As
exportações cearenses de “Tecidos de algodão, fios de diversas cores e
denim contendo pelo menos 85% em peso de algodão” para a Colômbia
somaram US$
1,05 milhão no primeiro semestre de 2019, um salto de 70,77% em
comparação com igual período de 2018 (US$ 619.340). O resultado fez com
que esses produtos têxteis passassem da terceira para a segunda posição
entre os itens cearenses mais vendidos para a Colômbia no primeiro
semestre do ano, atrás apenas de “Calçados de borracha ou plástico, com
parte superior em tiras ou correias, com saliências (espigões) que se
encaixam na sola” (US$ 5,6 milhões).
Os dados são do Comex Stat, sistema
Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), e
evidenciam os impactos positivos para o Ceará gerados pelo acordo entre
Mercosul e Colômbia, em vigor há pouco mais de um ano e meio, para zerar
as tarifas de exportação do setor têxtil.
Para
o presidente do Sindicato da Indústria de Fiação e Tecelagem em geral
no Estado do Ceará (Sinditêxtil-CE), Rafael Cabral, as exportações de
produtos cearenses para a Colômbia – e também para outros países -
poderiam ser ainda maiores se o custo da produção do Brasil não fosse
tão elevado e o câmbio não variasse muito, mantendo o dólar em um
patamar atrativo. “Nós temos um Custo Brasil elevado. Então, só vale a
pena exportar com o dólar no patamar de R$ 3,80 a R$ 4. Se o dólar cai,
nós não temos como competir com outros produtos têxteis que chegam à
Colômbia, vindos de países asiáticos, por exemplo. Assim, mesmo com o
acordo comercial, enfrentamos o problema do Custo Brasil e da oscilação
cambial”, explica.
Apesar
dos desafios, o potencial dos setores têxtil e de confecção do Ceará é
ressaltado por representantes dessas cadeias produtivas. “A indústria
têxtil do Ceará tem como diferenciais a criatividade, o compromisso, a
tecnologia e a força do povo local, que é única. Em termos de indústria
têxtil, da fabricação de fios e tecidos, nós somos uma das mais modernas
do Brasil”, garante o presidente do Sinditêxtil-CE.
A
proximidade com grandes mercados consumidores internacionais, a exemplo
da Colômbia, e a oferta de produtos diferenciados são outros pontos a
favor do Estado. “O Ceará está entre os maiores produtores têxteis do
Brasil, possuindo, ainda, uma localização geográfica privilegiada que
favorece os negócios com a Colômbia e também com outras partes do mundo,
como o continente africano. Além disso, o Ceará tem algo que poucos
estados do Brasil têm, que é a inserção da cultura, do artesanato, nos
seus produtos”, destaca o presidente emérito da Associação Brasileira da
Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Rafael Cervone.
Eventos internacionais
Para ele, a participação em eventos internacionais, a exemplo da Colombiatex,
que ocorre anualmente em Medellín (Colômbia) e é considerada a maior
feira do setor têxtil da América Latina, é um dos caminhos para a
aproximação comercial e a realização de mais negócios impulsionados pelo
acordo comercial que zerou as tarifas para o setor têxtil.
Opinião
semelhante tem o presidente do Sindicato das Indústrias de Confecções
de Roupas de Homem e Vestuário no Estado do Ceará (Sindroupas), Lélio
Matias. De acordo com ele, apesar de o cenário ainda continuar difícil
para o setor, os empresários têm “se movimentado” e implementado ações
que buscam ajudar a agregar valor aos negócios, como a realização de
eventos e a participação em feiras internacionais como aColombiatex e a Itma, que ocorreu no último mês de junho, em Barcelona (Espanha).
“Na
parte de vestuário, a procura estrangeira é mais por calçados e moda
praia. A lingerie também tem participação. Outros segmentos também têm
conseguido marcar espaço. A gente percebe que a procura vem crescendo,
mas ainda não é um número muito expressivo. Para fortalecer mais a
cadeia da moda, precisamos de ações como incentivo ao crédito,
tecnologia e inovação e capacitação para mudar o perfil do profissional
que está atuando nesse setor. Além disso, nós não abrimos mão das
missões internacionais”, afirma Lélio Matias.
