MESTRE: Inês Cidrão Alencar
Nome Artístico: Dona Inês
Ofício: Mestra Guardiã da Memória da Obra e Vida de Patativa
Inês, cujo nome completo é Inês Cidrão Alencar, nasceu no sítio Lagoa Dantas, na Região da Serra de Santana, Assaré (CE), no dia 20 de abril de 1939.
Filha de pais humildes, sendo seu pai, Antônio Gonçalves da Silva (nosso saudoso PATATIVA) e sua mãe, Belarmina Gonçalves Cidrão (dona Belinha, assim conhecida). Sua irmandade totaliza 14 irmãos, sendo que sobreviveram os seguintes: Maroni Gonçalves Cidrão, Raimundo Gonçalves Cidrão, Miriam Gonçalves da Silva, Lúcia Gonçalves da Silva, Geraldo Gonçalves de Castro (todos falecidos), Afonso Gonçalves de Castro, Pedro Gonçalves e João Batista Cidrão.
Inês, assim conhecida pelos familiares, casou-se em 1º de julho de 1962 com Raimundo Gonçalves Alencar e desse matrimônio, teve os seguintes filhos: Maria Cidrão Alencar, Espedito Cidrão Alencar (falecido), Fátima Cidrão Alencar, Antônia Cidrão Alencar (Toinha) e Francisco Cidrão Alencar.
Sempre residiu na Serra de Santana, ambiente povoado de bons vizinhos e em contato direto com a natureza.
O gosto pela poesia é advindo desde criança, pois, naquela época, ouvia do pai PATATIVA, belas rimas que descreviam traços amorosos e, sobretudo, poesias de cunho social.
Testemunhou, inúmeras vezes, na sala de casa, os encontros marcantes dialogados entre seu pai PATATIVA e poetas diversos, pesquisadores, escritores, entre outros. Mas um, para Inês, foi muito marcante: a “pega” de versos entre PATATIVA e Geraldo Gonçalves que, com o passar dos anos, é transformado no livro AO PÉ DA MESA.
Continuou a observar os dois grandes poetas e via que eles “brincavam” de construir poesias, composições, dentre outros!
Em nenhum momento, Inês pensou em deixar a Serra de Santana, haja vista que sempre teve uma excelente relação com todos os familiares, principalmente com seu pai PATATIVA, que tratava a todos com profunda igualdade.
Pela exposição desses fatos e pela dedicação à Cultura Popular do Assaré, a Gestão Municipal e a Secretaria de Cultura, Turismo, Desporto e Lazer de Assaré concedem o título de MESTRA dos Fazeres e Saberes Populares, na modalidade guardiã, à senhora INÊS CIDRÃO ALENCAR, por entender que ela é uma guardiã da Cultura Popular do Assaré – CE, no XVI PATATIVA do Assaré em Arte e Cultura, no ano de 2020.
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MESTRE: Antônio Crispim de Melo
Nome Artístico: Professor Crispim
Ofício: Mestre em Oralidade (História de Assaré e Famílias do Assaré)
BIOGRAFIA DO MESTRE.
Antônio Crispim de Melo nasceu no dia 09 de maio de 1950, no Sítio Mororós, no Município de Assaré (CE). Filho de Odílio Esmeraldo de Melo e de Tereza Crispim de Melo, tem sua irmandade constituída por: Tico Melo, Maria do Socorro e Tanta.
“Na minha infância, ouvia muitas histórias dos meus avós”, relata Crispim que, aos 04 anos, veio para a Cidade de Assaré com o objetivo de estudar numa escola pública/Reunidas, Escolas assim denominadas no tempo passado.
Nesse ínterim, nos Mororós, fez alfabetização com Dona Neli Prudêncio, irmã de dona Deusa.
E, para acrescentar mais trabalhos, seu pai, em 1954, passou a criar ovelhas. Mais um ofício para os filhos: procurar ovelhas nas matas e trazê-las para o curral, trabalho esse que faziam com o auxílio de uma cuia de milho.
