“Ele vem com suspeita de covid, então entra na estatística”, disse médico sobre mortes em hospital na Bahia.
O infectologista Roberto Badaró, diretor
do maior centro de referência em tratamento de coronavírus na Bahia,
afirmou, na última quinta-feira (10), que 40% dos óbitos registrados no
Hospital Espanhol como Covid-19 são decorrentes de outras enfermidades.
Durante entrevista à Rádio Metrópole FM, Badaró declarou:
“Eu vou dar um exemplo simples: no
Hospital Espanhol, 40% dos pacientes que eu recebo não têm covid. E
morrem. E no atestado de óbito tá lá: covid. Porque tem três campos no
atestado de óbito. Ele vem com suspeita de covid, então entra na
estatística. É preciso que se veja isso com bastante critério.”
Após a repercussão da declaração de
Badaró, a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) publicou nota oficial,
nesta quinta-feira (11), onde o médico volta atrás.
Badaró disse que a afirmação feita na rádio não corresponde à realidade. Confira a íntegra da nota logo abaixo.
"Em relação às notícias que estão
sendo veiculadas sobre a classificação equivocada de óbitos por
coronavírus (Covid-19), venho a público dizer que a forma como
expressei-me não reflete corretamente o que acontece no Hospital
Espanhol, do qual sou Diretor Médico, nem faz justiça ao trabalho
primoroso que vem sendo realizado pelo Governo do Estado e Prefeituras
no enfrentamento da pandemia.
Não é correto afirmar que óbitos são
lançados indevidamente como Covid-19. Em verdade, todos os óbitos
ocorridos no Hospital Espanhol são avalizados pela coordenação médica.
Se o óbito ocorre é obrigação da unidade hospitalar que emite a
Declaração de Óbito (DO), colocar a causa corrigida e não continuar com a
suspeita diagnóstica da chegada. Na eventualidade de um óbito ocorrer
antes do resultado laboratorial, a DO sairá como “suspeita de Covid-19” e
pode ser corrigida postmortem pela autoridade sanitária estadual. Neste
cenário, cabe registrar que a Vigilância
Epidemiológica, de modo assertivo, só
contabiliza as declarações de óbito classificadas como casos suspeitos
de coronavírus após investigação e/ou resultado laboratorial
confirmatório.
É preciso compreender que, numa
situação de epidemia, o diagnóstico clínico é importante para não deixar
casos graves de fora. Não fosse assim, centenas de pessoas
permaneceriam nas UPAs por vários dias, em condições inadequadas de
tratamento.
Dessa forma, nem todos os pacientes
internados nos hospitais terão o resultado do RTPCR confirmado antes da
admissão. Assim sendo, uma parcela dos pacientes internados permanecerá
sem confirmação diagnóstica até o recebimento do resultado do
Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-BA). Cabe ao hospital de
referência, que recebe os pacientes suspeitos, investigar para tratar e
encaminhar adequadamente o caso. Por fim, todos os pacientes que recebem
diagnóstico negativo para coronavírus são contra-referenciados para
outras unidades públicas de saúde e serão transferidos.
Quero reiterar o meu respeito pelo
trabalho primoroso que vem sendo conduzido pelo Governo do Estado para
abrir vagas de UTI em todo o Estado. Igualmente reconheço o esforço dos
profissionais da Central de Regulação, que vêm trabalhando junto às UPAs
e regulando pacientes para os hospitais em tempo recorde, evitando que
ocorram mortes por falta de assistência adequada."
Dr. Roberto José da Silva Badaró
Diretor Médico do Hospital Espanhol