Há 15 dias, o Ceará registrava os três primeiros casos
do novo coronavírus. De lá para cá, o Estado passou a 282 - apenas da
quinta para a última sexta-feira, foram 44 novos registros da doença,
que matou três pessoas em solo cearense.
Embora a letalidade da infecção ainda seja considerada baixa pelo Ministério da Saúde (1,1%), o Ceará lidera no Nordeste em números de infectados. No País, é o terceiro colocado, atrás apenas de Rio de Janeiro e São Paulo.
Titular da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Carlos
Alberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Cabeto, tem diagnóstico pronto
para a curva crescente de acometidos pela Covid-19.
"O Ceará, com as medidas e notificação exemplar, tem conseguido
rastrear as rotas de contaminação e essa ascensão do número de casos se
mostra menor", avalia o médico.
As medidas a que o secretário se refere são as que,
segundo ele, têm surtido efeito no combate à pandemia, como o isolamento
social, a suspensão das atividades comerciais e o máximo de
distanciamento possível.
Adotadas pelo governador Camilo Santana (PT) desde o
início da crise sanitária, as ações explicariam o alto contingente de
pessoas cujos testes tiveram resultado positivo para o coronavírus. A
maior parte, diz o secretário, se concentra nos bairros mais ricos, como
Aldeota, Dionísio Torres, Papicu e Meireles.
"Se você tira essas limitações, vai ter um trânsito
muito grande do Meireles para bairros mais distantes, e isso acaba
fazendo uma transmissão direta para áreas mais vulneráveis", acrescentou
Cabeto.
Na quinta-feira (26), por exemplo, apenas a UPA do
bairro Itaperi realizou 15 testes para Covid-19 e os enviou ao
Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen). Localizada numa
região mais periférica da cidade, a unidade tem sido bastante procurada,
contou a assistente social Danielle Cláudia. A partir desta semana, a
Prefeitura de Fortaleza irá construir mais 20 leitos no estacionamento.
Naquele dia, O POVO circulou por
outras UPAs da capital cearense para levantar quantos testes cada uma
vinha executando por dia. O objetivo era confirmar a alta testagem de
pacientes suspeitos. Nos locais, porém, não havia dados suficientes
sobre o quantitativo.
Procurada, a assessoria do Sesa disse que caberia à
Prefeitura disponibilizar os dados. A assessoria do Paço, por sua vez,
informou que era a Sesa a responsável pelo controle estatístico.
Neste domingo, Camilo, que já providenciou novo lote de
kits para testes para coronavírus, deve reunir equipes técnicas a fim
de apresentar planejamento para os próximos dias. Na mesa do governador,
outro item importante: a possibilidade de prorrogar o decreto que
interrompeu o funcionamento de shoppings, bares, restaurantes e
academias, além do transporte intermunicipal.
A norma incluía ainda a inspeção de passageiros que
chegam pelo Aeroporto Internacional Pinto Martins, permissão questionada
pela Advocacia-Geral da União (AGU), que recorreu ao Tribunal Regional
Federal da 5ª Região (TRF-5) - a corte deu ganho de causa à União.
Pelas redes e nas redes sociais, o governador sinaliza que deve renovar o decreto por mais alguns dias, apesar da pressão de setores da cadeia produtiva.
O desafio dos governadores do Nordeste
Cientista político e professor, Cleyton Monte avalia
que há um desafio considerável no horizonte dos governadores no combate
ao novo coronavírus: a relação conflituosa com o presidente da República
Jair Bolsonaro.
"Qual o sentido de fazer composição com governadores na
resolução dessa crise sanitária? Para Bolsonaro, nenhum", defende
Monte, para quem o presidente não está interessado em apresentar-se como
um gestor que soluciona impasses.
Nesse sentido, a emergência de um cenário de pandemia e
tensão na relação com os gestores estaduais não se atenuaria, mas
ganharia relevo e se potencializaria.
Para os governadores, a situação impõe obstáculos e
requer habilidade política. O principal deles agora é a força do
discurso segundo o qual os interesses econômicos estão em jogo, e cabe
aos governadores se responsabilizar por eventuais perdas para o
empresariado e empregados.
"Isso está ficando claro quando Bolsonaro fala que os
prefeitos vão ter que indenizar os trabalhadores. É um discurso para as
massas", adverte Monte.
No Ceará, o governador Camilo Santana (PT) emite sinais
de que pretende acolher respostas técnicas à crise da Covid-19. Todas
as decisões do petista, até o momento, foram resultado de recomendações
da Secretaria da Saúde do Estado, do Ministério da Saúde e da
Organização Mundial de Saúde (OMS).
Na última sexta-feira, Camilo e outros gestores do
Nordeste assinaram uma carta conjunta na qual criticaram Bolsonaro por
suas posições que representam ameaça à vida, como o estímulo a carreatas
pela volta ao trabalho.
Atritos com Bolsonaro são desafio para governadores
Cientista político e professor, Cleyton Monte
avalia que há um desafio considerável no horizonte dos governadores no
combate ao novo coronavírus: a relação conflituosa com o presidente da
República Jair Bolsonaro.
"Qual o sentido de fazer
composição com governadores na resolução dessa crise sanitária? Para
Bolsonaro, nenhum", defende Monte, para quem o presidente não está
interessado em apresentar-se como um gestor que soluciona impasses.
Nesse
sentido, a emergência de um cenário de pandemia e tensão na relação com
os gestores estaduais não se atenuaria, mas ganharia relevo e se
potencializaria.
Para os governadores, a situação
impõe obstáculos e requer habilidade política. O principal deles agora é
a força do discurso segundo o qual os interesses econômicos estão em
jogo, e cabe aos governadores se responsabilizar por eventuais perdas
para o empresariado e empregados.
"Isso está ficando
claro quando Bolsonaro fala que os prefeitos vão ter que indenizar os
trabalhadores. É um discurso para as massas", adverte Monte.
No
Ceará, o governador Camilo Santana (PT) emite sinais de que pretende
acolher respostas técnicas à crise da Covid-19. Todas as decisões do
petista, até o momento, foram resultado de recomendações da Secretaria
da Saúde do Estado, do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de
Saúde (OMS).
Na última sexta-feira, Camilo e outros
gestores do Nordeste assinaram uma carta conjunta na qual criticaram
Bolsonaro por suas posições que representam ameaça à vida, como o
estímulo a carreatas pela volta ao trabalho.
(Henrique Araújo)