Parque das Dunas da Sabiaguaba tem 14 anos desde criação, mas segue com dificuldades de preservação em Fortaleza

Blog do  Amaury Alencar


FORTALEZA, CE, BRASIL, 27-12-2019: Clenilson Silva, Atleta de Sandboard profissional. Sandboard na Duna da sabiaguaba. (Foto: Aurelio Alves/O POVO)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 27-12-2019: Clenilson Silva, Atleta de Sandboard profissional. Sandboard na Duna da sabiaguaba. (Foto: Aurelio Alves/O POVO)
Estando dentro do Parque Natural Municipal das Dunas de Sabiaguaba e da Área de Proteção Ambiental de Sabiaguaba (APA de Sabiaguaba), a prática do sandboard é parte de cenário que deveria ser de preservação da natureza, mas, conforme entidades e estudiosos, a realidade é outra. Este ano, o parque completa 14 anos desde a criação. Já o plano de manejo — documento que deveria nortear ações de conservação da área — perfaz dez anos desde a publicação, e, em grande parte, ainda não foi executado. 

"O plano de manejo foi feito, o conselho gestor foi feito, muitas reuniões foram feitas, mas, na verdade, ele (o plano) não saiu do papel. Coisas simples e básicas, como sinalização. Nunca foi colocado uma placa, uma fiscalização mais efetiva da área como um todo, não somente da área de dunas, da APA como um todo, não se tem", comenta Rusty de Castro Sá Barreto, diretor e fundador do Ecomuseu Natural do Mangue, membro do conselho gestor.

Para Beatriz Azevedo, advogada do Instituto Verdeluz — que também atua na área e tem cadeira no conselho —, o plano, "com mais de 200 ações", nunca "foi de fato efetivado". "São dez anos de plano de manejo sem efetivação: é um conselho gestor que se reúne, mas que, infelizmente, não existe operacionalização das soluções que são propostas quando são propostas por conselheiros", aponta.
Coordenador científico do documento, Jeovah Meireles, professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Ceará (PPGG-UFC), aponta que o custo da falta de aparelhamento do plano é a degradação ambiental.

"Está completamente entregue aos veículos de tração, que estão pisoteando áreas de nidificação de aves, de reprodução de tartarugas, estão fragmentando lagoas, compactando o solo, levando a problemas de contaminação. Além disso, há a subida de centenas de pessoas, multidões que sobem às dunas para atividades, como de igrejas, isso leva ao deslocamento daquela parte que chamamos de 'face de avalanche', e também ao acumulo de resíduos deixados na área".

O professor ainda lembra a existência de sítios arqueológicos pré-Tupis, com cerâmicas encontradas datadas de mais de 3,5 mil anos. "É uma verdadeira biblioteca de achados arqueológicos de várias gerações que estão sendo destruídos por esses veículos (de tração, que circulam nas dunas). É preciso proteger, conservar, preservar esses sítios, e orientar visitas guiadas, para que a sociedade possa conhecer o único campo de dunas com esse conteúdo ecológico, arqueológico, geológico, paleontológico na nossa região", aponta. Especulação imobiliária, construções irregulares e mercantilização de espaços que deveriam ser de proteção também são problemas indicados pelos três.
"A Sabiaguaba é vital para o Município. Ela está ali prestando serviços ecossistêmicos que toda a população se beneficia e às vezes nem sabe. A cidade é cortada pelo rio Cocó, cuja foz fica na Sabiaguaba, e é a Sabiaguaba que ajuda na manutenção desse ecossistema", detalha Azevedo. 

Meireles ainda indica ainda a importância dos lençóis freáticos, protegidos pela formação dunar da área.

Para Meireles, existe uma série de ações urgentes a sair do papel: cercar o parque; construir portais de entrada e centro de recebimento de ecoturistas, estudantes e visitantes; efetivar monitoramento; proibir "terminantemente" a entrada de veículos motorizados e inserir a comunidade nas atividades econômicas, como a formação de guias turísticos, de condutores de trilhas. Para Azevedo, é preciso implementar fiscalização contínua efetiva e adequada a realidade da área. Rusty acredita que uma política intensa e perene de educação ambiental precisa ser empreendida.

"A Sabiaguaba já é protegida por lei municipal, estadual e federal. O que tá precisando é que as pessoas conheçam de fato o quão importante são essas áreas. Não somente vendo elas como áreas para práticas de esportes, turismo, lazer. Ali, têm animais silvestres, marinhos, terrestres, alados, tem flora nativa. É preciso entender que são espaços de vida", ensina Rusty. 


o Povo