O Nordeste Brasileiro deve
ter muita admiração e gratidão ao “Açude do Cedro”, considerando o que
representou a sua construção para os nordestinos, que sofriam horrores
nos período das grandes estiagens.
As secas, do período de 1877/1879,
criaram quadros desoladores. Além de epidemias que ceifaram vidas de
milhares de nordestinos, nosso criatório foi praticamente dizimado.
O clamor foi tamanho que o eco dos
gemidos chegou ao palácio imperial. D. Pedro tomou rápidas e objetivas
medidas, visando socorrer os flagelados das secas. Constituiu a
“Comissão de Engenheiros”, para visitar o Nordeste e elaborar programas
capazes de amenizar o sofrimento dos nordestinos.
No Ceará, a Comissão foi chefiada pelo
Dr. Antônio Ernesto Lassance da Cunha, sugerindo a construção de açudes,
a fim de barrar os rios, com projetos de irrigação. Como início do
programa, após visitar outras regiões da província, foi escolhido a
“Boqueirão do Cedro” como local para construção de uma grande barragem.
O relatório do Dr. Lassance foi
endossado pelo engenheiro inglês Dr. J. J. Revy, especialista em
irrigação na Argentina e na Austrália, onde foi buscar o Governo
Imperial para chefiar a “Comissão de Açudes”, criada em 1880, entidade
que, através de sucessivas mudanças nas siglas, transformou-se no atual
DNOCS.
A construção do Açude do Cedro
contribuiu para o desenvolvimento do nordeste, porque, aqui, nasceu o
DNOCS, órgão de inestimáveis serviços prestados à região assolada pelas
secas.
O quixadaense, em especial, deve ter
muita gratidão, reconhecendo o que representou a construção da famosa
barragem do Cedro para o nosso desenvolvimento cultural, social e
econômico.
A Comissão de Açude, em Quixadá,
construiu o alicerce base para o nosso desenvolvimento. Lançou a semente
da cultura no terreno fértil da modesta vila, recém-desmembrada de
Quixeramobim. Fundou a primeira escola de qualidade em Quixadá, nos
moldes das grandes colégios existentes na Província. Promoveram eventos
literários de alto nível, abordando temas históricos, inclusive atuações
dos Governadores Gerais do Brasil. Para adubar a árvore cultural
plantada, organizou uma biblioteca, onde funcionavam cursos noturnos,
com programa de alfabetização para jovens e adultos.
Como reflexo do incentivo à área
cultural, surgiu o primeiro jornal de Quixadá “O Matuto” em 1896,
editado por quixadaenses, seguindo-se o jornal “O Açude”, de
responsabilidade da própria Comissão.
A economia da pequena vila também foi
revolucionada. O grande número de operários trabalhando nas obras da
barragem fez girar recursos para o crescimento do comércio, instalações
de albergues, construções de moradias, proporcionando o rápido
crescimento da vila, que, alcançando tanto destaque dentre as demais da
região, foi erigida à cidade em 1889.
A parte social acompanhou a modernização
da modesta vila. Um clube foi fundado, promovendo festas familiares,
contando com a participação da banda do “mestre” Pedro Feitosa,
considerada a melhor de toda a região. As damas, elegantemente trajadas,
exibiam a influência da moda europeia.
A estrutura urbana da Vila também foi
beneficiada. Além do projeto da nossa Catedral, Dr. Revy também traçou a
planta inicial de nossa cidade, planejando o centro com ruas largas e
alinhadas, já prevendo a circulação de veículos por vias de fácil
acesso. Isto fez a diferença de Quixadá com as demais cidades de sua
época, porque quase todas têm o centro com as ruas muito estreitas, e,
geralmente, tortuosas.
O nosso belo Açude do Cedro, que tanto
representou para o Nordeste, para o Ceará e, especialmente para nossa
Quixadá, está em completo abandono.
Em 1984, quando o IPHAN concretizou o
processo de tombamento, passou o Açude do Cedro a ser considerado
“Patrimônio Nacional”. Ficamos eufóricos porque acreditávamos que iria
passar por um processo eficiente de conservação. Em seu torno,
construída uma estrutura para receber centenas de turistas que nos
visitam, atraídos pela majestosa obra, projetada no período do Brasil
Império.
Entristecemos e nos revoltamos com o
estado de abandono em que se encontra o importante patrimônio Histórico
Nacional. Para que o Cedro foi inscrito no Livro Arqueológico
Etnográfico e Paisagístico e no Livro das Belas Artes? Se para
determinar esse desprezo e deixar ruir os prédios que embalaram o
nascimento do DNOCS, órgão que merece todo o nosso respeito foi uma
medida injustificável e profundamente LAMENTÁVEL.
João Eudes Costa
Sertão Alerta