Não tendo como estudar no Sítio, retorna à Cidade de Assaré e desempenha uma verdadeira maratona escolar – fez o primário nas Escolas Reunidas, com Dona Lígia Firmeza, estudou com: Dona Altamira, Dona Nedina, Irene Liberalino e Dona Maria Ester. Deu-se um intervalo e, depois, Crispim estudou no Ginásio Assareense de Doutor João Bantim. Fez cursinho no Prédio de São Vicente de Paula, para prestar o exame de admissão ao curso ginasial.
Fez a primeira e a segunda séries no Ginásio Assarense e foi pra Fortaleza. Na capital cearense, terminou o Ginásio no Colégio Brasil. Ainda em Fortaleza, fez o primeiro científico no Colégio Estadual Castelo Branco, Bairro Montese, e o restante do científico no Colégio da Arquidiocese de Fortaleza (particular), Colégio Castelo, na Avenida Dom Manoel.
Nessa passagem por solo ALENCARINO, foi convocado para servir ao Exército Brasileiro. “Servi o Exército durante 10 meses e 16 dias (de maio de 1969 a março de 1970) – era durante o período do AI 5”, descreve Crispim.
Novos rumos estavam por vir na vida de Crispim. Em 12 de janeiro de 1972 chega ao Rio de Janeiro com a finalidade de dar continuidade aos estudos, em parceria com seu irmão TICO. Lá, fez cursinho no Colégio Luíza de Castro, em Realengo. Fez vestibular para Engenharia e não fez o curso. Prestou vestibular para Matemática, novamente, na Faculdade Castelo Branco, obtendo êxito, lá concluiu o curso. Mesmo distante de sua terra natal, Crispim conviveu com muitos assareenses e trabalhou com pedras decorativas, exercício esse, realizado em lojas e casas particulares. Trabalhava durante o dia e estudava no período da noite.
Quando concluiu a Faculdade de Matemática, recebeu um convite verbal para trabalhar na Universidade de Ouro Preto, Minas Gerais, por Tarcísio Gonçalves, assareense, professor naquela Instituição. Mas, seu coração bateu forte rumo ao Nordeste do Brasil, mais especificamente para a Cidade de Assaré e, Crispim retorna ao Sítio Mororós, ao Município de nascença, em 13 de janeiro de 1982.
Em Assaré, começa a pôr em prática seus conhecimentos matemáticos, sua vertente de docente, mas suas aulas ministradas rendiam um ganho irrisório. Mesmo assim, continuou a trabalhar na educação e, quando abriu o segundo grau na Escola Moacir Mota, sua carga horária foi ampliada e os ganhos financeiros melhoraram.
Casou-se com Maria Marlúcia Freire de Melo e desse matrimônio tiveram uma filha, Adelaide Maria Freire de Melo.
Uma outra profissão marca a vida de Crispim: a de MARCENEIRO. Nessa, ele desempenhava as atividades em horas ociosas, dando, sobretudo, oportunidade a jovens que queriam aprender a profissão, entre tantos, cita o jovem Eduardo.
Nessa linha, também seu pai Odílio era um bom leitor de jornais e assinante da Revista Cruzeiro e sentava com ele para ler algumas notícias interessantes que a revista publicava.
Aposentado desde 2013, Crispim tem como atividade “viva” pesquisar, dialogar e registrar a História do Assaré porque, para ele, o povo assareense pouco sabe da sua própria história e, em geral, os filhos mal conhecem a história dos pais e dos avós. Quando muito conhecem, é o nome e o sobrenome.
Documenta os acontecimentos de Assaré, usa da sua ORALIDADE pelo prazer e não como profissão e, hoje, “enxerga” uma preocupação iminente: a permuta do diálogo frente a frente pelas mídias que surgem no dia a dia, principalmente o WhatsApp, tão corriqueiro no cotidiano.
A oralidade é uma das formas culturais mais antigas da humanidade. Por exemplo, as maiores relíquias do Antigo Oriente por centenas de anos viveram na base da oralidade, onde um mestre passava de sua geração para os mais jovens, as suas tradições e costumes. Os cinco continentes mantêm e mantiveram essa forma de cultura: as tribos africanas, as tribos ameríndias, os europeus e os colonizadores de todo o planeta, com exclusividade, o colonizador do Nordeste do Brasil.
