Equilíbrio fiscal não é prioridade no momento, diz Mansueto Almeida

Blog do  Amaury Alencar


A TRANSFERÊNCIA também é apontada como uma tentativa de Guedes de manter Mansueto no quadro
A TRANSFERÊNCIA também é apontada como uma tentativa de Guedes de manter Mansueto no quadro
Diante do aumento de despesas públicas para mitigar os impactos do novo coronavírus (Covid-19) na economia brasileira, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, declarou nesta sexta-feira, 10, em live no Facebook do O POVO, que o equilíbrio fiscal "não é uma prioridade" para o Governo Federal no atual momento. Durante a entrevista concedida ao editor-chefe dos núcleos de Economia e Negócios, Jocélio Leal, o economista tratou como inevitável o impacto da crise pandêmica na dívida nacional e ressaltou que nenhum recurso será poupado para garantir o acesso à saúde e a manutenção dos empregos no País.

Segundo Mansueto, o Governo trabalha com três prioridades claras: liberar qualquer recurso necessário para a saúde; ter programas para proteger os mais vulneráveis, como o auxílio emergencial de R$ 600; e buscar meios para ajudar as empresas a manterem os empregos no Brasil, seja através de crédito ou seguros trabalhistas, por exemplo. O secretário pondera que o "grande desafio" é "garantir que todas essas despesas sejam de caráter temporário", começando e terminando em 2020, sem prejudicar os próximos anos.

Sobre o rigor fiscal aos estados e municípios, o secretário do Tesouro afirmou que neste ano, inevitavelmente, "todos terão que aumentar as despesas" e que uma piora fiscal em 2020, por conta de políticas ligadas ao combate ao coronavírus, não o preocupa. "O Governo Federal já aprovou uma recomposição de R$ 16 bilhões do FPE (Fundo de Participação dos Estados) e FPN (Fundo de Participação dos Municípios) e está conversando com estados, no meio desse processo, para políticas adicionais", conta. 

Mansueto reforçou também que, por conta do que terá que injetar no combate aos efeitos sociais e econômicos do coronavírus, o Brasil deve fechar o ano com um déficit primário de R$ 500 bilhões, muito acima do resultado negativo de 2019, que foi de R$ 61 bilhões. "Isso representa cerca de 7% do PIB, então acredito que já é um tamanho adequado, isso presumindo que teremos três meses de lockdown (suspensão da atividade econômica)", pontua o secretário. Segundo ele, caso a situação se estenda por um período acima do previsto, o Governo Federal discutirá a necessidade de implantar programas adicionais de apoio.  

No que diz respeito às projeções de recuo de até 6% do PIB nacional neste ano, divulgadas por economistas nesta semana, Mansueto afirma que ainda não há estimativas oficiais por parte do Governo Federal, e que, neste momento, qualquer projeção é "mero chute". "Não sabemos se o lockdown vai durar um ou três meses. Será que todo mundo vai ficar em casa até o fim de junho, ou a curva vai diminuir a tal ponto que esse período será menor? Só teremos um cenário mais claro daqui a duas ou três semanas", afirma.

Sobre a recuperação da economia brasileira no pós-crise, Mansueto pondera que ainda não há uma discussão sobre o assunto, tendo em vista que o foco, atualmente, são ações de curto prazo para proteger as pessoas. Ele garante, porém, que "se as reformas estruturais eram importantes antes da crise, elas serão muito mais no pós-crise". "Se mantivermos nossa inflação controlada, a taxa de juros baixa e tivermos sociedade e Governo engajados nas reformas, tenho certeza que pagaremos essa conta nos próximos anos".
 
10 medidas econômicas já adotadas pelo Governo contra a crise
1. Alteração de regras trabalhistas, o que permite aos empregadores reduzirem salários e jornadas para manter empregos e até mesmo suspender temporariamente contratos de trabalho
2. Linha de crédito de R$ 40 bilhões para financiar o salário dos trabalhadores das pequenas e médias empresas
3. Auxílio emergencial de R$ 600, durante três meses, para trabalhadores informais e autônomos
4. Isenção do pagamento da contas de luz por três meses para consumidores de
baixa renda
5. Prorrogação de tributos no âmbito do Simples Nacional, desconto na contribuição obrigatória das empresas ao Sistema S e adiamento das contribuições para o Pis-Pasep e Cofins
6. Reconhecimento do estado de calamidade pública e uma consequente elevação dos gastos, o que permite ao Governo descumprir a meta fiscal do ano, que era de déficit de R$ 124,1 bilhões
7. R$ 88,2 bilhões em recursos para estados e municípios arcarem com as medidas de combate ao coronavírus
8. Apoio aos mais vulneráveis, o que inclui a antecipação das parcelas do 13º de aposentados e pensionistas do INSS, e do abono salarial. Também há reforço no programa Bolsa Família
9. Suspensão de cobrança de empréstimos junto ao BNDES e outros bancos como a Caixa Econômica Federal, que também reduziu juros e ampliou suas linhas de crédito
10. Adiamento da declaração do Imposto de Renda


Fonte: Governo Federal/BNDES/Receita Federal