O empreendedorismo tem conquistado cada vez mais espaço
dentro das universidades cearenses. Na incubação de empresas,
financiamento de pesquisa, desenvolvimento de tecnologia sob demanda ou
por meio de parcerias em capacitação, o capital privado tem sido um dos
caminhos buscados pela academia para fazer com que o conhecimento
produzido nos laboratórios seja transformado efetivamente em soluções
que ganhem o mercado.
Do lado das empresas, a parceria também é interessante. Tanto pela
necessidade de produzir inovação com custos menores do que se tivesse
que fazer por conta própria, de resolver gargalos no processo produtivo -
essencial para se manter competitivo em uma economia globalizada - como
pelo acesso à mão de obra qualificada e especializada.
A união de esforços se faz necessária. O Brasil ocupa a
64ª posição mundial e a 6ª na América Latina no Índice Global de
Inovação. E o Ceará, no ranking nacional, ainda ocupa
colocação intermediária (16ª), embora disponha de uma boa
infraestrutura de Telecomunicações e de qualidade da Pós-Graduação,
segundo o Índice Fiec de Inovação dos Estados 2018, produzido pela
Federação das Indústrias do Estado do Ceará.
As mudanças trazidas pelo Marco Legal de Ciência,
Tecnologia e Inovação, que entrou em vigor em 2016, tem aproximado estes
dois eixos, explica o coordenador de Inovação Tecnológica da UFC,
Rodrigo Porto. "As regras estão mais claras e absorvidas por todas as
partes. E a resistência cultural, de um lado e de outro, tem diminuído, o
que abre espaço para um ambiente mais favorável para inovação".
Em 2018, 28 acordos de parcerias com empresas passaram
pelo Comitê de Inovação Tecnológica da UFC (Comit). Neste ano, foram 20,
até o momento. Embora a maioria dos convênios ainda seja firmada com
grandes empresas, muitas multinacionais - o laboratório com Ericsson na
UFC, por exemplo, tem 20 anos -, Porto explica que já é possível
perceber um aumento do interesse de empresas locais e também de outras
áreas de conhecimento para além do ramo da tecnologia e de fármacos,
onde as parcerias são mais usuais.
"O caso do Netchup, uma espécie de catchup diferenciado
à base de acerola, é emblemático, porque era uma patente que já existia
aqui, nascido de uma pesquisa realizada no Departamento de Engenharia
de Alimentos, e que durante uma aproximação maior com a Fiec despertou o
interesse de uma empresa local, a Frutã, em industrializar. E hoje o
produto está sendo exportado", afirma.
A estruturação dentro das universidades de setores
voltados para inovação também contribui para prospecção de negócios. No
Instituto Federal do Ceará (IFCE), só o Polo de Inovação montado com a
Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) tem hoje
52 parcerias com 56 empresas. Extra polo são mais 18 convênios.
"A busca ativa já ocorria no IFCE desde 2002, mas, com o
Polo de Inovação, isso ficou mais organizado e estimulado dentro do
instituto, tanto entre os professores, como para os alunos", acrescenta.
Ela diz que isso trouxe um ganho e expertise muito
grandes nas pesquisas, na formação, vivência e mesmo para a
empregabilidade dos alunos. "Até porque é interessante para as empresas
absorver aquela mão de obra altamente qualificada que participou do
projeto", afirma a diretora do Polo de Inovação do IFCE, Cristiane
Borges.
O Núcleo de Inovação da Universidade do Estado do Ceará
(Uece) conta com duas empresas parceiras, a ACP e a GBtech, que
promovem o desenvolvimento de pesquisas e inovação. E sete empresas na
Incubauece em processo de incubação, além de uma câmara de inovação. O
vice-coordenador do NIT, Samuel Façanha, explica que há também em curso
uma mudança na grade curricular. Todo curso de mestrado e doutorado
oferecido pela instituição tem, a partir deste semestre, por exemplo, a
disciplina de Empreendedorismo e Inovação Acadêmica. "E que é ofertada
em rede na direção de estimular o empreendedorismo, inovação e a
transferência de tecnologia na Universidade".