gays realizou um
beijo coletivo no Bar Beirute, que havia proibido no dia anterior um
beijo entre dois homens. Este ano, como marco histórico, organizadores
da parada brasiliense hastearam ano uma bandeira arco-íris em frente ao
bar.
Visibilidade
Para o publicitário Lufe, de 30 anos, o evento tem a
importância de garantir visibilidade a lésbicas, gays, bissexuais e
transgêneros, além de ser um espaço para cobrar que órgãos públicos
assegurem direitos de toda população.
“A parada serve para mostrar que os gays não estão
dentro de casa, com medo. Nela também podemos exigir os nossos direitos
dentro da sociedade. A gente não quer nada mais que os outros”, disse.
Lufe ressaltou que o evento é um espaço para todos. “Faço questão de
chamar meus pais, familiares e meus amigos héteros para mostrar que
podemos estar juntos”, acrescentou.
A contadora Rose Sandra, de 45 anos, participou do
evento para apoiar o filho gay. Para ela, é fundamental que pais e mães
estejam ao lado de seus filhos, garantindo afeto e acolhimento com suas
orientações sexuais para evitar o que chamou de “válvulas de escape”
como drogas e prostituição.
“Eu soube que meu filho era gay desde muito pequeno.
Hoje ele tem 28 anos, mas só me contou há 9 anos por medo de ser
rejeitado. Não foi surpresa porque no meu íntimo, eu já sabia. Eu venho
[para o evento] para mostrar que ele não precisa ficar se escondendo,
para que ele saiba que é respeitado dentro do lar dele”, afirmou.
O presidente da Brasília Orgulho, Michel Platini,
organizador do evento, ressaltou que a parada é o maior ato em defesa
dos Direitos Humanos no Distrito Federal.
“A parada emite um recado para os governos – tanto
local como federal. Nos últimos meses assistimos à retirada de políticas
e conselhos voltados à população LGBTS e estamos aqui para cobrar que
esses espaços sejam reabertos”, disse.
Abane Alegria
A delegada Angela Santos, responsável pela Delegacia
Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou
por Orientação Sexual ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência
(Decrin) afirmou que a parada também é importante para sensibilizar os
moradores do Distrito Federal sobre direitos e espaços de acolhimento em
delegacias da região.
“Trabalhamos para que as pessoas não sejam
revitimizadas, isso é, não sofram novamente dentro de uma delegacia
depois de ter passado por algum tipo de violência. Trabalhamos para
conscientizar as pessoas que busquem seus direitos e, assim, não fiquem
nas ‘cifras ocultas’, que são as ocorrências subnotificadas”, explicou.
A delegacia usa um espaço nas redes sociais para
reprimir os atos de preconceito com o tema “abafe seus preconceitos,
abane alegria’, além de disseminar dentro da Polícia Civil do DF as
práticas para o melhor atendimento dessas populações.
“Usamos uma linguagem jovem porque as pessoas já têm a
imagem de que a polícia é muito séria. Mas, queremos proteger e não
causar medo e muitas pessoas não buscam a polícia justamente por medo.
Então, queremos educar e mostrar que essa discriminação não é admitida
pelo Direito”, explicou a delegada-adjunta da Decrin, Cíntia Silvia.
Procurada, a Secretaria de Segurança Pública do
Distrito Federal (SSP/DF) informou que não fará levantamento de
estimativa de público para o evento.
Agência Brasil