Crispim é um herdeiro dessa cultura, que resiste ao tempo e à tecnologia que divulga o monólogo. O mesmo pratica e defende o diálogo, os encontros, os bate-papos nas calçadas, nas praças, nas roças, etc.
É como diz o ditado: “É falando que se entende.” Crispim faz parte de um grupo seleto de conhecedores da história, através da oralidade.
Seu conhecimento ultrapassa os limites do Município no conhecimento de histórias, de famílias, de religião, de política e de economia da região.
Ele está à disposição para explicar com prazer a história do nosso povo, através da oralidade.
Crispim se considera um homem “roceiro”, justificando-se pelo apreço que tem à natureza e pelo zelo que tem aos animais, haja vista que, ainda hoje, relembra as andanças no sítio Mororós e, por vezes, faz visitas ao seu torrão natal.
Pela exposição desses fatos e outros motivos, a Gestão Municipal e a Secretaria de Cultura, Turismo, Desporto e Lazer concedem o título de Mestre dos Fazeres e Saberes Populares ao senhor Antonio Crispim de Melo, na modalidade ORALIDADE por entender que ele é um guardião da Cultura Popular do Assaré – CE.
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MESTRE: José Jesus Leite
Nome Artístico: Jesus Leite
Ofício: Mestre Guardião dos Saberes e da Vida e Obra de Patativa do Assaré.
BIOGRAFIA DO MESTRE.
O professor e jornalista José Jesus Leite nasceu no Município de Tarrafas, então Distrito de Assaré, no dia 23 de dezembro de 1954, sendo filho de Moacir Pereira Leite e Maria Pereira Leite. Fez o curso primário na sua terra natal e concluiu o ginasial e científico em Fortaleza. Na capital cearense, entrou para o jornalismo em 1974, escrevendo para jornais e rádios. Na mesma época, fundou a assessoria de imprensa da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Ceará – FETRAECE. Em 1977, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou na Usina Nuclear de Angra dos Reis e depois em jornais da Região Sul-fluminense.
Regressando à terra natal, assumiu o magistério como profissão. A convite do prefeito Pedro Gonçalves de Oliveira, criou no âmbito do Município, a Assessoria de Imprensa da Prefeitura Municipal. Na década de 1980, abriu o processo de emancipação de Tarrafas, que foi vitorioso. Desde 1985, Jesus Leite reside em Assaré. Criou uma empatia com a cidade e vive a decantá-la. O nosso agraciado tem formação superior em letras e pós-graduação em Educação à Distância. É jornalista profissional, com registro no Ministério do Trabalho e sócio do Sindicato dos Jornalistas do Ceará. Em Assaré, exerce o jornalismo como redator de rádio-jornal.
O novo mestre da cultura tem como esposa a senhora Antonia Pereira Neta e é pai de Joannes Paulos Palácio Lédio Leite e Maria Luiza Pereira Leite.
Pela pesquisa que realiza diariamente para descobrir os arcanos da história assareense, faz-se hoje merecedor da titularidade de Mestre dos Saberes e Fazeres do Município de Assaré, pela Secretaria de Cultura, Turismo, Desporto e Lazer e a Gestão Municipal.
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MESTRE: José Djacir Augusto
Nome Artístico: Seu Djacir Augusto
Ofício: Mestre da Oralidade
José Djacir Augusto nasceu em Assaré, no dia 16 de junho de 1932. Filho de Francisco Carlos Augusto e Ana Carlos Dias, tendo como irmãos: Maria Djanira Dias Arrais, Djanisse Dias Augusta (falecida ainda criança), Antônio Djalma Augusto Dias, Maria Augusto Dias, Félix, Denise Augusto Dias, Maria Socorro Augusto Dias, Maria Djanisse Dias Arrais e José Sarto Augusto Dias.
