Estando dentro do Parque Natural Municipal
das Dunas de Sabiaguaba e da Área de Proteção Ambiental de Sabiaguaba
(APA de Sabiaguaba), a prática do sandboard é parte de cenário que
deveria ser de preservação da natureza, mas, conforme entidades e
estudiosos, a realidade é outra. Este ano, o parque completa 14 anos
desde a criação. Já o plano de manejo — documento que deveria nortear
ações de conservação da área — perfaz dez anos desde a publicação, e, em
grande parte, ainda não foi executado.
"O plano de manejo foi feito, o conselho gestor foi
feito, muitas reuniões foram feitas, mas, na verdade, ele (o plano) não
saiu do papel. Coisas simples e básicas, como sinalização. Nunca foi
colocado uma placa, uma fiscalização mais efetiva da área como um todo,
não somente da área de dunas, da APA como um todo, não se tem", comenta
Rusty de Castro Sá Barreto, diretor e fundador do Ecomuseu Natural do
Mangue, membro do conselho gestor.
Para Beatriz Azevedo, advogada do Instituto Verdeluz —
que também atua na área e tem cadeira no conselho —, o plano, "com mais
de 200 ações", nunca "foi de fato efetivado". "São dez anos de plano de
manejo sem efetivação: é um conselho gestor que se reúne, mas que,
infelizmente, não existe operacionalização das soluções que são
propostas quando são propostas por conselheiros", aponta.
Coordenador científico do documento, Jeovah Meireles,
professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade
Federal do Ceará (PPGG-UFC), aponta que o custo da falta de
aparelhamento do plano é a degradação ambiental.
"Está completamente entregue aos veículos de tração,
que estão pisoteando áreas de nidificação de aves, de reprodução de
tartarugas, estão fragmentando lagoas, compactando o solo, levando a
problemas de contaminação. Além disso, há a subida de centenas de
pessoas, multidões que sobem às dunas para atividades, como de igrejas,
isso leva ao deslocamento daquela parte que chamamos de 'face de
avalanche', e também ao acumulo de resíduos deixados na área".
O professor ainda lembra a existência de sítios
arqueológicos pré-Tupis, com cerâmicas encontradas datadas de mais de
3,5 mil anos. "É uma verdadeira biblioteca de achados arqueológicos de
várias gerações que estão sendo destruídos por esses veículos (de
tração, que circulam nas dunas). É preciso proteger, conservar,
preservar esses sítios, e orientar visitas guiadas, para que a sociedade
possa conhecer o único campo de dunas com esse conteúdo ecológico,
arqueológico, geológico, paleontológico na nossa região",
aponta. Especulação imobiliária, construções irregulares e
mercantilização de espaços que deveriam ser de proteção também são
problemas indicados pelos três.
"A Sabiaguaba é vital para o Município. Ela está ali
prestando serviços ecossistêmicos que toda a população se beneficia e às
vezes nem sabe. A cidade é cortada pelo rio Cocó, cuja foz fica na
Sabiaguaba, e é a Sabiaguaba que ajuda na manutenção desse ecossistema",
detalha Azevedo.
Meireles ainda indica ainda a importância dos lençóis
freáticos, protegidos pela formação dunar da área.
Para Meireles, existe uma série de ações urgentes a
sair do papel: cercar o parque; construir portais de entrada e centro de
recebimento de ecoturistas, estudantes e visitantes; efetivar
monitoramento; proibir "terminantemente" a entrada de veículos
motorizados e inserir a comunidade nas atividades econômicas, como a
formação de guias turísticos, de condutores de trilhas. Para Azevedo, é
preciso implementar fiscalização contínua efetiva e adequada a realidade
da área. Rusty acredita que uma política intensa e perene de educação
ambiental precisa ser empreendida.
"A Sabiaguaba já é protegida por lei municipal,
estadual e federal. O que tá precisando é que as pessoas conheçam de
fato o quão importante são essas áreas. Não somente vendo elas como
áreas para práticas de esportes, turismo, lazer. Ali, têm animais
silvestres, marinhos, terrestres, alados, tem flora nativa. É preciso
entender que são espaços de vida", ensina Rusty.
o Povo