A terceira vítima decorrente do novo
coronavírus no Amapá, o motorista Moacyr Silva, 56, não contou ontem com
velório, por determinação do protocolo das autoridades de saúde, mas a
mãe dele, Maria Silva, 90, conseguiu ter um pedido seu atendido pela
funerária. O carro que levava o caixão ao cemitério aceitou mudar o
percurso para passar em frente à casa dela. Assim, ela pôde se despedir
do filho, ainda que à distância.
O gesto da funerária também serviu de
consolo aos amigos de Moacyr. Ao entrar na rua onde a mãe da vítima
mora, o carro ligou a sirene e os vizinhos saíram das residências para
aplaudir. O veículo parou em seguida em frente à casa da idosa, que ao
lado de familiares pôde dar o último adeus. O vídeo acima mostra o
momento da despedida.
Por determinação da prefeitura de Macapá
e do governo do Amapá, o protocolo seguido pelas funerárias para as
vítimas de covid-19 é levar o corpo em caixão lacrado do hospital direto
para o sepultamento, sem velório e presença de familiares no enterro.
Na capital, as vítimas são sepultadas em
uma área criada para os óbitos decorrentes de infecção pelo novo
coronavírus no cemitério São Francisco, o mais afastado do centro da
cidade. Ao todo, o estado tem cinco vítimas fatais e 193 casos
confirmados de covid-19, segundo o último boletim, divulgado ontem.
Amigo de infância de Moacyr, o padre
Paulo Roberto Matias esteve ontem ao lado da família quando soube da
morte e também se despediu do amigo na rua.
“Não tenho nem palavras. Ele era um
amigo e irmão. Como existe um procedimento a ser cumprido, do hospital
direto para o cemitério, a mãe dele pediu que no momento de levar o
corpo, passasse em frente à casa dela. Foi algo inexplicável. Quando o
carro entrou na avenida, a sirene foi ligada e todos na rua começaram a
aplaudir. Foi muito triste”, disse o religioso, que ajudou a confortar a
família.
“Só andava com luva, máscara e álcool gel”
Moacyr Silva atuava como motorista na
Polícia Federal (PF), em Macapá. Hipertenso, com apneia do sono e
ex-fumante, era precavido contra o novo coronavírus em razão das
comorbidades que poderiam complicar uma eventual infecção.
Antes da pandemia do novo coronavírus,
Moacyr levava uma vida normal. No último Carnaval, desfilou na escola de
samba onde era diretor de alegorias, a Piratas Estilizados, em Macapá.
Era considerada uma pessoa alegre e muito querida por amigos e
familiares.
“Era sempre precavido, pois só andava
com luva, máscaras e álcool gel na mão. Ninguém sabe como se contaminou.
Ele estava se cuidando, porque sabia que tinha essas comorbidades. Foi
muito chocante, pois era muito conhecido por ser querido entre amigos”,
afirmou Paulo Roberto.
Segundo o religioso, entre os primeiros
sintomas e a morte, foram 18 dias. Antes de ser diagnosticado com a
doença, Moacyr ficou oito dias acreditando estar com gripe. Após os
sintomas se intensificarem, a esposa dele o levou ao médico por duas
vezes, e na terceira, acabou sendo internado, em 2 de abril. Três dias
depois, foi transferido para o Centro de Tratamento Intensivo da
covid-19, em Macapá, onde morreu nas primeiras horas do amanhecer.
“Ele passou oito dias em casa achando
que era uma gripe. Depois disso, a mulher o levou em um posto de saúde.
Medicaram e ele retornou para casa. Na terceira ida ao médico que o
internaram. Ele já estava bastante debilitado. Entre o aparecimento dos
sintomas e a morte foram 18 dias”, confirmou o amigo. Moacyr deixa a
esposa e quatro filhos.
Conteúdo: Uol