Seu Djacir Augusto, assim conhecido em Assaré, sua terra natal, casou-se em 11 de janeiro de 1962 com Antônia Barros Augusto e tiveram 06 filhos, que são: Maria Elaine Augusto Arrais, José Hélio Augusto, Ana Eda Augusto, Francisca Leila Dias Bantim, Ana Carla Augusto Barros e Ana Maria Augusto.
Na infância, começou a trabalhar na roça juntamente com seu pai. Depois, passou a ajudar o pai no comércio de compra e venda de gado. Foi vaqueiro por muitos anos e trabalhou em açougue. Tempos vividos entre seca e pobreza.
Djacir, homem de muitos conhecimentos, começou a gostar da história de Assaré e respectivas famílias. Com isso, foi memorizando e se tornando um exímio professor na oralidade. Seus conhecimentos eram tantos, que professores, estudantes e pessoas que gostavam da história do povo da terra assareense, procuravam seu Djacir para dialogarem a respeito desse conhecimento.
Devido à capacidade que adquiriu durante décadas, tornou-se uma pessoa respeitada e, por esse motivo, a Secretaria de Cultura, Turismo, Desporto e Lazer e a Gestão Municipal lhe atribuem o título de Mestre dos Saberes e Fazeres da Cultura Assareense.
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MESTRE: José Lima Sobrinho ( IN MEMORIAM )
Mestre Zeca Lima
A contação de história é uma tradição que passa de pais para filhos e está presente nos quatro cantos do Ceará. Seja no litoral, na serra, na capital, mais especialmente no interior, onde ainda se conserva, em muitas cidades, o hábito de contar e ouvir histórias. Podem ser de pescador, causos, anedotas ou contos, como mostra o cordel ‘‘Causos do meu avô’’, de autoria da professora Francy Freire. Em busca de traçar um perfil do mais conhecido contador de história tradicional de Assaré, a cordelista foca sua narrativa nas histórias que ouviu do seu avô José Lima Sobrinho (Zeca Lima), sobre quem conheceremos, a seguir. José Lima Sobrinho nasceu e se criou no Sítio Porcinhos – zona rural de Assaré- no dia 17 de Abril de 1926. Filho de Antônio Lima de Sousa e Josefa Maria de Jesus, casou-se 03 vezes, e, desses matrimônios, teve dez 10 filhos, sendo eles: Maria das Graças Freire, Francisca das Chagas Freire, Antônio Gonçalves Lima, Antônio Emídio de Lima, Francisco Lima de Oliveira, Francisco Honório de Oliveira, Francisco Augusto de Oliveira, Antônia Francisca Lima de Souza, Francisca Marsônia de Oliveira e Francisca Marcônia de Oliveira Lima. Apenas aos 60 anos Seu Zeca veio morar com os filhos na Sede do Município, em busca de melhores condições de vida. Era comum, naquela época, o êxodo rural por ocasião de grandes períodos de seca. No entanto, a vinda do senhor Zeca Lima (como era conhecido) para a cidade, trazendo toda a linhagem, tinha outro objetivo: oferecer aos filhos uma educação de maior qualidade, com as professoras Dona Balbina Barata e Dona Ligia Firmeza, as mais conhecidas educadoras da época, assim como Dona Telina Almeida.
