O
Ceará é fruto da religiosidade dos povos de terreiro, na região do
Cariri, e das famílias que tiram sustento da atividade extrativista no
Araripe. É também composto de histórias dos ribeirinhos que resistem por
gerações às margens do rio Quixeramobim e dos pescadores que negam a
pesca predatória na região Norte. O fato é que as comunidades
tradicionais são parte da história do estado e, ainda hoje, se mantêm
firmes diante dos conflitos que carregam.
Um
levantamento realizado pelo Ministério Público Federal (MPF) aponta que
14.655 famílias se declaram “povos tradicionais” no Ceará. O balanço
está sendo feito a partir do cruzamento de dados do Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária (Incra), da Fundação Nacional do Índio
(Funai), do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Cadastro
Único.
Numa
série de reportagens especiais, apresentaremos quatro dos sete povos
incluídos no levantamento do MPF: extrativistas, pescadores artesanais,
povos de terreiros e ribeirinhos.
Extrativistas
Consumido
no popular baião-de-dois ou para a produção de óleo, tido como
medicinal, o pequi está presente em quase todas as feiras do Cariri
cearense. O fruto nativo da Chapada do Araripe, símbolo culinário da
região, também é a principal fonte de renda para comunidades de
extrativistas, principalmente nas cidades de Crato, Nova Olinda,
Barbalha e Jardim. No limite entre os dois últimos está a Vila Barreiro
Novo, formada às margens da CE-060, no território da Floresta Nacional
(Flona) do Araripe.
Com
aproximadamente 44 casas, de taipa e alvenaria, a comunidade de
catadores foi se formando ao longo dos anos pela necessidade de renda.
De janeiro a março, período que marca a safra do pequi, mais de 20
famílias se mudam para o meio da floresta para colher o fruto. A maioria
vem do Sítio Cacimbas, no distrito de Novo Horizonte, em Jardim, que
fica a cerca de cinco quilômetros da Vila.
Fora da safra, catadores como Cícero Pedro da Cruz permanecem na comunidade utilizando a Vila como ponto de referência.