O período correspondente entre o fim de dezembro e início de janeiro era
celebrado, por pelo menos 200 agricultores e trabalhadores rurais,
devido ao robusto volume da colheita de arroz na bacia do Açude Orós. As
boas safras, no entanto, ficaram no passado. Se em 2012 a área de
cultivo se aproximou aos dois mil hectares, neste ano, caiu para menos
de 80. A perda de volume de água no segundo maior reservatório do Estado
é o motivo para a queda substancial.
"A água está muito distante das terras, não é viável economicamente, por
isso, quase todos desistiram da atividade", explica o presidente do
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguatu, Evanilson Saraiva. Ele
acrescenta que "nos últimos três anos a produção de arroz praticamente
acabou".
O impacto dessa redução é sentida diretamente na economia local. Com a
queda na renda das famílias de agricultores, o comércio varejista na
cidade apresentou retração nos últimos anos, conforme a Câmara de
Dirigentes Lojistas (CDL) de Orós.
Resistência
A alternativa que um pequeno grupo de produtores encontrou foi perfurar
poços no leito do Rio Jaguaribe, dentro da bacia do Orós, para tentar
manter a atividade. Na localidade de Baixas, oito agricultores estão
conseguindo cultivar 75 hectares. No fim de dezembro, foram colhidas 120
toneladas. Número considerado pequeno em comparação a anos anteriores.
Em 2012, a produção estimada de arroz irrigado na bacia, segundo o
escritório regional da Ematerce, foi de duas mil toneladas. No ano
seguinte, foram colhidas mil toneladas do grão em casca, o que
representa queda de 50%.
Em temporadas posteriores houve baixas sucessivas, até chegar em 2019,
ano em que a produção não ultrapassou 130 toneladas - sendo a maior
parte colhida na localidade de Baixas. O agrônomo da Ematerce, Jaime
Uchoa, lembra que a bacia do Açude Orós e as várzeas do Rio Jaguaribe em
Iguatu e Quixelô formavam uma das maiores áreas de produção de arroz
irrigado no Ceará. "Gerava centenas de empregos e renda no campo",
afirma. "Nesta época do ano, entre dezembro e janeiro, os produtores
tinham trabalho e dinheiro no bolso, mas infelizmente acabou, hoje é
outra realidade".
A esperança dos rizicultores é de que as chuvas, escassas nos últimos anos, retornem.
Lindomar Rodrigues