Muito devoto de São Francisco, foi, pelo menos duas vezes, de Assaré à cidade de Canindé a pé, pagando promessa. Nesse sentido, começou a viajar por várias cidades cearenses. Muito religioso, seu Zeca Lima fez parte durante 50 anos da irmandade “Irmãos do Santíssimo”. Além de católico assíduo, seu Zeca era mesmo conhecido como um grande contador de causos. O povo do Assaré identificava-se imediatamente com suas histórias, espontâneas, que retratavam o universo do sertão, nas histórias dos antepassados, de assombração, de “trancoso”, etc. Essas histórias, muitas vezes eram contadas na feira de Assaré onde, rapidamente, ficou conhecido como um dos maiores contadores de causos da região, como mostra a nona estrofe do cordel “causos do meu avô”. ‘‘Outro dia, ele contou que um rapaz adoeceu, teve uma febre tão alta, deitou e adormeceu. O armador esquentou, que os punhos da rede fedeu’’. E continua o cordel, narrando as histórias contadas por Seu Zeca: ‘‘Mas a mãe deu um remédio e o rapaz se enrolou, a rede de algodão grossa gemeu, gemeu e calou. A mãe muito preocupada, foi ver se ele melhorou’’. E continua: ‘‘Ao descobri-lo na rede, ela quase desmaiou, o rapaz estava morto, no suor se afogou, o remédio que tomara, tirou a febre e matou. Seu Zeca Lima também ficou conhecido pela capacidade de ajudar as pessoas. Mesmo sendo humilde, de poucos recursos, fazia questão de ajudar a quem recorria à sua ajuda, no Bairro Serra da Ema, onde fundou residência. Nesse sentido, era comum gastar todo seu dinheiro, advindo da aposentadoria, distribuindo “feiras” aos mais necessitados. O reconhecimento oficial se deu, apenas 7, anos após sua morte. José Lima Sobrinho, ou simplesmente Seu Zeca Lima, morreu no dia 19 de novembro de 2005. Em 2018, o Poder Executivo Municipal, por meio do prefeito Evanderto Almeida, sancionou um projeto de lei, aprovado na Câmara Municipal de Assaré denominando de “Zeca Lima”, uma das novas ruas da cidade. Algumas das histórias de José Lima Sobrinho, você encontra no cordel “Causos do meu avô”, lançado em 2018 através da Secult Assaré, em parceria com o SESC Crato. Veja o que retrata as últimas duas estrofes do cordel: ‘‘Outro dia ele botou uns terrenos pra vender perguntaram: - onde fica e foram lá para ver - Acima da minha casa quem quiser pode escolher. Era acima do telhado o povo só gargalhou algumas de suas piadas em livro até constou’’.
Em 2012 foi homenageado (IN MEMÓRIA) como Mestre dos Saberes e Fazeres Populares de Assaré, na categoria “Contador de Causos” pela Gestão Municipal e Secretaria de Cultura, Turismo, Desporto e Lazer.
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Mestre Dr. Plácido
Permita-nos a família do ilustre homenageado, dizer que, foge das nossas possibilidades, publicar a biografia do Dr. Plácido Cidade Nuvens, que recebeu a titularidade de Mestre Imortal da Cultura deste Município. Justifica-se: não há como resumir, a três ou quatro laudas a história de vida de um dos mais brilhantes brasileiros de todos os tempos. O seu perfil biográfico, que um dia será escrito por alguém, mesmo em formato compacto, ocupará centenas de páginas ou até milhares.
O nosso compromisso, hoje, com o Dr. Plácido Cidade Nuvens, não se reportará ao garoto prodígio das escolas de Santana do Cariri. Nem, tampouco, ao estudante que assustou os padres do Seminário São José, do Crato, e do Seminário da Prainha, em Fortaleza, pelo grau de desenvoltura ao aprender e socializar os conteúdos com tanta espontaneidade. Não faz parte da nossa intenção, destacar a sua construção intelectual ao se diplomar mestre e doutor nas melhores universidades da Europa. E que o seu regresso ao País, deu-se por fortes constrangimentos, porque a Europa queria arrebatá-lo, para alimentar as suas universidades com o saber. Não nos intenciona, da mesma forma, lembrar que ao pisar no solo no brasileiro, as universidades do Sudeste montaram barricadas, obstruindo o seu caminho do regresso à sua a terra, de onde um dia saiu, mas prometendo voltar.
Pode-se dizer, que Dr. Plácido ganhou todas as batalhas, para as quais se programou. Como também, saíra-se vitorioso, até mesmo, em outras que súgiram repentinamente no percurso. Em destaque, o Museu Paleontológico de Santana do Cariri e a sua entrada na política, que o levou ao Paço Municipal da sua Cidade.
Depois das justificativas, adentraremos ao que nos interessa.
O que nos faz enaltecer a memória do Dr. Plácido Cidade, aqui em Assaré, concedendo – lhe a titularidade de Mestre da Cultura, dá-se por conta do vínculo intelectual, que se consolidou entre ele e o Poeta Patativa, por décadas.
