Embora a pandemia do
novo coronavírus (covid-19) ainda seja um mistério em muitos aspectos, o
que médicos e pesquisadores do mundo todo já sabem é que o pulmão não é
o único, mas é o órgão mais afetado pela doença. “Esse vírus, apesar de
ter certa predileção pelo pulmão, pode acometer outros órgãos. O pulmão
é o órgão mais afetado. A despeito disso, a gente não pode esquecer os
outros órgãos. A gente coloca toda a nossa energia para dar oxigenação a
esses pacientes, mas esquece de fazer um eletro e um ecocardiograma,
explicou à Agência Brasil a médica Patricia Rocco,
professora titular e chefe do Laboratório de Investigação Pulmonar do
Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (UFRJ) e membro da Academia
Nacional de Medicina e Brasileira de Ciências.
A pesquisadora explicou que ao entrar no
organismo – por meio de gotículas de saliva, de espirro ou ainda de mãos
contaminadas levadas ao rosto – o vírus se liga a receptores
distribuídos pelo corpo inteiro. Nos pulmões, ele infecta células dos
alvéolos – onde ocorre a troca de gases entre o pulmão e corrente
sanguínea – a partir daí esse vírus começa a se multiplicar, mata a
célula hospedeira e é liberado para contaminar outras células.
“Concomitantemente a isso você tem um estimulo das células do sistema
imune. Elas começam a ficar ativadas e a liberar uma série de mediadores
que geram a inflamação local no pulmão e no corpo inteiro também”,
destacou. “Essa inflamação do pulmão gera pneumonia com várias partes do
pulmão acometidas e, nos casos mais graves, pode gerar o que a gente
chama de insuficiência respiratória", acrescentou.
Sequelas
Sobre possíveis sequelas no pulmão, causadas
pelo novo coronavírus, Patrícia Rocco disse que não há ainda nenhum
trabalho no mundo que afirme categoricamente se isso acontece. Segundo
ela, existem vários estudos feitos a partir de autópsias. Esses
pacientes que faleceram da covid-19 apresentaram um processo de fibrose
pulmonar, que é um tipo de sequela. “O grupo da Europa, que está na
nossa frente em relação à covid-19, observou que os pacientes que ficam
muito tempo na UTI podem evoluir com sequela, mas não podemos afirmar se
a sequela é pela doença covid-19 ou pelo fato desses pacientes estarem
muito tempo ventilados mecanicamente. A ventilação mecânica por um tempo
prolongado, também pode gerar fibrose pulmonar, que é o que a gente
chamada de sequela”, esclareceu.
A especialista acrescentou que pessoas que
saem desse processo infecioso grave, podem ficar mais cansadas a ponto
de não conseguirem fazer suas atividades com tanta agilidade. Esses
pacientes também apresentam falta de ar, mas ainda não é possível
afirmar se essas consequências podem ser atribuídas ao vírus nem se os
danos serão para sempre.
Tabagistas
A médica Patrícia Rocco fez ainda um alerta
aos fumantes, que dividiu em dois grupos: o dos que ainda não têm
alterações do pulmão importantes e os que têm a chamada doença pulmonar
obstrutiva crônica (DPOC) – que causa enfisema pulmonar e bronquite
crônica. “O tabagismo, por si só, já causa um processo inflamatório nos
pulmões. Se esse paciente tiver um enfisema pulmonar ou qualquer outra
doença respiratória crônica pelo tabagismo está comprovado que a
covid-19 vai apresentar casos mais graves” alertou.