“O que fazemos em vida, ecoa pela eternidade”. Essas palavras foram proferidas pelo imperador romano, Marcus Aurelius, e sempre vêm acompanhadas pelo seguinte questionamento: “Como queremos ser lembrados nas próximas gerações a partir de nossas atitudes, das nossas dedicações e das nossas tomadas de decisões?”. Certamente, o trabalho desempenhado por todos os homens e mulheres envolvidos no resgate das pessoas que estavam sob os escombros do edifício Andrea, que desabou em Fortaleza, no dia 15 de outubro, respondeu a cada um dos pontos que compõe essa pergunta. Em uma corrente que envolveu profissionais de segurança e de saúde, além de voluntários, movidos pela dedicação, paciência e solidariedade, as engrenagens da humanidade se moveram e trabalharam em conjunto em prol de uma única causa: salvar vidas.
Uma dessas vidas foi a do estudante de arquitetura Davi Sampaio, de 22 anos, que morava no primeiro andar do edifício Andrea. O jovem é uma das sete pessoas retiradas com vida pelo Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE), que atuou por mais 120 horas nas buscas. Nesta sexta-feira (25), o CBMCE promoveu o encontro de Davi com quatro bombeiros militares, que participaram diretamente do seu resgate, ocorrido quase cinco horas após o desmoronamento. O momento de emoção ocorreu em um apartamento no bairro Meireles, na Capital cearense.
Junto de seus pais, Paulo Martins e Ivoneide Sampaio, ele agradeceu pessoalmente ao comandante-geral adjunto do CBMCE, coronel Cleyton Bezerra; ao sargento CBMCE Mário Barroso, ao cabo CBMCE Paulo Moura e ao soldado Nairo Régis, os três da 1ª Companhia de Busca e Salvamento (1ª Cia/BBS); e ao soldado CBMCE Antônio Rodrigues, lotado no Batalhão de Socorro de Urgência (BSU). Os bombeiros militares integraram um grupo de mais de 350 profissionais de segurança que atuaram diuturnamente no local do desabamento.
“A partir do momento que eu saí de lá, eu já saí agradecendo a todos eles. E eu só reforço o agradecimento: muito obrigado por se dedicarem tanto a salvar a minha vida e a de muitas outras pessoas naquela tragédia. Infelizmente, não deu para salvar todas as pessoas, mas isso não tira o mérito do trabalho de vocês, que foi incansável. Queria agradecer muito aos voluntários, que também se prontificaram a ajudar e ficar todo o tempo lá, junto com o pessoal dos Bombeiros e do Samu. Sou eternamente grato a cada um de vocês”, revelou.
O estudante contou que mesmo quando estava sob os entulhos, pôde ouvir as guarnições, que do lado de fora, trabalhavam sobre os escombros e tentavam ouvir qualquer som que indicasse a presença de vítimas. “No momento que eu desliguei o telefone com a moça da Ciops (Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança), eu já comecei a ouvir um barulho de sirenes. Todo tempo eu ouvia o Corpo de Bombeiros trabalhando, isolando a área para ouvir os barulhos que possíveis vítimas poderiam fazer. Então isso me tranquilizou bastante”, revela.
Ele narrou ainda que utilizou a lanterna do celular para indicar a sua presença. “Eles me viram pela lanterna do celular. Tinha um buraco sobre mim, que permitiu a passagem de ventilação e de luz, e foi por lá que eles começaram a quebrar a estrutura de concreto, que estava me envolvendo. Eu informei a minha altura e meu peso e eles abriram na dimensão certa para eu passar. Depois que eu saí, eles pediram calma, pediram que eu respirasse fundo porque até então eu tava com muita fome pelo tempo que passei lá. Mas todo o tempo eles me acalmaram”, destaca.
O primeiro bombeiro militar a alcançar a mão de Davi foi o cabo Moura, que narrou como foi a estratégia das guarnições para retirar o jovem em segurança. “Quando fiz o primeiro contato, eu o acalmei. Com isso, avaliamos qual seria o melhor local para retirá-lo de modo que não abalasse a estrutura. Depois de chegarmos a um consenso de onde concentraríamos nossos esforços, começamos a trabalhar para retirá-lo. E quando ele estava saindo, eu disse: você vai nascer de novo. Graças a Deus deu tudo certo e estamos muito felizes”, explicou o militar, que revelou ter feito uma analogia, no momento do retirada de Davi, entre o seu resgate e ao nascimento de uma criança, quando sai do ventre de sua mãe.
“A todo tempo nós dizíamos: Davi, nós vamos retirar você daí. Tenha paciência. É um trabalho muito demorado, mas nós só vamos sair daqui quando retirarmos você. Então, ele ajudou muito, mantendo a calma, e dizendo cada vez mais que estava vendo a claridade. E isso nos motivava mais ainda”, pontuou o sargento Barroso.
Se a luz do celular do jovem foi utilizada como guia para os bombeiros, a mãe de Davi, Ivoneide Eugênio, definiu as equipes bombeirísticas como a “luz de Deus”. “Quando eu via as equipes lá em cima, eu tinha certeza que vocês o tirariam. Um dos bombeiros chegou perto de mim e disse que eu não me preocupasse, porque as equipes já tinham conseguido dar água a ele (Davi). Naquele momento, eu senti uma felicidade grande. Quando eu o vi saindo, eu me ajoelhei e agradeci a Deus. Quero dizer também que vocês têm um ser lindo dentro de cada um, porque tiveram que lutar ali naquela tragédia, tiveram que nos acolher, e se preparar internamente. Vocês são a luz de Deus e eu estou muito satisfeita e orgulhosa de tê-los aqui com a gente”, disse emocionada.