O procurador Deltan Dallagnol teria planejado
ganhar dinheiro aproveitando-se da fama e do prestígio da Operação Lava
Jato, que, dentre outros efeitos políticos importantes, levou à prisão o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ideia aparece em conversas
dele com o também procurador Roberson Pozzobon, reveladas pelo jornal
Folha de S. Paulo, em sua edição de ontem, como resultado de parceria
com o site The Intercept Brasil que lhe deu acesso a material resultante
do acesso a vários diálogos em grupos do aplicativo Telegram.
"Em
um chat sobre o tema criado no fim de 2018, Deltan, que é coordenador
da Lava Jato, discutia com o colega a constituição de uma empresa na
qual eles não apareceriam formalmente como sócios, para evitar
questionamentos legais e críticas. A justificativa da iniciativa foi
apresentada por Deltan em um diálogo com a mulher dele. "Vamos organizar
congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar nosso
networking e visibilidade', escreveu", aponta a reportagem da Folha,
assinada pelos jornalistas Flavio Ferreira, Leandro Demori e Amanda
Audi, estes dois últimos do The Intercept.
"Os
procuradores cogitaram ainda uma estratégia para criar um instituto e
obter elevados cachês. 'Se fizéssemos algo sem fins lucrativos e
pagássemos valores altos de palestras pra nós, escaparíamos das
críticas, mas teria que ver o quanto perderíamos em termos monetários',
comentou Deltan no grupo com o integrante da força-tarefa. A realização
de parcerias com uma firma organizadora de formaturas e outras duas
empresas de eventos também foi debatida nessa conversa. A lei proíbe que
procuradores gerenciem empresas e permite que essas autoridades apenas
sejam sócios ou acionistas de companhias.
O
deputado Paulo Pimenta (PT-RS), líder da bancada na Câmara, disse ontem,
com base no novo material publicado pela imprensa, que acionará o
Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) para exigir que o
episódio seja esclarecido. "Queremos saber quanto e como ele (Dallagnol)
recebeu", manifestou-se o parlamentar através das redes sociais, também
lembrando já ter denunciado o procurador ao mesmo órgão, "quando muita
gente achou que estávamos exagerando".
Deltan e
Pozzebom manifestaram-se ao jornal através de nota oficial emitida pela
assessoria de imprensa do Ministério Público Federal, no Paraná,
informando que não tinham constituído empresa ou instituto em nome deles
ou de suas mulheres. Os procuradores da Lava Jato declararam não
reconhecer "as mensagens atribuídas a eles", sob alegativa de que o
material é "oriundo de crime cibernético e não pôde ter seu contexto e
veracidade comprovado". A nota também lembra que a lei permite a
qualquer procurador "aceitar convites para cursos e palestras gratuitos
ou remunerados".
Em entrevista ao jornal O Estado
de S. Paulo, publicada no sábado, Deltan diz não ter medo do que ainda
poderá ser apresentado com base nos vazamentos do site. "Todos os atos
da força-tarefa são fundamentados em fatos, em provas e na lei e foram
validados por diversas instâncias da Justiça", afirmou.
O
coordenador da Lava Jato considera que foram atingidos interesses
"muito poderosos" e o vazamento das conversas pode ter como objetivo
levar à anulação das condenações e barrar o avanço da investigação. Algo
que ele reafirma não acreditar que aconteça, confiando na força dsas
provas obtidas ao longo dos anos de trabalho da força-tarefa.
O
procurador recusou convite da Câmara para discutir o caso com
deputados, mas diz não ter qualquer receio de ir ao Congresso. "É apenas
que meu trabalho é técnico e lá a natureza do debate é político",
alegou, mais uma vez dizendo-se tranquilo diante da força das provas
apresentadas para levar às condenações.
o Povo