O sentimento de muitos fortalezenses nesta
quarentena é o de saudade de lugares e paisagens. Locais que antes
pareciam certezas de alcançarmos com alguns passos ou percorrendo poucos
quilômetros. Como revelação do que realmente nos importa, os dias de
isolamento têm deixado vir à tona paixões e amores por cantos e hábitos.
Alguns nem nos fazia pensar neles. Estavam ali, parte de um cotidiano
que criamos. Como os amores que temos e não pedem reflexão ou palavras
de carinho.
Mas hoje, 13 de abril, faz celebrarmos a juventude de
Fortaleza, que chega aos 294 anos, externando apreços por cantos da
Cidade que já amávamos ou que a quarentena nos mostrou especial. Se não
vamos a esses locais, o jeito é manter na lembrança e desejar fazer
parte deles o mais breve possível, como sonha Marcelo Jucá. Afastado do
mar, onde surfava todos os dias, o empresário leva a saudade imaginando
chegar na Praia do Futuro com o filho recém-nascido e viver ao ar livre.
E com o convívio na rua, sem muros, também sonha Anna
S. Moradora do Barroso, ela recorda o cheiro da pipoca e os gritos das
crianças na praça do Violeta. Ficaram novamente vivas as memórias da
infância no lugar, as leituras de livros deixados para todos na praça e o
encontro com os amigos. "Nunca dei valor", se ressente a jovem com alma
de poetisa.
Desse trafegar livremente, em contato com a natureza e
com as pessoas, também sente falta o prefeito de Fortaleza. As
caminhadas e corridas no Parque do Cocó são lembradas por Roberto
Cláudio com pesar. "Vamos correr de novo no Cocó, vamos compartilhar
novamente a bicicleta e o equipamento de ginástica na praça do bairro",
declara em sinal de esperança.
De lugares culturais lembram Daniel Arruda e Virgínia
Fukuda. O arquiteto recorda as apresentações no Centro Dragão do Mar e
no Aterro da Praia de Iracema. Já a bordadeira anseia voltar ao cinema
do Dragão, ver feirinhas no local com o neto mais novo e finalizar a
saída com um bom café.
Para Benício Pitaguary, a saudade é do Pici. "Foi lá
onde tive meus primeiros estudos com mais profundidade sobre a relação
do homem e natureza", reflete o primeiro geógrafo indígena da
Universidade Federal do Ceará (UFC) em meio às lembranças.
E no jeito mais cearense de ser, festejando as belezas
de Fortaleza, suas ruas e bares, o cantor e humorista Falcão rememora a
Bodega do Bar Ferrim. O cotidiano do lugar era "tirar o gosto com
panelada, limão e siriguela, conhecer uma ruma de gente, mangar do povo,
cantar". A cara da nossa cidade.
E assim seguimos, alimentando nossos sentimentos com a
crença em dias melhores. Em que a saudade se transformará em vivenciar o
que amamos em Fortaleza de corpo e alma.
o Povo