A licença de Cid Gomes do
Senado Federal para vir articular o PDT pelo Ceará é exemplo prático de
que a política tem um relógio próprio. Nele, não custa lembrar, os
ponteiros costumam correr mais depressa do que o habitual. Ainda que na
metade do último mês do ano, já é 2020 para quem se preocupa em manter
prefeituras, via eleições e reeleições, e conquistar novos espaços de
poder.
Esta etapa da corrida é de negociação de alianças,
acomodação de interesses, cálculos de movimentos e, principalmente,
definição de prioridades. É neste sentido que a cobiçada Fortaleza,
apesar de protagonista do processo eleitoral que está por vir, permite a
entrada em cena de outros municípios. A importância política e
econômica (ver infográficos) de Maracanaú, Caucaia, Juazeiro do Norte e
Sobral importam nessa equação.
São cidades onde, segundo apurou O POVO, a projeção é a
do tradicional acirramento para o ano que vem. "Temos que ter humildade
e respeitar o adversário. Quem não respeita, pode ser surpreendido",
reconhece o deputado federal Roberto Pessoa (PSDB), ex-prefeito de
Maracanaú e principal cacique político, hoje, no local.
O grupo político do qual Pessoa é líder governa a
cidade metropolitana há 16 anos. É o tucano Firmo Camurça o atual
gestor. É a única cidade dentre as quatro que, hoje, é administrada por
opositores do governador Camilo Santana (PT) e dos irmãos Cid e Ciro
Gomes, os dois do PDT.
Pelo lado da oposição de Camurça, a estratégia para
deter os Pessoa é de unificação e aposta no capital político de Camilo,
nas palavras do deputado estadual Júlio César Filho (Cidadania).
Líder do governo estadual no parlamento e ex-candidato a prefeito da
cidade (2016), Júlio Filho dá a senha sobre o que deve ser a conduta de
Camilo na cidade. "Sem dúvida, ele se dedicará a municípios onde não
existem grupos aliados ao seu projeto e priorizará, desde presença como
apoio, aqueles municípios onde um é aliado e o outro não é."
O deputado argumenta que o acúmulo de anos do grupo de
Pessoa no poder gera desgaste junto à população. Pessoa até concorda
quanto ao desgaste em função do tempo, não sem frisar que as "pesquisas
mostram que nós somos aprovados e isso aumenta as chances de o grupo
permanecer no poder."
O POVO apurou que um dos movimentos da oposição seria o
de trazer para si o Partido dos Trabalhadores (PT), atualmente na base
de Camurça (o tucano já foi petista). Hoje, a legenda tem, inclusive,
uma secretaria na gestão, a de Juventude e Lazer, gerida por Daniel
Holanda Baima, filiado ao partido de Camilo. Pessoa, porém, nega tudo
isso.
Muitas pré-candidaturas, mas tendência de unificação
Os cenários em Caucaia e Juazeiro do Norte se
assemelham, se vistos à luz de alguns aspectos. Dois prefeitos não
pedetistas estão no arco de aliança de Camilo Santana e Cid Gomes, Naumi
Amorim (PSD) e Arnon Bezerra (PTB), respectivamente. Além disso, os
dois estão no curso da primeira gestão e poderão disputar a reeleição.
Durante
inauguração da nova sede do PDT, Cid foi enfático na defesa de que,
nesses casos, a orientação é a de apoiar reeleição dos aliados - também
como modo de inspirar apoios ao PDT em outros municípios, a exemplo de
Fortaleza. O agora presidente da agremiação, porém, adicionou
condicionante: "quem está na administração, merecendo a aprovação da
população, deve ter da gente, mesmo que não seja do PDT, atenção."
É
aí que os dois casos voltam a apresentar semelhanças entre eles. Arnon
Bezerra é acusado de ter usado a Prefeitura para favorecer campanha do
filho, Pedro Bezerra (PTB), eleito ano passado para uma das vagas
cearenses à Câmara dos Deputados.
Naumi, por sua
vez, é alvo de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura suposta
falsidade na decretação de Estado de Emergência na cidade. O
dispositivo permite a contratação de funcionários sem licitação.
A
oposição em Caucaia se agita com a eleição, mas não se movimenta em
torno de nenhum nome. Hoje, existem os projetos do deputado estadual
Vitor Valim (Pros) e da vereadora Emília Pessoa (PSDB), além de Natecia
Campos, rompida com o prefeito e presidente da Câmara Municipal de
Caucaia, por exemplo.
"Se não houver a unificação, a
oposição vai ter esses candidatos. Mas, tenho esperança de que possamos
ter candidatura única da oposição. Quem estiver melhor colocado, que
esse nome seja o da oposição", opinou Valim sobre a cidade. O
apresentador televisivo tinha título eleitoral em Fortaleza, mas alterou
para o município com fins eleitorais. O movimento desagradou Deuzinho
Filho, ex-Pros e então candidato de Capitão Wagner. Filho permanece
pré-candidato, agora pelo MDB de Eunício.
O Partido
dos Trabalhadores também trabalha a possibilidade de apresentar
candidato, o que jogaria Camilo Santana no campo da neutralidade, já que
aliado de Naumi e filiado ao PT. Um dos nomes discutidos para a corrida
é o do deputado estadual Elmano de Freitas.
O PT
também quer retomar Juazeiro do Norte, governada por Dr. Santana entre
2009 e 2012. Pela conexão que tem com o Cariri, o vice-presidente da
Assembleia, Fernando Santana (PT), é especulado. O discurso dele, porém,
é de alinhamento com Cid. Ressalta que há que haver "profunda conversa
com o grupo e com a população". Eleitor em Barbalha, ele precisaria
transferir o domicílio para disputar.
A candidatura,
então, só seria posta se fruto de consenso. "Onde nós temos aliados, ou
seja, da base do governo, e nós também estamos na base do prefeito, por
que lançar candidato contra?", pontua. Se o PDT resolvesse ter
candidato, teria o nome do construtor Gilmar Bender, que já tentou o
cargo em 2016.
Além de Santana, outro membro da Assembleia também deverá pedir votos em Juazeiro, o tucano de primeiro mandato Nelinho.
O Povo