Você
se lembra onde estava há 26 anos? Falando assim, talvez a memória não
seja resgatada de bate-pronto, ma seu eu mudar a pergunta, certamente
você vai saber. O que você estava fazendo na manhã de 1º de maio de
1994, quando Ayrton Senna perdeu o controle de sua Williams, passou reto
na curva Tamburello e se chocou no muro do circuito de Ímola, na Itália
– encerrando ali a trajetória de um dos maiores esportistas de todos os
tempos?
Eu me lembro
bem. Na véspera, eu havia recebido uma festa de aniversário surpresa,
preparada pelos amigos. Tinha ido dormir tarde e acabei perdendo a
largada do GP de San Marino. Quem é da época de Senna nas pistas sabe
que os domingos de prova de Fórmula 1 eram sagrados. Quando acordei, o
acidente havia acabado de ocorrer. Não se imaginava ainda, contudo, o
tamanho da fatalidade.
Os minutos que
se seguiram foram desenhando os contornos trágicos do estávamos
testemunhando. O drama do atendimento ainda na pista. A ida, de
helicóptero, para o hospital, em Bolonha. São cenas que vêm à tona como
se fizessem parte de um filme. Um roteiro sem final feliz. A voz tensa
do repórter Roberto Cabrini ao noticiar a morte de Senna ecoa na minha
mente como se eu a tivesse ouvido ontem. “Morreu Ayrton Senna da Silva.”
Tenho pavor de
alta velocidade, automobilismo nunca esteve entre meus esportes
favoritos. Mas eu adorava Senna – no sentido da adoração mesmo, da
idolatria. E por ele eu não só acompanhava todas as corridas de F-1, de
madrugada, de manhã, de tarde, como de quebra passei a gostar também de
Fórmula Indy. Hoje acho uma monotonia só. Os circuitos ovais, então?
Mas, naquela época, era olho vidrado na TV da primeira à última volta. O
1º de maio, porém, foi o dia da minha ruptura com o ronco dos motores,
as bandeiras quadriculadas, os pit-stops e tudo o que faz parte desse
universo.
A nova geração,
que não teve a sorte ver Senna em ação, talvez não tenha dimensão do
que ele representou na vida de muita gente. Do que ele significou para o
esporte mundial. Senna foi muito além de um piloto. Foi imenso. Quando
ele morreu, aos 34 anos, em Bolonha, deixou órfãos não apenas os fãs de
automobilismo. Ele deixou um vazio que não se preencheu mais. E não
apenas no Brasil, esteja certo. Onde quer que você vá no planeta, vai se
deparar com uma homenagem a Senna. Eu, por exemplo, vi muro pintado com
o rosto dele até no interior da Croácia.
É justamente
por tudo isso que até hoje a data é lembrada no mundo todo. Ano a ano, o
dia 1º de maio ganha comemorações especiais, em memória daquele que é
considerado o maior de todos os tempos ao volante. A pandemia de
COVID-19 impôs mudanças aos eventos. Se no ano passado 20 mil pessoas se
reuniram em Interlagos, na passagem dos 25 anos da morte dele, desta
vez as homenagens serão mais intimistas. Sinal dos tempos.
Na nova onda do
distanciamento social, será por meio de lives que os fãs se encontrarão
para reverenciar o ídolo. Nos canais oficiais do piloto nas redes
sociais serão mostradas a carreira na F-1 (a partir das 10h), a família
(12h), o início no kart (16h) e a torcida e o legado (18). Tudo isso com
convidados especiais, muitos deles figuras que fizeram parte da vida do
astro, como o ex-piloto Rubens Barrichello.
Personalidades
como Senna são eternas. Eles se vão, mas permanecem vivos, incrivelmente
vivos. A gente não se importa menos com eles porque o tempo passou.
Fica cravado. E hoje, mais do que ser dia de relembrar Senna, será dia
de reviver Senna. Ayrton Senna da Silva.
Flávio Pinto