Prognósticos políticos são sempre delicados, dado a quantidade de variáveis envolvidas na análise, bem como da possibilidade da ocorrência dos chamados “cisnes negros”, eventos completamente improváveis ou inesperados que, em regra, estavam fora da linha analítica dos cientistas políticos.
O atual cenário nacional de polarização entre Lula e Bolsonaro, ou melhor, entre o lulismo e o bolsonarismo apresenta circunstâncias que, tratadas com zelo analítico, podem indicar uma disputa em 22 sem nenhum dos dois figurões presentes.
O caso de Luiz Inácio é bem objetivo: ou o STF reconhece a imparcialidade de Moro e anula o processo do triplex, ou o líder petista, mesmo livre, continuará inelegível em razão da Lei do Ficha Limpa. Seu Jair da casa 58, por outro lado, vive o seguinte imbróglio: as investigações criminais sobre o extermínio da vereadora Marielle Franco podem atormentar o seu mandato a ponto de inviabilizá-lo. De outra banda, a demora demasiada numa recuperação econômica que seja capaz de gerar emprego, distribuir renda e irrigar financeiramente programas e ações governamentais no cinturão de proteção dos mais pobres tende a desidratar a popularidade do militar ao ponto de deixá-lo muito pouco competitivo em um novo pleito.
Nos dois casos as possibilidades estão abertas e os cenários pouco definidos. Bolsonaro está rodeado pelos fantasmas de Doria, Witzel e Moro como competidores eleitorais a direita, enquanto Lula vê Ciro Gomes dividir o eleitorado progressista a sua esquerda.
É justamente nesse ponto que surge Camilo Santana. O petista cearense vêm ganhando projeção nacional em razão dos números impressionantes da educação da terra alencarina, do sucesso do Pacto Por um Ceará Pacífico – política de segurança pública que vem sendo tratada com case de sucesso por vários outros governos, pelo destaque no equilíbrio fiscal e, como desdobramento, pela liderança nacional no ranking de investimento público. Ao lado disso tem havido um esforço para elevar a saúde pública e a geração de emprego ao mesmo patamar de excelência das políticas citadas, fechando assim um núcleo propositivo que garante um programa de governo consistente e um discurso nacionalizado, já que educação, segurança, saúde, emprego, investimento público e contas ajustadas são quase sempre os tópicos centrais do debate político presidencial.
Nos últimos meses Santana vem fazendo uma maratona em programas televisivos de abrangência nacional, apresentando esses números, defendendo Lula e respondendo os questionamentos que lhe são dirigidos com a ponderação e serenidade que são peculiares da sua maneira de fazer política.
De mais a mais, a análise sobre uma possível candidatura de Camilo passa pela compreensão da ambivalência da política; explico: aquilo que é o seu ponto fraco, pode ser o seu ponto forte, qual seja – Ciro Gomes.
Evidente que Camilo e os Ferreira Gomes tem ligações umbilicais na política cearense, já que Cid foi o grande eleitor do atual governador na sua primeira eleição. Os interesses em comum de Camilo e dos seus padrinhos políticos no Ceará faz com que as alianças locais os mantenham juntos e dispostos a evitar confrontos diretos (o caso de Juazeiro do Norte é emblemático disso), de modo que uma candidatura do irmão de Cid ao planalto seria um grande empecilho ao voo nacional do atual ocupante do Abolição.
Entretanto, quanto mais Ciro bate em Lula e no PT, mais difícil fica a composição dos palanques cearenses para as eleições municipais de 2020. De outro lado, como efeito colateral, tal circunstância coloca Camilo como uma peça estratégica no tabuleiro petista para desidratar Ciro no seu próprio Estado. Uma possível vitória das forças progressistas em 2022 passa pela composição entre os dois grandes líderes desse campo, Lula e Ciro. Caso isso não ocorra, Lula permaneça inelegível e Ciro cresça nas pesquisas, Camilo Santana pode ser a carta na manga da estrela vermelha.
A hipotética candidatura de Santana pelo PT traria muitíssimas dificuldades a Gomes, já que o atual governador cearense além de ser cria do seu ninho é também o oposto de tudo aquilo que Ciro crítica em Lula: é um jovem político sem envolvimento em denúncias de corrupção, não participa da burocracia do PT – que nas palavras de Ciro está corrompida, não radicaliza no discurso e faz um governo com grandes resultados sociais amparados por uma inegável responsabilidade fiscal.
Nada disso pode acontecer e, ao fim e ao cabo, Lula e Bolsonaro podem bater chapa em 2022 com Ciro correndo por fora ao lado de Doria, como opções de terceira via. Mas o cenário, por tudo que já vimos na política brasileira, não deve ser descartado. Camilo 2022 pode ser pouco provável nesse momento, mas não impossível no desenrolar dos acontecimentos.
*Isaac Luna é advogado, cientista político, escritor e professor universitário.
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