surpreendentes e empoderadas da safra é Geralda Gonçalves, ex-secretária e ex-faxineira radicada há mais de duas décadas nos Estados Unidos. Geigê, como é conhecida, tem intermediado reuniões com Bolsonaro e feito indicações para cargos em órgãos importantes, principalmente no Ministério da Cultura. “Eu tenho mesmo acesso ao presidente”, afirmou uma confiante Geigê a VEJA.
E não é que ela tem o poder? Recentemente, Geigê foi madrinha das nomeações de Roberto Alvim para a Secretaria Especial de Cultura e de Dante Mantovani para a presidência da Fundação Nacional de Artes (Funarte). Seus dois afilhados emergiram ao tablado causando polêmica. Alvim chamou a atriz Fernanda Montenegro de “sórdida” e “mentirosa” e, de quebra, tentou escalar a própria esposa para tocar um projeto de 3,5 milhões de reais em recursos públicos. Já Mantovani sentenciou: “O rock ativa as drogas, que ativam o sexo livre, que ativa a indústria do aborto, que ativa o satanismo” — e ainda emendou dizendo que John Lennon “fez pacto com o diabo”.
Nascida em Minas Gerais, Geigê caiu nas graças da primeira-família da República ao fazer campanha contra o PT e, depois, a favor de Bolsonaro em Nova York, onde mora há mais de vinte anos. Em março de 2015, por iniciativa dela, um dos telões da Broadway — um dos principais pontos turísticos da cidade, sempre apinhado de brasileiros — exibiu a mensagem “Get out, Dilma — and take the PT party with you” (Fora Dilma — e leve o PT com você). Naquela época, Geigê, que começou a aventura americana como faxineira, já tinha uma vida financeira confortável, em razão de seu casamento com um empresário que toca negócios imobiliários nos Estados Unidos e no Brasil. Em março de 2017, foi a vez de o telão mostrar um “We are Moro” (Nós somos Moro), em referência a Sergio Moro, então juiz da Lava-Jato e atualmente ministro da Justiça. A bolsonarista é tão entusiasta do ex-magistrado que se apresenta até hoje como Geigê Gonçalves Moro.
Quando Dilma e o MDB ocupavam o poder, Geigê fez muitas vezes protestos solitários e de pouca repercussão. A situação começou a mudar quando, em outubro de 2017, o telão da Broadway mostrou uma imagem de Jair Bolsonaro, com os dedos em sinal de o.k., ao lado da própria Geigê. Estava semeada a parceria. A partir dali, ela passou a ciceronear a família e a divulgar a agenda de campanha de Bolsonaro no exterior. Numa demonstração de fidelidade explosiva às bandeiras personificadas pelo capitão, Geigê chegou a tirar selfies quando descarregava dezenas de tiros com dois revólveres Magnum calibre .44 em bonecos do pixuleco de Lula.
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Com a vitória na campanha, a cabo eleitoral americana ganhou espaço
no governo que se formava. Suas sugestões de nomes começaram a ser
feitas durante a transição. “Indiquei praticamente oito secretários”,
calcula Geigê. Um deles foi Jorge Seif Júnior, expoente de uma família
dona de barcos de pesca, para a Secretaria de Aquicultura e Pesca. O
nome de Seif Júnior, cuja família foi multada por pesca ilegal,
enfrentou a resistência da ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
Numa mensagem de áudio a que VEJA teve acesso, Geigê contou a história
nos seguintes termos: “Eu passava tudo para o Bolsonaro: ‘Ô, presidente,
a ministra Tereza Cristina mandou o Júnior ir para Brasília, chegou lá,
pagou avião e tudo, ela mandou ele voltar (…) Ela não está querendo dar
o cargo para Júnior. Ela está querendo dar para o partido, para a turma
do partido dela’ ”. Tudo leva a crer que a pressão da ex-faxineira
funcionou.Foi na Secretaria Especial da Cultura que Geigê fez mais nomeações. Além de Roberto Alvim, ela indicou os secretários de Economia Criativa, de Infraestrutura e de Fomento. “O Bolsonaro enxerga quem realmente está trabalhando. Por sinal, ele me falou: ‘Eu dei carta branca para o Alvim, vai ficar lá no guarda-chuva lá do ministério, porém o Alvim vai ter toda a carta branca para resolver o que quiser’”, disse Geigê numa conversa gravada. “As pessoas que estou indicando são as pessoas do Olavo de Carvalho”, completou, referindo-se ao guru da família presidencial.
A nomeação de Alvim é elucidativa. O então candidato a secretário primeiro enviou uma mensagem à sua madrinha, que a encaminhou posteriormente a Bolsonaro. O texto de Alvim dizia o seguinte: “Estou com uma equipe de excelência pronta para agir, de modo rápido e eficaz. Só espero suas ordens. Quem está lá agora não sabe o que fazer”. De seu celular, o presidente respondeu diretamente a Geigê: “Está tudo certo para o Alvim assumir a Cultura. A última conversa foi ontem”. Ela agradeceu a Bolsonaro e acrescentou um P.S.: “Forte abraço de sua sentinela em NY. Ajudarei o Alvim nas escolhas de pessoas preparadíssimas para a Cultura”.
Ao que parece, Geigê também tem poder para demitir. Ex-secretária de Audiovisual, Katiane Gouvêa perdeu o cargo sob a alegação de que usara dinheiro do fundo eleitoral, em sua campanha para deputada federal, em uma empresa da própria família. A VEJA, Katiane disse que caiu, entre outros motivos, porque se recusara a aceitar indicações feitas pela sentinela de NY para a Secretaria Especial da Cultura. Entre elas, uma para a área de licitação da pasta. “Estou aguardando aqui dois currículos da licitação. Já tem um, mas eu vou dar prioridade para o do André, aqui de Nova York, que está me indicando. O Andrezinho é um menino de ouro”, disse Geigê em áudio enviado à cúpula da Secretaria de Cultura. Sobre a acusação da ex-secretária de Audiovisual, Geigê limita-se a dizer que confiava em Katiane, sem entrar em detalhes sobre a demissão. “Eu repassava as informações para a Katiane repassar para os secretários”, afirma.
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