O desafio do combate ao coronavírus no Ceará, 15 dias depois dos primeiros casos

Blog do  Amaury Alencar


Fortaleza em 26 de março de 2020, Movimentacao na entrada da UPA do Jangussu. (Foto Fabio Lima)
Fortaleza em 26 de março de 2020, Movimentacao na entrada da UPA do Jangussu. (Foto Fabio Lima)
Há 15 dias, o Ceará registrava os três primeiros casos do novo coronavírus. De lá para cá, o Estado passou a 282 - apenas da quinta para a última sexta-feira, foram 44 novos registros da doença, que matou três pessoas em solo cearense.

Embora a letalidade da infecção ainda seja considerada baixa pelo Ministério da Saúde (1,1%), o Ceará lidera no Nordeste em números de infectados. No País, é o terceiro colocado, atrás apenas de Rio de Janeiro e São Paulo.

Titular da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Carlos Alberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Cabeto, tem diagnóstico pronto para a curva crescente de acometidos pela Covid-19. "O Ceará, com as medidas e notificação exemplar, tem conseguido rastrear as rotas de contaminação e essa ascensão do número de casos se mostra menor", avalia o médico.

As medidas a que o secretário se refere são as que, segundo ele, têm surtido efeito no combate à pandemia, como o isolamento social, a suspensão das atividades comerciais e o máximo de distanciamento possível.

Adotadas pelo governador Camilo Santana (PT) desde o início da crise sanitária, as ações explicariam o alto contingente de pessoas cujos testes tiveram resultado positivo para o coronavírus. A maior parte, diz o secretário, se concentra nos bairros mais ricos, como Aldeota, Dionísio Torres, Papicu e Meireles.

"Se você tira essas limitações, vai ter um trânsito muito grande do Meireles para bairros mais distantes, e isso acaba fazendo uma transmissão direta para áreas mais vulneráveis", acrescentou Cabeto.
Na quinta-feira (26), por exemplo, apenas a UPA do bairro Itaperi realizou 15 testes para Covid-19 e os enviou ao Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen). Localizada numa região mais periférica da cidade, a unidade tem sido bastante procurada, contou a assistente social Danielle Cláudia. A partir desta semana, a Prefeitura de Fortaleza irá construir mais 20 leitos no estacionamento.
Naquele dia, O POVO circulou por outras UPAs da capital cearense para levantar quantos testes cada uma vinha executando por dia. O objetivo era confirmar a alta testagem de pacientes suspeitos. Nos locais, porém, não havia dados suficientes sobre o quantitativo.
Procurada, a assessoria do Sesa disse que caberia à Prefeitura disponibilizar os dados. A assessoria do Paço, por sua vez, informou que era a Sesa a responsável pelo controle estatístico.
Neste domingo, Camilo, que já providenciou novo lote de kits para testes para coronavírus, deve reunir equipes técnicas a fim de apresentar planejamento para os próximos dias. Na mesa do governador, outro item importante: a possibilidade de prorrogar o decreto que interrompeu o funcionamento de shoppings, bares, restaurantes e academias, além do transporte intermunicipal.
A norma incluía ainda a inspeção de passageiros que chegam pelo Aeroporto Internacional Pinto Martins, permissão questionada pela Advocacia-Geral da União (AGU), que recorreu ao Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5) - a corte deu ganho de causa à União.
Pelas redes e nas redes sociais, o governador sinaliza que deve renovar o decreto por mais alguns dias, apesar da pressão de setores da cadeia produtiva.

O desafio dos governadores do Nordeste

Cientista político e professor, Cleyton Monte avalia que há um desafio considerável no horizonte dos governadores no combate ao novo coronavírus: a relação conflituosa com o presidente da República Jair Bolsonaro.
"Qual o sentido de fazer composição com governadores na resolução dessa crise sanitária? Para Bolsonaro, nenhum", defende Monte, para quem o presidente não está interessado em apresentar-se como um gestor que soluciona impasses.
Nesse sentido, a emergência de um cenário de pandemia e tensão na relação com os gestores estaduais não se atenuaria, mas ganharia relevo e se potencializaria.
Para os governadores, a situação impõe obstáculos e requer habilidade política. O principal deles agora é a força do discurso segundo o qual os interesses econômicos estão em jogo, e cabe aos governadores se responsabilizar por eventuais perdas para o empresariado e empregados.
"Isso está ficando claro quando Bolsonaro fala que os prefeitos vão ter que indenizar os trabalhadores. É um discurso para as massas", adverte Monte.
No Ceará, o governador Camilo Santana (PT) emite sinais de que pretende acolher respostas técnicas à crise da Covid-19. Todas as decisões do petista, até o momento, foram resultado de recomendações da Secretaria da Saúde do Estado, do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Na última sexta-feira, Camilo e outros gestores do Nordeste assinaram uma carta conjunta na qual criticaram Bolsonaro por suas posições que representam ameaça à vida, como o estímulo a carreatas pela volta ao trabalho. 



Atritos com Bolsonaro são desafio para governadores
Cientista político e professor, Cleyton Monte avalia que há um desafio considerável no horizonte dos governadores no combate ao novo coronavírus: a relação conflituosa com o presidente da República Jair Bolsonaro.
"Qual o sentido de fazer composição com governadores na resolução dessa crise sanitária? Para Bolsonaro, nenhum", defende Monte, para quem o presidente não está interessado em apresentar-se como um gestor que soluciona impasses.
Nesse sentido, a emergência de um cenário de pandemia e tensão na relação com os gestores estaduais não se atenuaria, mas ganharia relevo e se potencializaria.
Para os governadores, a situação impõe obstáculos e requer habilidade política. O principal deles agora é a força do discurso segundo o qual os interesses econômicos estão em jogo, e cabe aos governadores se responsabilizar por eventuais perdas para o empresariado e empregados.
"Isso está ficando claro quando Bolsonaro fala que os prefeitos vão ter que indenizar os trabalhadores. É um discurso para as massas", adverte Monte.
No Ceará, o governador Camilo Santana (PT) emite sinais de que pretende acolher respostas técnicas à crise da Covid-19. Todas as decisões do petista, até o momento, foram resultado de recomendações da Secretaria da Saúde do Estado, do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Na última sexta-feira, Camilo e outros gestores do Nordeste assinaram uma carta conjunta na qual criticaram Bolsonaro por suas posições que representam ameaça à vida, como o estímulo a carreatas pela volta ao trabalho.

 (Henrique Araújo)