Oito dias de prova, mais de quatro mil
quilômetros percorridos em uma motocicleta, passando por estados como
Goiás, Tocantins, Piauí e Ceará. Apesar da obviedade, a receita segue a
mesma: ganha quem for o mais rápido no Rally dos Sertões, que nesta
edição finaliza o campeonato nas dunas da cidade de Aquiraz. “Esse ano a
prova vai ser mais longa que o normal, a gente vai ter 4.800 km.
Trechos cronometrados. Uma prova que vai exigir muitos dos pilotos,
principalmente de moto, que é piloto e navegador ao mesmo tempo”,
explica Jean Azevedo, maior campeão da categoria no Rally dos Sertões
com sete títulos conquistados.
É a 25° vez que Jean compete no Rally dos
Sertões, mas o piloto já participou de outras provas, inclusive
internacionais, como o Rali Dakar. Não é a primeira vez dele no Ceará.
Tanto na categoria de motos quanto em outras, o campeão já esteve no
Estado. “Quando eu fazia o campeonato de Baja, uma outra modalidade,
sempre tinha uma etapa aqui. Os Sertões mesmo já terminou várias edições
aqui. Já terminou no Cumbuco, no Beach Park. Duas ou três edições que
venci o Rally dos Sertões foi aqui em Fortaleza”, relembra.
O paulista de mais de 30 anos de carreira é referência
na competição automobilística e inspiração para pilotos mais novos, como
Tunico Maciel. Ao O POVO Online, os dois confidenciaram trocar muitas
dicas durante as provas, mesmo sendo adversários. “Tenho Jean como
exemplo. Ele troca bastante experiências, conta muitas histórias, ensina
muito. A gente vê a dedicação dele”, conta Tunico, campeão mais recente
do Rally dos Sertões.
É a quarta participação dele no campeonato.
Profissional há cinco anos, Tunico corre no Ceará desde 2017, em
competição conhecida como Cerapió, mas confessa ainda sentir diferença
quando compete no Estado. “Acho que o diferencial é o calor. Também acho
que a areia que a gente encontra aqui, a gente não encontra nas nossas
regiões. O que eu mais gosto daqui é isso”.
Tanto aspectos físicos quanto o equipamentos podem ser
elementos definidores do campeão. Apesar da competição ser dividida em
categorias e ter vencedores em cada etapa, a principal disputa é pelo
título geral. O “Geral Motos”, como Jean e Tunico chamam. “Cada um pode
ganhar uma categoria, mas todos querem ganhar a geral, que envolve todas
as categorias”, reforça Jean. Mais de 70 pilotos disputam a premiação.
Segundo Tunico, a receita para ser campeão em qualquer
categoria é treino intenso e equipamento “Preparo físico é
importantíssimo para um piloto de moto. São vários meses trabalhando e
fazendo academia, fazendo bicicleta e sempre tentando melhorar o preparo
físico. Não adianta nada você ter uma moto boa e não ter um bom piloto
ou ter um piloto bom, mas o equipamento não. É o conjunto”, conta
Maciel.
Se perder durante o trajeto, encontrar animais nas
estradas e até pequenos acidentes fazem parte da rotina dos pilotos.
Como eles não sabem o caminho a percorrer, utilizam um mapa como guia.
“A gente vai lendo e pilotando a moto. O campeão vai ser o que fizer
isso mais rápido”, relata Tunico.
As dificuldades da competição, entretanto, parecem ser
mais um combustível para os dois. “O prazer de andar em um rali não
existe igual. É único”, comenta o jovem piloto. Para Jean, o mais
experiente que já competiu em países da África e Europa, soma-se à essa
paixão o fator da “descoberta”. “Conheci lugares que jamais conheceria
se não fosse pelas competições. Essa paixão pela motocicleta me levou a
essa possibilidade de estar em lugares inóspitos ao redor do mundo”,
finaliza Jean.