O início da quadra chuvosa no Ceará renova a esperança de produção de
grãos e de outras culturas que compõem a cesta de alimentos do
sertanejo. A esperança também é de que ocorra recarga dos pequenos e
médios açudes, que, junto com o repovoamento dos reservatórios, vai
assegurar a produção de pescados de água doce, enriquecendo as mesas dos
agricultores e dos pescadores artesanais.
Nos últimos sete anos, não tem sido fácil enfrentar o segundo semestre,
período de escassez de chuva e de reserva alimentar. "Os grãos
armazenados vão se acabando na dispensa e os açudes secos dão pouco
peixe", observou o secretário de Agricultura de Cedro, Manoel Bezerra.
Muitos avanços ocorreram nas duas últimas décadas, melhorando a
qualidade de vida das famílias no campo, mas ainda há dificuldades com
relação à produção, que depende de chuva. "Há muitas famílias que sofrem
com a falta de alimentação", observa o padre João Batista Moreira. "Sem
chuva, não há produção e isso traz dificuldades para os mais pobres".
Água doce
A presidente da Colônia de Pescadores de Iguatu (Z 41), Neide de França
Chaves, entidade que tem 250 associados, destaca a importância de lagoas
e açudes estarem cheios para a produção de pescado. "A pesca para o
consumo próprio é uma estratégia de sobrevivência no campo", pontuou.
"Durante muitos anos vivi com minha família da pesca, na lagoa de Iguatu
e em açudes", lembra.
Segundo o diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguatu,
Evanison Saraiva, até em açudes grandes como o Trussu e Orós, o baixo
volume deixou muitos sem trabalho e renda. "Os moradores ribeirinhos
estão sofrendo, faz tempo, sem ocupação, sem ganho, porque não há
pesca", afirmou.
Peixamento
A Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) ampliou neste ano o
programa de peixamento de açudes públicos e comunitários. A produção
estimada é de 1.200 toneladas de pescado, com distribuição total de 5,5
milhões de alevinos em mais de mil reservatórios, beneficiando 60 mil
famílias.
Até o próximo mês de março, a Coordenadoria de Desenvolvimento da Pesca e
Aquicultura Familiar (Codea/SDA) deve concluir os 35,3% restantes do
projeto, lançado em outubro de 2019. O órgão espera crescimento de 25%
do pescado em relação ao ano passado, quando foram distribuídos 3,5
milhões de alevinos em 631 açudes públicos e de áreas de assentamento de
72 municípios, com produção de 900 toneladas.
Investimento
De acordo com o secretário do Desenvolvimento Agrário, Francisco de
Assis Diniz, a expectativa é gerar, em até cinco meses, boa produção.
"Considerando que o peixe é comercializado na 'beira d'água' por R$
5,00/kg, podemos dizer que esta produção injetará R$6 milhões na
economia do Estado, uma vez que investimos R$ 800 mil à efetivação deste
projeto", explica Diniz.
Em Cedro, que recebeu 150 mil alevinos de tilápia, os pescadores estão
confiantes. "Sempre pesquei mas, desde 2015, fui obrigado a parar porque
a produção se acabou", contou Pedro Alves, da localidade de Morada
Nova, que está disposto a recomeçar.
"Vi o pessoal colocando no açude os filhotes de peixe e agora só resta
rezar e ter fé que vamos ter um bom inverno. Neste ano quero voltar a
pescar".
Elenir Morais já começou a recuperar e a fazer novas redes. "Depois
desses anos ruins, vamos ter água na roça, nos açudes e peixe na mesa".