No dia Mundial da Liberdade de Imprensa,
neste domingo, 3 de maio, apoiadores do presidente da República, Jair
Bolsonaro, protagonizaram cenas grotescas contra a democracia. Não
bastasse infringir as recomendações da Organização Mundial da Saúde
(OMS) para isolamento social contra a Covid-19, os manifestantes agrediram com socos e chutes jornalistas na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Os profissionais da imprensa tiveram de sair escoltados pela Polícia Militar.
Políticos, ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF) e Associação Nacional dos Jornais (ANJ) repudiaram e
cobraram pela identificação dos responsáveis. Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB) e Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo
(Abraji) também se manifestaram contra os atos antidemocráticos deste
domingo. O governador do Ceará, Camilo Santana, foi um dos que emitiram
críticas pelas redes sociais.
O fotógrafo Dida Sampaio, do jornal O Estado de São
Paulo, registrava imagens de Bolsonaro na rampa do Palácio do Planalto,
numa área restrita à imprensa, quando foi agredido. Conforme o
periódico, o motorista Marcos Pereira sofreu uma rasteira dos
manifestantes, que entoavam palavras de ordem contra o jornal. O
repórter Fabio Pupo, da Folha de S.Paulo, foi empurrado enquanto tentava
defender os colegas de profissão.
Durante o protesto, os eleitores do presidente entoaram
gritos e estenderam faixas contra o presidente do Congresso Nacional,
Rodrigo Maia (DEM), e ministros do STF. Os participantes do ato
criticaram também a Rede Globo.
O presidente acompanhou o ato da rampa do Palácio do Planalto, ao lado dos filhos e correligionários.
Segundo o Estadão, quando o presidente soube dos
ataques e que os jornalistas estavam sendo expulsos, endossou as
atitudes. "Pessoal da Globo, vem aqui para pegar um cara ou outro falar
besteira. Essa TV realmente foi longe demais", disse, enquanto
transmitia ao vivo às redes sociais.
Frente aos ataques, dezenas de políticos de correntes
políticas distintas saíram em defesa dos jornalistas e da
democracia. Em nota, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) condenou as
agressões sofridas por jornalistas e pelo motorista do jornal O Estado
de S.Paulo. "Além de atentarem de maneira covarde contra a integridade
física daqueles que exerciam sua atividade profissional, os agressores
atacaram frontalmente a própria liberdade de imprensa", diz o texto. A
ANJ também ressaltou que atentar contra o livre exercício da atividade
jornalística é "ferir também o direito dos cidadãos de serem livremente
informados."
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), usou sua conta no twitter para prestar solidariedade aos
jornalistas agredidos no Palácio do Planalto. Maia afirmou que o grupo de agressores “confunde fazer política com tocar o terror” e chamou os manifestantes de “criminosos”.
A ministra Cármen Lúcia lamentou a agressão na data em
que é comemorada o Dia da Liberdade de Imprensa. "É inaceitável,
inexplicável, que ainda tenhamos cidadãos que não entenderam que o papel
do profissional de imprensa é o que garante a cada um de nós poder ser
livre. Estamos, portanto, quando falamos da liberdade de expressão e de
imprensa, no campo das liberdades, sem a qual não há respeito à
dignidade", disse.
Camilo Santana (PT), governador do Ceará, afirmou que o
Brasil vive tempos sombrios. "As aglomerações estimuladas pelo
presidente em meio a uma gravíssima pandemia. Jornalistas agredidos no
Dia da Liberdade de Imprensa. O Brasil vive tempos sombrios. Mas este é o
momento em que mais precisamos ser fortes, para defender a vida e para
lutar pela nossa democracia."
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo
(Abraji) assinou nota de repúdio junto ao Observatório da Liberdade de
imprensa da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) contra o ocorrido. No
texto, as entidades citam outros casos de agressão. Pontuam ainda que,
em relação a 2019, o Brasil recuou duas posições no ranking da
organização Repórteres Sem Fronteiras sobre liberdade de imprensa.
"Tais agressões são incentivadas pelo comportamento e
pelo discurso do presidente Jair Bolsonaro. Seus ataques aos meios de
comunicação, teorias conspiratórias e comportamento ofensivo fomentam um
clima de hostilidade à imprensa, além de servirem de exemplo e
legitimarem o comportamento criminoso de seus apoiadores. É inaceitável
que militantes favoráveis ao governo saiam às ruas com objetivo expresso
de intimidar os profissionais de imprensa, quando o próprio governo
federal definiu o jornalismo como atividade essencial durante a
pandemia."
A manifestação dos bolsonaristas ocorre um dia depois do ex-juiz e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, depor na sede da Polícia Federal, em Curitiba,
contra o chefe de estado brasileiro. O "Judas", como se referiu
Bolsonaro ao seu ex-ministro, pediu demissão do cargo e acusou o
presidente de interferência política no comando da PF para proteger os
filhos de investigações. Eduardo Bolsonaro, deputado filho do
presidente, durante a manhã deste domingo, chamou o ex-juiz de "espião"
após Moro depor por quase nove horas à PF.
o Povo