O
dito popular revela que, enquanto uns choram, outros vendem lenços.
Literalmente, foi o que preferiu fazer o administrador David Cruz, 38
anos, proprietário de uma confecção no município de Cascavel (distante
62 km de Fortaleza).
O negócio do administrador foi atingido
em cheio com a crise provocada pelo vírus chinês no País. "As coisas iam
bem até o dia 18 de março, com pedidos, produção e vendas estáveis. Mas
com o decreto do governador, as coisas mudaram de uma hora para outra",
lembra.
Segundo David, o setor de confecção não
tinha mais autorização para funcionar. "Além disso, começamos a receber
telefonemas de clientes que queriam devolver as entregas que já haviam
sido feitas, porque, pelo efeito dominó, eles não teriam como vender",
explica.
A preocupação começou a crescer e a
tensão quis comandar os brios do administrador. "Como é que se pagam as
contas, os fornecedores, os salários se não tem faturamento?",
questionou-se David.
Foi quando os conhecimentos adquridos na
graduação em Administração começaram a sobressair. "Com a crise,
pensei: o que é que o mercado está demandando e não tem? Já sei,
máscaras de proteção", comemorou.
Da ideia para o plano de negócios, e daí
para a execução foi um pulo. "Começamos a vender e utilizar a
matéria-prima que tínhamos em estoque, depois fomos comprar no mercado
outros itens, e o negócio começou a fluir", conta.
Foi preciso planejamento para driblar
não só a crise, mas as condições necessárias para o trabalho.
"Poderíamos produzir, mas sem aglomeração no chão de fábrica. O produto
era outroa totalmente novo para nós: máscara de TNT e de tecido", diz.
David também precisou usar a expertise
de administrador, com os conhecimentos em logística: "Tomamos a decisão
de colocar as máquinas e o material nas casas das costureiras. Além
disso, foi preciso equipar um motoqueiro dentro das normas sanitárias,
para que ele pudesse fazer as entregas e recebimento de mercadorias".
Como nem tudo são flores na rotina do
empresário brasileiro, David se deparou com outro problema. "Começou a
faltar material para a produção. Com as lojas fechadas e sem pedidos, o
mercado não tem mais para fornecer os itens necessários para a produção
de máscaras. Para você ter uma ideia, não tem mais TNT branco no mercado
do Ceará", revela.
David pede que as autoridades possam
pensar numa solução para que o negócio possa dar seguimento. O
empresário afirma que desde o início da crise não demitiu nenhum
funcionário nem pensa em demitir. "Mas é importante que a gente possa
continuar a produzir e vender. Hoje conseguimos manter 15 famílias em
casa com renda sustentável. A dificuldade é a falta de matéria-prima,
como elástico e tecidos. Toda a cadeia está comprometida devido a
paralisação da indústria e comércio", diz.
Segundo o administrador, o produto pode
ser vendido para lojas que estejam em funcionamento e até para
prefeituras, que possam precisar dos EPIs para manter o pessoal de áreas
essenciais na ativa e em segurança.
Farias Júnior CRA CE