Crato 1957 O adolescente Plácido devorava as páginas dos volumosos livros, adotados pelo Seminário São José, local de estudos e profunda reflexão. No mesmo ano, Patativa recebia o seu primeiro livro, publicado com o título de capa: Inspiração Nordestina. Durante os dias úteis, o poeta lidava com os instrumentos rudes da agricultura e, nos finais de semana, tirava cantorias e vendia o seu livro.
Em suas férias, ao chegar à casa, o seminarista encontrou um exemplar de Inspiração Nordestina, adquirido por seu pai, diretamente de Patativa. Curioso pela leitura, deu de mão ao livro. Tudo que estava ali expresso em versos, produzia significados filosóficos, porque se voltava totalmente ao social. O poeta assareense denunciava as injustiças, a falta de políticas públicas, que deixava um grande vazio entre o poder e o povo.
Com o reinício das aulas, regressa ao Seminário São José, mas não se esquece do livro. Nos intervalos, caladinho e meio escondido, temendo represália do Monsenhor Pedro Rocha, intelectual e professor em várias disciplinas, que poderia rejeitar a linguagem cabocla, lia e relia as epopeias do vate da mão calosa.
O Assaré, como os demais municípios do Cariri tem vários motivos para elevar reverências ao Dr. Plácido Cidade Nuvens, a figura de número 1 do ensino superior, reconhecido da Região. Ao renunciar a um posto de trabalho na comunidade científica europeia, ou declinar aos convites das universidades brasileiras, ele agia coerentemente para blindar o compromisso que fizera a si mesmo: regressar à sua terra, para defender o seu sonhado projeto da educação universitária. Uma ação de humildade extrema. A opção pelo cariri só vem fortalecer o seu nível de consciência ética.
Ao regressar, mesmo que em plena ditadura militar, assumiu o braço social da Fundação Padre Ibiapina, entidade diocesana, com o objetivo de desenvolver projetos de conscientização das classes sociais menos favorecidas. Foram ações que percorreram todos os municípios do Cariri, envolvendo rurícolas, ao incrementar as políticas trabalhistas nos sindicatos de trabalhadores rurais, como ainda, levar a motivação ao associativismo. Órgão da mesma entidade, a Faculdade de Filosofia do Crato, sob a sua orientação pedagógica, modernizava os seus conteúdos e entrava no processo de reconhecimento. Em paralelo, motivou a criação do Curso de Direto, no Crato.
A grande vitória, obtida pelo professor Plácido, ocorreu inesperadamente, muito embora, na época de grande ativismo da sua vida, ou seja: prefeito, professor ativo e pesquisador. A história será contada em poucas palavras: Na abertura da EXPOCRATO, o governador Gonzaga Mota aproximou-se do professor Plácido, no palanque, e cochichou dizendo que precisava falar com ele, urgentemente. Discurso vai, discurso vem e, ao final, Gonzaga puxa-lhe com ar de inquietação e vai direto ao assunto, com estas palavras:
“Plácido, eu vou criar a Universidade do Cariri e tenho urgência, porque o meu governo se aproxima do final. Para facilidade do processo, liguei para D. Vicente, propondo a compra da Faculdade de Filosofia. Ele não aceitou a nossa proposta. Então, a única pessoa capaz de dobrá-lo, será você. Vamos fazer a Universidade do Cariri acontecer?”.
De fato, Dr. Plácido conseguiu convencer o bispo, indo com ele ao governador, presenciando a negociação, fazendo esforços para eliminar dúvidas. Perder uma universidade, seria nada menos do que um ato desastroso.
Então, todos os municípios do Cariri terão, até por obrigação ética, que dedicar um capítulo da sua história ao mestre Plácido Cidade Nuvens.
Por esse motivo, a Secretaria de Cultura, Turismo, Desporto e Lazer e a Gestão Municipal lhe reconheceram como Mestre da Cultura Popular Assareense.
