Após se referir aos nove governadores nordestinos como "de paraíba",
no último dia 19, o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL),
replaneja rotas, tendo aterrissado na Região três vezes em menos de um
mês. Participou da inauguração de aeroporto em Vitória da Conquista (Bahia), de uma usina solar em Sobradinho (Bahia) e, na última quarta-feira, 14, presenciou abertura de escola militar que poderá receber o nome dele em Parnaíba (Piauí). Antes da polêmica ele havia demorado cinco meses até pisar no Nordeste. Em Pernambuco, visitou Recife e Petrolina.
Embora tenha intensificado agenda em solo nordestino, o
tom contra os governadores permanece em ascensão. Último dia 5, o
capitão reformado disparou que os nove chefes de Executivos estaduais
querem fazer do Nordeste "uma Cuba". Novamente, então, deu sinais de que
a atuação na Região pode ser outra: a partir do contato direto com os
prefeitos.
A frase específica ocorreu ao endereçar críticas aos
governadores do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) e da Paraíba, João Azevedo
(PSB), que deveriam dar os créditos a ele quando os estados forem
contemplados pela gestão. "Caso contrário, eu não vou ter conversa com
eles e vamos divulgar obras junto às prefeituras", adiantou.
Levantamento do O POVO considerando 52
das principais cidades na Região mostra que em alguns estados, caso do
Ceará, a sinalização é ineficaz. O prefeito da Capital, Roberto Cláudio
(PDT), pertence a mesmo grupo político do governador Camilo Santana
(PT).
Já a capital do Piauí, Teresina, está sob gestão do
tucano Firmino Filho. Ele já fez críticas ao modo de o presidente
governar, mas, no geral, dá apoio à gestão do pesselista. O estado é
governado pelo petista Wellington Dias.
O estado da Bahia está sob gerência do também petista
Rui Costa (PT). Bolsonaro, inclusive, acusou o petista de não ter
autorizado a Polícia Militar a lhe prestar segurança em Vitória da
Conquista. Mas em Salvador o presidente tem um aliado, o prefeito ACM
Neto (DEM).
Cientista político e professor da Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE), Adriano Oliveira, afirma que a linha direta com o
presidente, por um lado, poderia ser boa para os prefeitos, já que os
municípios têm urgências, necessitam de recursos. Destaca, no entanto,
que a possibilidade é pouco possível.
"Nós temos eleições estaduais e municipais. Nas
municipais, prefeitos, para serem reeleitos precisam de governadores.
Nas estaduais, governadores precisam de prefeitos. Então, é possível que
prefeitos não tenham essa relação com Bolsonaro com receio de
desagradar o governador." Pernambuco é governado por Paulo Câmara, do
PSB, mesmo partido que o prefeito do Recife, Geraldo Júlio.
Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do
Piauí (UFPI), Vitor Sandes pensa que Bolsonaro tem lógica confrontativa
que, neste caso, não se materializará. No Piauí, ele diz, o Wellington
Dias tem capital político forte e, tal como Camilo Santana no Ceará, tem
ampla base aliada na Assembleia Legislativa e nas cidades. Segundo ele,
hoje o poder do PSDB — que apoia o presidente com ressalvas — se
restringe a Teresina. Lá, considera o docente, o diálogo direto com o
presidente pode ser viável.
O sociólogo Alex Galeno, da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), projeta que a fala do presidente fortalecerá o
espirito de corpo dos governadores nordestinos, que já se organizam em
fórum e em consórcio.
"A governadora (Fátima Bezerra, do PT) tem sido bem
avaliada e gera consensos entre diferentes setores, matizes diferentes. O
prefeito que for contra a posição da governadora, para a campanha (ter
sucesso) será muito difícil", projeta o professor.
Galeno menciona o próximo ano por ver na declaração de
Bolsonaro um pensamento político-eleitoral. Se vier de fato a mirar os
prefeitos, diz o estudioso, o líder conservador prepara o terreno nos
estados para as disputas municipais. Ou seja, auxílios federais aos
municípios enrobustecem os índices municipais — número de obras
concluídas.
Com isso, prossegue o sociólogo, o presidente ganha
capital político na Região onde é mais mal avaliado. Os prefeitos, por
sua vez, pavimentam caminhos para a própria reeleição ou de sucessor.
Segundo ele, o prefeito de Natal, Alvaro da Costa Dias (MDB) mantém-se
entre a governadora e o presidente, sem aderir, realmente, nenhum.
2018
Bolsonaro ganhou de Haddad (PT) em todas as
regiões do País, exceto no Nordeste, onde faturou 30,3% dos votos
válidos, contra 69,7% do petista.
O POVO