Coordenador do comitê científico do
Consórcio Nordeste, o neurocientista Miguel Nicolelis afirmou que,
devido ao aumento desproporcional dos casos da doença nos municípios do
Interior do Ceará, a equipe de trabalho estuda uma ferramenta única que
oriente o combate ao vírus em todo o Estado. Além disso, ele reforça que
o objetivo do grupo é "soltar tabelas" que permitam aos gestores usar
os dados disponíveis para orientar "uniformemente" se o isolamento deve
ser flexibilizado ou precisa ser mais restrito, se deve chegar ao
lockdown ou se pode relaxar em determinadas regiões.
"Em Fortaleza a situação é diferente da realidade do
Interior do Ceará, por exemplo, por isso estamos tentando aplicar essas
estratégias, que serão para todos os estados do Nordeste", disse o
neurocientista, que tem trabalhos reconhecidos internacionalmente pela
comunidade científica, em entrevista ao canal de TV GloboNews.
Analisando o atual o plano do Ceará de flexibilização
medidas de combate à pandemia e a diminuição do número de casos nas
últimas semanas de maio, ele avaliou que o Estado obedece às mesmas
regras de contágio nacional, que conta com áreas em diferentes níveis de
disseminação da doença.
É o que revela estudo populacional sorológico da
Universidade Federal de Pelotas (UFPel), divulgado na última semana, que
demonstrou a existência de diferentes graus de epidemia nas regiões do
Brasil e até mesmo entre os próprios municípios.
"Isso é um complicador, principalmente quando não temos
uma mensagem federal unificada e homogênea para lidar com todas essas
diferentes fases e formas da pandemia, pois cada uma requer um manejo
específico", crítica Nicolelis.
Ele afirma ainda que a estratégia estudada pelo grupo
tem como base experiências vividas por outros países, que inclusive
tiveram que retomar medidas de isolamento social após breves
flexibilizações, como é o caso da Coreia do Sul e da Alemanha.
"O objetivo é guiar decisões baseado numa série de
parâmetros que nós levantamos ao longo da semana e levando em conta as
experiências europeias, asiáticas e até mesmo em Nova York, onde a coisa
ficou feia" disse.
"A gente espera poder lidar com essas múltiplas
epidemias em diferentes estágios e localidades geográficas, até para os
gestores tomarem suas decisões com base em dados científicos e não
influência de outros grupos" explicou.
Na última quarta-feira, 27, nas redes sociais, Miguel
Nicolelis foi duro contra medidas de reabertura, sem especificar a qual
estado se referia. "Em português coloquial: não é hora de abrir nada! O
preço desta irresponsabilidade será pago em dezenas de milhares de
vidas."
Na quinta-feira, ele voltou à redes sociais para
afirmar que o Comitê Científico do Nordeste está "em "permanente diálogo
com governadores e prefeitos para definir protocolos que indiquem o
momento para aumentar medidas restritivas ou relaxá-las quando e onde
possível".
E aproveitou para direcionar crítica ao pacote de
relaxamento da quarentena em São Paulo, denominado pela gestão estadual
de "nova fase do Plano São Paulo". A estratégia vai levar em conta para a
flexibilização fatores como se há ou não crescimento de novos casos e
número de mortes, taxas de isolamento e percentual de ocupação de
leitos. Nicolelis disse esperar que São Paulo reveja o planejamento.
o Povo