A retração de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no primeiro
trimestre de 2020, na comparação com os três meses anteriores, prenuncia
resultado que deve ser ainda mais negativo no estado do Ceará, de
acordo com análise do presidente do Conselho Regional de Economia
(Corecon-CE), Ricardo Coimbra. "Pelos dados já anunciados da queda de
arrecadação do ICMS, algo em torno de 30%, significa dizer que vamos ter
um baque no PIB do Ceará", prevê.
Isso se dá, segundo o especialista, pela característica da composição da
economia cearense - mais dependente do comércio, que foi profundamente
impactado pelas medidas para conter o avanço da pandemia.
"Aproximadamente 75% do PIB do Estado é composto de comércio e serviço.
Então, se você teve uma queda considerável no ICMS, esperamos uma queda
significativa também no PIB", explica Ricardo Coimbra
A retomada, ainda que gradual da atividade econômica do Estado, a partir
de segunda-feira (1), pode ajudar a refrear o aumento dessas perdas.
Segundo Coimbra, junho deve ser visto como um mês de transição nas
contas públicas.
"Em janeiro, fevereiro e até começo de março, era possível observar uma
boa recuperação, com números positivos. Na sequência temos
aproximadamente três meses negativos e, encerrando o semestre, junho,
que talvez venha com alguma recuperação".
O desempenho da arrecadação estadual em abril e maio será determinante
para definir o tamanho a queda do PIB do Estado, segundo Ricardo, mas
ele estima que o tombo da atividade econômica cearense fique entre 4,5% e
5%, no primeiro semestre.
Previsão
Os primeiros sinais aparentes de retomada econômica devem ser observados
nos meses seguintes, após o período de transição. "Devemos ver um
reflexo mais forte em julho e agosto, quando você vai ter maior volume
das atividades e é provável que as empresas voltem a contratar, já que
em junho as operações retornarão com percentual reduzido", avalia
Coimbra.
O retorno da atividade industrial não essencial é vista, pelo
especialista, como fundamental na engrenagem econômica do Ceará. "A
indústria teve alguns setores que se mantiveram, como alimentos e
bebidas, mas outros foram muito prejudicados, como é o caso da indústria
de confecções, calçados e construção civil, que geram muitos empregos",
aponta Coimbra.
Em uma perspectiva nacional, ele acredita que o segundo trimestre seja o
pior dos quatro períodos do ano. Coimbra prevê que o terceiro trimestre
seja de transição e que no último já traga um pouco mais de respiro
para a economia, mas não o suficiente para conter o tombo.
Comparação
Divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), a queda de 1,5% do PIB nacional no primeiro trimestre, foi
semelhante à verificada em outros países da América, onde o vírus se
disseminou em momento posterior ao verificado na Ásia e Europa.
Há dois fatores, no entanto, que levam a previsões de que o País terá um
dos piores desempenhos entre as principais economias mundiais neste e
no próximo ano, com risco de retroceder aos níveis de 2010: o fato de o
País vir de um período marcado pela pior recessão de sua história e da
expectativa de que tenha forte queda do PIB neste ano, seguida por uma
fraca recuperação nos anos seguintes.