Além dos impactos econômicos causados na economia, a
crise do coronavírus também trará forte repercussão no andamento de
obras estruturantes do Ceará, que atualmente estão paralisadas ou em um
ritmo muito mais lento do que o habitual, como é o caso dos serviços de
infraestrutura considerados essenciais. Com a quarentena
completando quase um mês e sem data certa para chegar ao fim,
equipamentos que já possuem histórico de atrasos tendem a passar por
novos problemas e adiamentos em seus cronogramas.
Em Fortaleza, absolutamente todas as obras em
execução terão seus cronogramas reavaliados pela Secretaria Municipal de
Infraestrutura (Seinf). Segundo a pasta, desde o dia 25 de março os serviços não essenciais foram paralisados temporariamente, com
exceção de trabalhos que envolvam drenagem, saneamento e energia. As
obras das avenidas Desembargador Moreira e Alberto Craveiro, por
exemplo, são consideradas emergenciais e continuam em andamento, com 80%
e 30% de execução, respectivamente.
Questionada sobre os possíveis impactos da paralisação nos materiais utilizados nas obras de infraestrutura da Capital, a Seinf informou que "não há risco de deterioração nesse período", mas, segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Ceará (Sinconpe-CE), Dinalvo Diniz, qualquer obra que tenha seu andamento suspenso por muito tempo pode passar por problemas.
"Estamos em época de chuva e as empresas, quando retomarem os
trabalhos, terão que ver se algo foi danificado. Mas, de um modo geral,
não acredito em uma grande deterioração, pois há cuidados para proteger
os equipamentos".
No âmbito estadual, a maioria das obras de
infraestrutura também estão paralisadas, com exceção daquelas inseridas
no critério de serviços essenciais, inclusive algumas que contam com
contratos de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) e Governo Federal, informa a Secretaria da Infraestrutura do Estado (Seinfra-CE).
Dentre os trabalhos que continuam em andamento, há a implantação da Linha Leste do Metrô de Fortaleza e do VLT Parangaba-Mucuripe, assim como a duplicação do Anel Viário, todas com histórico de atrasos e que devem passar por novas reformulações no cronograma.
Segundo funcionários da Linha Leste ouvidos pelo O POVO, as obras que seriam suspensas até junho foram retomadas e estão sendo realizadas em ritmo mais lento. No trecho do Colégio Militar, por exemplo, máquinas apenas retiravam areia do canteiro ao longo do dia.
"É evidente que muda o andamento dos trabalhos e que haverá dilatação
no prazo final de entrega. O Governo flexibilizou alguns casos, mas na
maioria houve paralisação, até porque os operários se sentem inseguros
no deslocamento ao trabalho", destaca Dinalvo Diniz. Em nota, a
Seinfra-CE afirma que "todas as empresas executoras são orientadas a
tomar os devidos cuidados com a higiene e segurança dos seus
funcionários e canteiros".
Para o economista Célio Fernando, a paralisação
e o possível atraso nas obras por conta da crise do coronavírus exige
que o Governo elabore um plano de recuperação no âmbito das questões
estruturais, até porque, após a crise, o poder público dificilmente terá
recursos para garantir a conclusão de todos os equipamentos.
"O que fica muito claro é que teremos que ter uma seletividade dos
investimentos públicos, buscando suprir as precariedades. É preciso
observar para onde estão sendo destinados esse investimentos e quem será
beneficiado, ter esse senso de observação. Isso pode estar num plano de
recuperação. Em Fortaleza e no Ceará como um todo, temos muitos
projetos questionáveis", destaca.
O POVO