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MESTRE: Inês Cidrão Alencar
Nome Artístico: Dona Inês
Ofício: Mestra Guardiã da Memória da Obra e Vida de Patativa
Inês, cujo nome completo é Inês Cidrão Alencar, nasceu no sítio Lagoa Dantas, na Região da Serra de Santana, Assaré (CE), no dia 20 de abril de 1939.
Filha de pais humildes, sendo seu pai, Antônio Gonçalves da Silva (nosso saudoso PATATIVA) e sua mãe, Belarmina Gonçalves Cidrão (dona Belinha, assim conhecida). Sua irmandade totaliza 14 irmãos, sendo que sobreviveram os seguintes: Maroni Gonçalves Cidrão, Raimundo Gonçalves Cidrão, Miriam Gonçalves da Silva, Lúcia Gonçalves da Silva, Geraldo Gonçalves de Castro (todos falecidos), Afonso Gonçalves de Castro, Pedro Gonçalves e João Batista Cidrão.
Inês, assim conhecida pelos familiares, casou-se em 1º de julho de 1962 com Raimundo Gonçalves Alencar e desse matrimônio, teve os seguintes filhos: Maria Cidrão Alencar, Espedito Cidrão Alencar (falecido), Fátima Cidrão Alencar, Antônia Cidrão Alencar (Toinha) e Francisco Cidrão Alencar.
Sempre residiu na Serra de Santana, ambiente povoado de bons vizinhos e em contato direto com a natureza.
O gosto pela poesia é advindo desde criança, pois, naquela época, ouvia do pai PATATIVA, belas rimas que descreviam traços amorosos e, sobretudo, poesias de cunho social.
Testemunhou, inúmeras vezes, na sala de casa, os encontros marcantes dialogados entre seu pai PATATIVA e poetas diversos, pesquisadores, escritores, entre outros. Mas um, para Inês, foi muito marcante: a “pega” de versos entre PATATIVA e Geraldo Gonçalves que, com o passar dos anos, é transformado no livro AO PÉ DA MESA.
Continuou a observar os dois grandes poetas e via que eles “brincavam” de construir poesias, composições, dentre outros!
Em nenhum momento, Inês pensou em deixar a Serra de Santana, haja vista que sempre teve uma excelente relação com todos os familiares, principalmente com seu pai PATATIVA, que tratava a todos com profunda igualdade.
Pela exposição desses fatos e pela dedicação à Cultura Popular do Assaré, a Gestão Municipal e a Secretaria de Cultura, Turismo, Desporto e Lazer de Assaré concedem o título de MESTRA dos Fazeres e Saberes Populares, na modalidade guardiã, à senhora INÊS CIDRÃO ALENCAR, por entender que ela é uma guardiã da Cultura Popular do Assaré – CE, no XVI PATATIVA do Assaré em Arte e Cultura, no ano de 2020.
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MESTRE: Antônio Crispim de Melo
Nome Artístico: Professor Crispim
Ofício: Mestre em Oralidade (História de Assaré e Famílias do Assaré)
BIOGRAFIA DO MESTRE.
Antônio Crispim de Melo nasceu no dia 09 de maio de 1950, no Sítio Mororós, no Município de Assaré (CE). Filho de Odílio Esmeraldo de Melo e de Tereza Crispim de Melo, tem sua irmandade constituída por: Tico Melo, Maria do Socorro e Tanta.
“Na minha infância, ouvia muitas histórias dos meus avós”, relata Crispim que, aos 04 anos, veio para a Cidade de Assaré com o objetivo de estudar numa escola pública/Reunidas, Escolas assim denominadas no tempo passado.
Nesse ínterim, nos Mororós, fez alfabetização com Dona Neli Prudêncio, irmã de dona Deusa.
E, para acrescentar mais trabalhos, seu pai, em 1954, passou a criar ovelhas. Mais um ofício para os filhos: procurar ovelhas nas matas e trazê-las para o curral, trabalho esse que faziam com o auxílio de uma cuia de milho.
