O governador Camilo Santana (PT) decretou que
o isolamento social no Estado permanecesse até o dia 20 de abril. A
medida, entre outras iniciativas, define que estabelecimentos
considerados não essenciais, como restaurantes e bares, devem permanecer
de portas fechadas. A medida procura combater o avanço do novo
coronavírus no Ceará. Nesse sentido, representantes de associações que
trabalham com a coleta de materiais recicláveis sentem os impactos da
crise e cobram ajuda do Governo.
Na Sociedade Comunitária de Reciclagem de Lixo
do Pirambu (Socrelp), as atividades estão suspensas. A presidente da
associação, Janete Cabral, segue frequentando o espaço físico apenas
para atender telefonemas. Ela explica que existem dúvidas sobre se as
atividades da organização poderiam ou não continuar mas, por receio das
consequências do decreto, prefere manter as portas fechadas. Com 16
catadores associados, o problema da falta de renda está sendo combatido
aos poucos com doações de alimentos e materiais de higiene de
instituições parceiras e moradores da região.
Além de contas de luz e água do espaço físico
atrasadas, outra preocupação é levantada por Janete: “A gente trabalha
com muito plástico e o material acumula água da chuva, aí vem o mosquito
da dengue e a situação fica meio difícil. Nossa preocupação é com a
segurança dos associados mas também com o mosquito. No dia a dia o
material sai toda semana, mas estamos parado desde o dia 20 março”.
Já a Associação Maravilha, do Bairro de Fátima,
continua com as atividades por meio período. O expediente, antes das 8h
às 16h, agora é finalizado às 11h. A presidente Maria de Fatima
Albuquerque, mais conhecida como “Ronaldinha”, revela que a associação
recebeu uma doação de equipamentos de proteção de uma empresa parceira
de São Paulo, para que os 13 catadores associados tenham uma mínima
segurança durante o trabalho.
“Diminuiu o preço do material e não estamos ganhando
quase nada. Precisamos de parceiros que melhorem a situação. A gente
gostaria de ter apoio dos nossos governantes para que eles olhassem mais
pela classe do catador, que faz um papel muito importante”, destaca
Maria.
Aos 66 anos e afastada da associação por ser do grupo
de risco da Covid-19, a presidente explica que, além da necessidade de
renda, não tem como parar as atividades da associação, já que
semanalmente caminhões da Ecofor, empresa concessionária da Prefeitura
de Fortaleza responsável pela coleta de lixo da cidade, descarrega no
local material para reciclagem.
A Associação dos Agentes Ambientais Rosa Virginia
também continua de portas abertas, apesar da diminuição em 70% da
quantidade de material coletado. Antes da crise, eram comercializadas de
50 a 55 toneladas, quantidade que diminuiu para 20 toneladas em março.
Para abril, a expectativa da presidente Musamara Mendes e que o número
zere.
A proteção dos trabalhadores e feita por alguns itens
de segurança, como máscaras e luvas, que estão longe de serem suficiente
para os 20 catadores associados. A solução tem sido o uso de máscaras
de tecido, além do recebimento de doações de alimentos por parte de
moradores da região das coletas.
“A gente teve que reduzir a compra desse material dos
catadores porque não estamos conseguindo vender. Não estamos conseguindo
atender a todos”, lamenta Musamara. Além dos associados, são cerca de
60 catadores que buscam a associação para a venda do material. Buscando
orientar esse grupo, a associação está organizando um momento para que
todas essas pessoas tenham a documentação analisada e sejam cadastrados
para receber o auxílio emergencial disponibilizado pelo Governo.
A Secretaria Municipal da Conservação e Serviços
Públicos (SCSP) informa que os serviços da coleta pública domiciliar
estão sendo realizados normalmente, dentro do cronograma prestabelecido
para cada região, com os carros coletores passando, no mínimo, três
vezes por semana em cada ponto, e os 70 Ecopontos também estão em pleno
funcionamento na Cidade, oferecendo os benefícios do Recicla Fortaleza e
E-Carroceiro.
Com relação às associações de coletores de materiais
recicláveis, até o momento, por meio do Movimento Supera Fortaleza, uma
ação da sociedade civil, apoiada pela Prefeitura de Fortaleza, já foram
cadastrados um total de 153 catadores de 6 associações, que estão
recebendo o benefício de uma cesta básica. As associações contempladas
até o momento são: Socrelp, Aran, Ascajan, Brisamar, Raio de Sol e
Maravilha.
Solidariedade
O Projeto de Inclusão Social e Produtiva de Catadores e
Catadoras de Materiais Recicláveis, que promove a capacitação de 1.400
catadores em 94 municípios do Ceará, promove uma campanha de arrecadação
para comprar cestas básicas e material de segurança para a categoria.
As doações podem ser realizadas em qualquer valor por meio das
informações: Banco Santander, agência: 3508, conta: 13002663-3, CNPJ:
08.918.421/0001-08, Fundação Astef.
Outra iniciativa de apoio à categoria é a campanha de financiamento online promovida pela ONG “Visões
da Terra” para a arrecadação de renda mínima para 352 catadores. Até o
momento da publicação desta matéria, foi arrecadado R$ 17.288. A meta da
campanha é R$ 115.600.
o povo