Procurador queria lucrar com fama da Lava Jato

Blog do  Amaury Alencar



Deltan Dallagnol, segundo as conversas, estaria interessado em tirar proveito pessoal do sucesso da Lava Jato
Deltan Dallagnol, segundo as conversas, estaria interessado em tirar proveito pessoal do sucesso da Lava Jato (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
O procurador Deltan Dallagnol teria planejado ganhar dinheiro aproveitando-se da fama e do prestígio da Operação Lava Jato, que, dentre outros efeitos políticos importantes, levou à prisão o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ideia aparece em conversas dele com o também procurador Roberson Pozzobon, reveladas pelo jornal Folha de S. Paulo, em sua edição de ontem, como resultado de parceria com o site The Intercept Brasil que lhe deu acesso a material resultante do acesso a vários diálogos em grupos do aplicativo Telegram.

"Em um chat sobre o tema criado no fim de 2018, Deltan, que é coordenador da Lava Jato, discutia com o colega a constituição de uma empresa na qual eles não apareceriam formalmente como sócios, para evitar questionamentos legais e críticas. A justificativa da iniciativa foi apresentada por Deltan em um diálogo com a mulher dele. "Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar nosso networking e visibilidade', escreveu", aponta a reportagem da Folha, assinada pelos jornalistas Flavio Ferreira, Leandro Demori e Amanda Audi, estes dois últimos do The Intercept.
"Os procuradores cogitaram ainda uma estratégia para criar um instituto e obter elevados cachês. 'Se fizéssemos algo sem fins lucrativos e pagássemos valores altos de palestras pra nós, escaparíamos das críticas, mas teria que ver o quanto perderíamos em termos monetários', comentou Deltan no grupo com o integrante da força-tarefa. A realização de parcerias com uma firma organizadora de formaturas e outras duas empresas de eventos também foi debatida nessa conversa. A lei proíbe que procuradores gerenciem empresas e permite que essas autoridades apenas sejam sócios ou acionistas de companhias.
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS), líder da bancada na Câmara, disse ontem, com base no novo material publicado pela imprensa, que acionará o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) para exigir que o episódio seja esclarecido. "Queremos saber quanto e como ele (Dallagnol) recebeu", manifestou-se o parlamentar através das redes sociais, também lembrando já ter denunciado o procurador ao mesmo órgão, "quando muita gente achou que estávamos exagerando".
Deltan e Pozzebom manifestaram-se ao jornal através de nota oficial emitida pela assessoria de imprensa do Ministério Público Federal, no Paraná, informando que não tinham constituído empresa ou instituto em nome deles ou de suas mulheres. Os procuradores da Lava Jato declararam não reconhecer "as mensagens atribuídas a eles", sob alegativa de que o material é "oriundo de crime cibernético e não pôde ter seu contexto e veracidade comprovado". A nota também lembra que a lei permite a qualquer procurador "aceitar convites para cursos e palestras gratuitos ou remunerados".
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada no sábado, Deltan diz não ter medo do que ainda poderá ser apresentado com base nos vazamentos do site. "Todos os atos da força-tarefa são fundamentados em fatos, em provas e na lei e foram validados por diversas instâncias da Justiça", afirmou.
O coordenador da Lava Jato considera que foram atingidos interesses "muito poderosos" e o vazamento das conversas pode ter como objetivo levar à anulação das condenações e barrar o avanço da investigação. Algo que ele reafirma não acreditar que aconteça, confiando na força dsas provas obtidas ao longo dos anos de trabalho da força-tarefa.
O procurador recusou convite da Câmara para discutir o caso com deputados, mas diz não ter qualquer receio de ir ao Congresso. "É apenas que meu trabalho é técnico e lá a natureza do debate é político", alegou, mais uma vez dizendo-se tranquilo diante da força das provas apresentadas para levar às condenações.


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