De olho nas oportunidades
A
participação em eventos internacionais tem sido, há algum tempo, uma
das principais estratégias do Ceará e do Brasil, de modo, geral, para
fomentar os negócios com compradores estrangeiros. Com a entrada em
vigor do acordo comercial de taxa zero para o setor têxtil entre a
Colômbia e o Mercosul, muitos empresários brasileiros estão apostando no
potencial de crescimento no mercado do país vizinho. Não à toa, a
edição deste ano da Colombiatex,
realizada no fim de janeiro, reuniu o maior número de representantes
brasileiros de todas as edições do evento, que ocorre desde o final da
década de 1980. Ao
todo, foram 41 expositores, incluindo 30 empresas têxteis (algumas com
filiais no Ceará) e 9 empresas de máquinas e equipamentos, além de
entidades que representam o setor, como a Abit e a Associação Brasileira
das Indústrias de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). O resultado foi a realização e a prospecção de negócios que superam US$ 67,4 milhões.
Segundo
Rafael Cervone, Brasil e Colômbia têm uma relação comercial saudável e
com grandes possibilidades de crescimento. “Primeiro, a balança
comercial é zerada. Em 2018, o Brasil exportou cerca de US$ 45 milhões
para a Colômbia, que exportou o mesmo valor para o Brasil. É um fluxo de
comércio justo. Não temos problema de contrabando, de comércio desleal.
São países que podem crescer juntos. Além disso, grande parte dos itens
importados e exportados são produtos complementares e no início da
cadeia produtiva, como fios e tecidos técnicos que ainda serão
manufaturados. Isso mostra uma complementaridade, mostra que estamos no
caminho certo”, avaliou.
De
acordo com o presidente emérito da Abit, no primeiro ano de vigência do
acordo de livre comércio, o valor das exportações brasileiras para a
Colômbia cresceu 46,6%, passando de US$ 30 milhões, em 2017, para US$ 44
milhões em 2018. Apenas em fios, o Brasil vendeu US$ 7 milhões para o
mercado colombiano no ano passado, um incremento de 500% frente a 2017. Outros destaques foram os segmentos de tecidos, com alta de 62%, filamentos (+27%) e vestuário (+25%).
Ele
acredita que esses resultados são apenas o começo de uma parceria
exitosa e que pode ser ampliada em breve, permitindo ao Brasil o
ingresso em outros mercados. “Hoje, o maior país fornecedor para a
Colômbia e para o Brasil é a China. Nós podemos substituí-la – e a Ásia
toda – e ganhar participação do Brasil e da Colômbia nos nossos
mercados. Além disso, estamos estudando também um acordo de regra de
origem pelo qual poderemos usar o mercado da Colômbia, que já possui um
acordo comercial com os Estados Unidos, para chegarmos ao mercado
norte-americano. A Colômbia poderia usar produtos brasileiros para fazer
manufatura. A negociação desse acordo está em andamento, mas depende
muito do governo. Inicialmente, Brasil, Colômbia e Estados Unidos são
favoráveis”, contou.
As
oportunidades de negócios a partir dos acordos de livre comércio também
foram exaltadas por Carlos Eduardo Botero Hoyos, presidente executivo
do Inexmoda, instituto responsável pela realização da Colombiatex. “Como a feira mais reconhecida e especializada do setor têxtil da América Latina, a Colombiatex tem
a responsabilidade de impulsionar os negócios do setor. Nosso objetivo é
conectar saberes e experiências para seguir dinamizando o setor e
aproveitar os tratados de livre comércio”, disse.
Sobre a Colombiatex
A Colombiatex abre
o calendário anual dos principais eventos mundiais do setor têxtil.
Neste ano, o Brasil, que participa desde o início do evento, contou com o
número recorde de 41 expositores, incluindo 30 empresas têxteis e 9 de
máquinas e equipamentos, além de entidades que representam o setor. A
delegação brasileira, aliás, respondeu por 20% dos expositores
internacionais do evento, atrás apenas da Índia (21%).
Com
a grande movimentação de expositores e compradores oriundos de
diferentes partes do mundo, Medellín, outrora famosa por crimes ligados à
droga e à máfia, consolida sua transformação socioeconômica e seu
relevante papel como palco de grandes eventos de negócios. Para se ter
uma ideia, apenas com a Colombiatex de
2019, a cidade de Medellín recebeu uma injeção econômica de US$ 11
milhões, registrando, ainda, uma taxa de ocupação hoteleira de 88%, uma
das maiores do ano.
“A Colombiatex reafirma,
cada vez mais, a importância que Medellín adquiriu como epicentro de
grandes eventos nacionais e internacionais. Ano após ano, essa feira
reúne novidades e novas visões do setor têxtil, se convertendo não só em
um espaço de atualização, mas em um centro de negócios e de
relacionamentos”, destacou a secretária do Desenvolvimento Econômico de
Medellín, Maria Fernanda Galeano.