Após seis meses interinamente à frente da
presidência Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o
pesquisador Celso Luiz Moretti foi confirmado na última semana como
titular do cargo pela ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
Tereza Cristina.
Em entrevista à Agência Brasil, Moretti
adiantou que em 2020 a empresa vai continuar com "uma agenda robusta", e
neste sentido três frentes terão prioridade.
Uma delas, a edição genômica permite, por meio das
chamadas tesouras genéticas, editar o DNA de plantas, animais e
microrganismos. Os pesquisadores querem tornar a soja adaptada à seca e
também resistente a uma praga chamada hematóide, uma espécie de verme
que ataca a raiz e mata a soja.
A mesma técnica também é usada para reduzir o problema
do escurecimento do feijão. "Acredito que essa tecnologia substituirá os
transgênicos. Isso vai impactar na questão de barreiras a alimentos que
hoje, por exemplo, não conseguem chegar à Europa por causa da
transgenia", avaliou.
Carbono Neutro
Ainda entre as novidades do próximo ano está o início
do processo de certificação e comercialização de produtos com a marca
conceito Carne Carbono Neutro (CCN). Isso garante que os animais que
deram origem ao produto tiveram as emissões de metano entérico - gás
produzido na digestão dos ruminantes e eliminado pelo arroto dos bichos -
compensadas durante o processo de produção pelo crescimento de árvores
no sistema.
A empresa calculou a quantidade de gases que as vacas
produzem durante seu ciclo de cria, recria e engorda – prejudiciais ao
meio ambiente - e chegou à conclusão que, quando animais de corte ou de
leite são criados em meio a lavoura e árvores, o CO2 e o carbono do meio
ambiente são totalmente neutralizados.
Agricultura digital
Outra prioridade do próximo ano é o investimento em
agricultura digital. "A gente utilizará mais drones, mais sensores, mais
internet das coisas, para que a agricultura brasileira avance a passos
mais largos e mais rapidamente", explicou.
Moretti admitiu que, diferentemente de países como a
China, que apresenta cobertura de internet em 95% de seu território, no
Brasil só 65% das localidades estão conectadas pela rede mundial de
computadores. O otimismo vem da aprovação, este mês, pelo plenário da
Câmara, do projeto de lei (PL 1.481/07, do Senado) que permite o uso de
recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações
(Fust) na área de telefonia móvel.
De acordo com o texto, que ainda precisa de nova
votação no Senado, fica definido que o objetivo do Fust, que arrecada R$
1 bilhão anualmente e já tem acumulados R$ 21,8 bilhões, praticamente
não utilizados para investimentos no setor de telecomunicações, será
usado para estimular a expansão, o uso e a melhoria da qualidade das
redes e dos serviços de telecomunicações para reduzir desigualdades
regionais.
Também poderá ser usado para o uso e o desenvolvimento
de novas tecnologias de conectividade. Programas e projetos para
serviços de telecomunicações e políticas para inovação tecnológica de
serviços dessa natureza, no meio rural e urbano, contarão com recursos
do fundo para melhorar o acesso em regiões com baixo Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) e sem viabilidade econômica.
Currículo
Engenheiro agrônomo, Moretti é pesquisador da Embrapa
desde 1994, quando foi contratado para atuar no Laboratório de Ciência e
Tecnologia de Alimentos da Embrapa Hortaliças, unidade que chefiou
entre agosto de 2008 e março de 2013. Também atuou na sede como chefe do
então Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD), de abril de
2013 a julho de 2017, e depois como diretor de P&D, a partir de
julho de 2017 – cargo que estava acumulando enquanto presidente
interino.