Atualizada pela última vez em 2015, a tabela do Imposto de Renda (IR)
acumula defasagem de 103%, de acordo com levantamento do Sindicato dos
Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco). Caso corrigida
integralmente pela inflação, o limite de isenção passaria dos atuais R$
1.903,98 para R$ 3.881,65. Apenas no Ceará, 246.718 contribuintes
deixariam de pagar o IR, correspondente a 38,13% do total de
contribuintes cearenses. Para o diretor técnico do Sindifisco, a
atualização deixaria o modelo mais justo para as classes econômicas,
tributando proporcionalmente os mais ricos e os mais pobres.
O número foi revelado pela Receita Federal com base nas declarações
enviadas em 2019. Os contribuintes que declararam salários com valores
entre o atual limite de isenção e o previsto pelas correções somam os
mais de 246 mil contribuintes, que deixariam de pagar o Imposto de
Renda.
O diretor técnico do Sindifisco no Ceará, Marcelo Lettieri, lembra que a
não atualização prejudica, principalmente, os mais pobres. "Com o
aumento da renda por conta da inflação, eles acabam saindo do limite de
isenção, entrando na primeira faixa e pagando Imposto de Renda", afirma.
Ele pontua que uma das justificativas do Governo para a defasagem é a
resistência de reajustar a tabela de acordo com um indicador. "A
justificativa é evitar qualquer tipo de indexação, ou seja, atrelar a
tabela do Imposto de Renda à inflação. Essa é a posição do Governo", diz
Lettieri.
O diretor técnico do Sindifisco ainda destacou um estudo elaborado pela
Associação Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil
(Anfip) e Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco)
em que é proposta uma atualização da tabela do Imposto de Renda. Ele
detalha que a faixa de isenção subiria para ganhos mensais de até quatro
salários mínimos.
Valor bem próximo ao salário mínimo do Dieese (Departamento
Intersindical de Estatística Estudos Socioeconômicos), de R$4.342,57
segundo o último levantamento divulgado. Os trabalhadores até esse valor
estariam isentos", detalha Marcelo Lettieri.
Para compensar a perda arrecadatória, ele afirma que haveria um aumento de alíquotas de faixas superiores.
"Mas para fazer esse aumento de alíquota de faixas superiores, você tem
que igualar a renda do capital com a renda do trabalho. Porque quem, por
exemplo, recebe lucros e dividendos, não paga Imposto de Renda",
reforça.
Lettieri explica que só aumentar as alíquotas acabaria abrangendo apenas
servidores públicos com salários maiores, porque a maioria das pessoas
em empresas privadas "recebem como pessoa jurídica, a chamada
'pejotização'".
"Em síntese, o que a gente defende é uma nova tabela do Imposto de
Renda, mas igualando renda do trabalho e renda do capital. Ou seja, todo
rendimento de pessoa física iria para a tabela do Imposto de Renda,
independentemente da sua origem. Benefícios tributários que forem dados
seriam dados a nível de empresa, não de pessoa física, mais ou menos
como é nos Estados Unidos, que eles chamam de Sistema de Integração
Amplo", destaca o diretor técnico do Sindifisco no Ceará.
Impactos
Ainda pela proposta elaborada e defendida pelos auditores fiscais, as
mudanças duplicariam a arrecadação nacional do Imposto de Renda,
fazendo-a passar de R$ 154 bilhões para R$ 339 bilhões. A participação
do Imposto de Renda também apresentaria significativo avanço, de 2,52%
para 5,17%.
Lettieri estima que, com a elevação da faixa de isenção, cerca de R$ 16
bilhões deixariam de ser pagos como Imposto de Renda e seriam injetados
diretamente na economia como gastos dos próprios contribuintes.
Faixas de renda
A proposta da Anfip e Fenafisco prevê que contribuintes com ganhos
mensais maiores que quatro salários mínimos e até sete salários paguem
alíquota de 7,5%. Já os que ganham mais que sete salários até dez
salários, o percentual seria de 15%. Quem ganhar mais de dez salários
até 15 salários, 22,5%. De 15 salários mínimos a 40, a alíquota seria de
27,5% - a contribuição máxima atual. A proposta ainda prevê
contribuição de 35% para quem ganha mais de 40 salários até 60 mínimos.
Rendimentos maiores seriam tributados em 40%.
Aplicadas as mudanças, cerca de 38,5% dos declarantes brasileiros, ou
10,6 milhões, seriam isentos e outros 48,7% - 13,4 milhões de pessoas -
pagariam alíquotas menores que as atuais. A tabela progressiva elevaria a
tributação para apenas 2,73% dos declarantes, cerca de 750 mil
contribuintes, que recebem mais de 40 salários mínimos mensais.
Sonegação
Para evitar a sonegação do Imposto de Renda, a Receita Federal revela
que há um sistema que engloba inúmeras informações, chamado Receitadata.
A partir do sistema, o órgão tem acesso a dados bancários, financeiros,
cartoriais, de notas fiscais, contábeis, entre outros. As informações
são cruzadas e, a partir do procedimento, são feitos o levantamento dos
contribuintes que interessam à fiscalização.