Uma agente de saúde indígena
de 30 anos da cidade de Tamboril, a 294,8 quilômetros de Fortaleza,
teve a morte confirmada por síndrome respiratória aguda grave em
decorrência do novo coronavírus. Daniele Teodózio
Tabajara, 30 anos, morreu em um hospital na cidade de Monsenhor Tabora
na manhã deste domingo, 10. Antes de chegar à unidade de saúde, ela
sofreu um acidente na ambulância em que estava, mas ninguém chegou a se
ferir. Daniele é a primeira pessoa indígena no Ceará com confirmação de
óbito por complicações respiratórias ocasionadas pela Covid-19.
Segundo nota enviada pela Secretaria Especial
de Saúde Indígena (Sesai) e do Distrito Sanitário Especial Indígena
(DSEI), vinculado ao Ministério da Saúde, uma ambulância fez o
transporte da mulher de Tamboril para Monsenhor Tabosa. Chegando à
cidade, a situação da indígena se agravou e ela precisou ser transferida
para Sobral. No caminho, o veículo deslizou e caiu em uma ribanceira.
Nenhum ocupante do transporte chegou a se ferir. Daniele retornou com
vida para o hospital de Monsenhor Tabosa, mas acabou falecendo. O
atestado de óbito da indígena traz como causa da morte complicações em
decorrência da síndrome respiratória aguda grave.
Daniele teve resultado para a Covid-19 em um teste
rápido realizado às 5 horas deste domingo, 10, no hospital de Monsenhor
Tabosa. Neto Pitaguary, presidente do Conselho Distrital de Saúde
Indígena, informa que a infecção pelo novo coronavírus tem atingido cada
vez mais a população indígena do Ceará. Uma dificuldade que os povos
apresentam é o de realizar os testes e a demora em se chegar os
resultados. “O plano de contingência em todos os povos prevê a questão
do isolamento social e a testagem rápida dos usuários indígenas. A
demarcação das terras dos povos é um ponto paralelo, mas que se torna
essencial num período como a dessa pandemia”, aponta.
Segundo ele, não pode existir nenhuma política social,
nem a de isolamento, sem ter a situação territorial definida. O tempo
inteiro, conforme aponta, os índios têm suas terras invadidas. “A
demarcação de terras indígenas é um fato primordial porque, sem ela, não
conseguimos ter o controle de acesso aos territórios indígenas”, avisa.
Em nota enviada pela assessoria de comunicação,
a Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos
Humanos (SPS) informa que o atendimento de saúde dos povos indígenas é
de competência do Distrito Especial de Saúde Indígena do Ceará, da
Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde no Ceará. A
nota informa que a SPS entregou, nas últimas semanas, 286 cestas para
povos indígenas. Neste fim de semana, foram distribuídas, em parceria
com o Instituto Terramar, 860 cestas para povos e comunidades
tradicionais da zona costeira, o que inclui famílias indígenas.
Além disso, ainda segundo a SPS, a população mais
vulnerável está sendo beneficiada com as medidas anunciadas pelo
governador Camilo Santana, como a garantia do pagamento da luz elétrica e
água por três meses a famílias de baixa renda, além da antecipação dos
pagamentos do Cartão Mais Infância, programa estadual de transferência
de renda. Nesta semana, inicia-se também a distribuição do Vale Gás
Social, que prevê uma recarga de gás para 249 mil famílias.
O Ministério da Saúde (MS), também em nota, informou
que implementa, desde janeiro de 2020, mesmo antes da Organização
Mundial da Saúde (OMS) decretar a Emergência de Saúde Pública de
Importância Internacional (ESPII), ações de informação, prevenção e
combate ao coronavírus, para orientar as comunidades indígenas, gestores
e colaboradores em todo o Brasil.
Com a atual expectativa do crescimento de infecções
pela Covid-19 no Brasil, a Sesai e o DSEI, de acordo com o MS, têm se
redobrado para garantir a saúde dos povos indígenas. A detecção e
correção de possíveis problemas e a realização de novas ações, baseadas
nos protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde para o combate ao
coronavírus, respeitando as especificidades dos povos indígenas, ainda
segundo a nota, têm sido frequentes. Assim, de acordo com o Ministério, a
Sesai revisa e atualiza constantemente seus documentos orientadores,
estabelecendo novas ações a partir das deliberações estabelecidas pelo
seu comitê de crise.
Ainda de acordo com a nota, a Sesai permanece
trabalhando para atender aos mais de 800 mil indígenas aldeados e
presentes em todo o Brasil. Para isso, o MS afirma que a secretaria vem
orientando atenção máxima às equipes multidisciplinares de saúde
indígena e demais profissionais que atuam para o cumprimento do Plano de
Contingência Nacional para Infecção Humana pelo Novo Coronavírus em
Povos Indígenas.
A nota avisa ainda que a implementação de precauções
padrão constitui a principal medida de prevenção da transmissão entre
pacientes e profissionais de saúde e deve ser adotada no cuidado de
todos os pacientes. O referido documento ainda apresenta as ações a
serem tomadas pelas equipes de saúde em cada cenário da pandemia
(ausência de transmissão da Covid-19 na aldeia, transmissão local e
transmissão comunitária), além da medidas de quarentena na aldeia, na
Casai (Casa de Saúde do Índio) e/ou em situações específicas, como ações
voltadas aos povos isolados e de recente contato.
As equipes multidisciplinares de saúde indígena estão
sendo orientadas a priorizar o trabalho de busca ativa domiciliar de
casos de Síndrome Gripal (SG) e Síndrome Respiratória Aguda Grave
(SRAG), realizando a triagem dos casos, evitando a circulação de pessoas
com sintomas respiratórios. Ou seja, sugere-se que, preferencialmente,
não se tenha sala de espera nos serviços. Para isso, a equipe deve
comunicar à comunidade que priorizará o atendimento domiciliar, sendo
que os AIS devem informar ao enfermeiro e/ou ao médico os casos
sintomáticos respiratórios para que ocorra o atendimento domiciliar.
o POVO