O preço dos respiradores e ventiladores – aparelhos
necessários para atender os doentes graves contaminados pela Covid 19 –
subiram mais de 211% em uma semana. A apuração foi feita junto a
técnicos dos governos que estão tentando adquirir esses equipamentos.
Segundo o relato de um profissional, o respirador, que
geralmente custa US$ 17 mil, começou a ser negociado a US$ 24 mil. O
preço subiu praticamente todos os dias, avançando para US$ 33 mil, US$
40 mil, US$ 43 mil e estava em US$ 53 mil nesta terça-feira (7).
Os chineses são praticamente os únicos fabricantes
mundiais de respiradores, ventiladores e suas peças. Os técnicos não
estão conseguindo negociar direto com as empresas fabricantes, mas com
distribuidores locais. Também tem aparecido vários atravessadores aqui
no Brasil.
Um fator que dificulta a compra dos aparelhos é a
disputa entre o presidente Jair Bolsonaro e os governadores. A compra é
descentralizada – Estados e municípios buscam no mercado o que precisam e
acabam competindo entre si e elevando os preços.
Pelos cálculos do governo federal, o país vai precisar
de 15 mil respiradores e já teria encomendado – sob diferentes vias –
12.750. Alguns especialistas apontam, porém, que podem ser necessário 30
mil aparelhos se a doença se espalhar.
Outro problema é esses equipamentos efetivamente chegarem ao país. A concorrência global é intensa.
Sob coordenação da Associação Brasileira da Indústria
de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), as empresas estão tentando se
organizar para produzir os ventiladores no país, mas não está fácil.
O Brasil tem apenas cinco fabricantes de respiradores,
todas de pequeno porte e uma delas em recuperação judicial. Além disso,
utilizam muitas peças importadas da China. A mais rara é uma válvula
necessária para que os respiradores funcionem.
As gigantes Flextronics, Positivo e Weg se associaram a
essas empresas locais para elevar o volume de produção, no entanto,
esbarram na falta de componentes. Klabin e Suzano colocaram seus times
de “supply chain” para tentar encontrar as peças. Existe até uma
tentativa de “ressuscitar” um respirador antigo, que ficou fora de
linha.
Na USP, UFRJ e UFMG, pesquisadores tentam desenvolver
um produto 100% nacional, porém, quando estiver finalizado, é preciso
homologação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Embora a produção dos respiradores seja urgente, os
produtos devem estar plenamente funcionais para evitar risco à vida dos
pacientes e também processos jurídicos, cíveis e até criminais para as
empresas envolvidas.
Roberto Moreira