Não tendo como estudar no Sítio, retorna à Cidade de Assaré e desempenha uma verdadeira maratona escolar – fez o primário nas Escolas Reunidas, com Dona Lígia Firmeza, estudou com: Dona Altamira, Dona Nedina, Irene Liberalino e Dona Maria Ester. Deu-se um intervalo e, depois, Crispim estudou no Ginásio Assareense de Doutor João Bantim. Fez cursinho no Prédio de São Vicente de Paula, para prestar o exame de admissão ao curso ginasial.
Fez a primeira e a segunda séries no Ginásio Assarense e foi pra Fortaleza. Na capital cearense, terminou o Ginásio no Colégio Brasil. Ainda em Fortaleza, fez o primeiro científico no Colégio Estadual Castelo Branco, Bairro Montese, e o restante do científico no Colégio da Arquidiocese de Fortaleza (particular), Colégio Castelo, na Avenida Dom Manoel.
Nessa passagem por solo ALENCARINO, foi convocado para servir ao Exército Brasileiro. “Servi o Exército durante 10 meses e 16 dias (de maio de 1969 a março de 1970) – era durante o período do AI 5”, descreve Crispim.
Novos rumos estavam por vir na vida de Crispim. Em 12 de janeiro de 1972 chega ao Rio de Janeiro com a finalidade de dar continuidade aos estudos, em parceria com seu irmão TICO. Lá, fez cursinho no Colégio Luíza de Castro, em Realengo. Fez vestibular para Engenharia e não fez o curso. Prestou vestibular para Matemática, novamente, na Faculdade Castelo Branco, obtendo êxito, lá concluiu o curso. Mesmo distante de sua terra natal, Crispim conviveu com muitos assareenses e trabalhou com pedras decorativas, exercício esse, realizado em lojas e casas particulares. Trabalhava durante o dia e estudava no período da noite.
Quando concluiu a Faculdade de Matemática, recebeu um convite verbal para trabalhar na Universidade de Ouro Preto, Minas Gerais, por Tarcísio Gonçalves, assareense, professor naquela Instituição. Mas, seu coração bateu forte rumo ao Nordeste do Brasil, mais especificamente para a Cidade de Assaré e, Crispim retorna ao Sítio Mororós, ao Município de nascença, em 13 de janeiro de 1982.
Em Assaré, começa a pôr em prática seus conhecimentos matemáticos, sua vertente de docente, mas suas aulas ministradas rendiam um ganho irrisório. Mesmo assim, continuou a trabalhar na educação e, quando abriu o segundo grau na Escola Moacir Mota, sua carga horária foi ampliada e os ganhos financeiros melhoraram.
Casou-se com Maria Marlúcia Freire de Melo e desse matrimônio tiveram uma filha, Adelaide Maria Freire de Melo.
Uma outra profissão marca a vida de Crispim: a de MARCENEIRO. Nessa, ele desempenhava as atividades em horas ociosas, dando, sobretudo, oportunidade a jovens que queriam aprender a profissão, entre tantos, cita o jovem Eduardo.
Nessa linha, também seu pai Odílio era um bom leitor de jornais e assinante da Revista Cruzeiro e sentava com ele para ler algumas notícias interessantes que a revista publicava.
Aposentado desde 2013, Crispim tem como atividade “viva” pesquisar, dialogar e registrar a História do Assaré porque, para ele, o povo assareense pouco sabe da sua própria história e, em geral, os filhos mal conhecem a história dos pais e dos avós. Quando muito conhecem, é o nome e o sobrenome.
Documenta os acontecimentos de Assaré, usa da sua ORALIDADE pelo prazer e não como profissão e, hoje, “enxerga” uma preocupação iminente: a permuta do diálogo frente a frente pelas mídias que surgem no dia a dia, principalmente o WhatsApp, tão corriqueiro no cotidiano.
A oralidade é uma das formas culturais mais antigas da humanidade. Por exemplo, as maiores relíquias do Antigo Oriente por centenas de anos viveram na base da oralidade, onde um mestre passava de sua geração para os mais jovens, as suas tradições e costumes. Os cinco continentes mantêm e mantiveram essa forma de cultura: as tribos africanas, as tribos ameríndias, os europeus e os colonizadores de todo o planeta, com exclusividade, o colonizador do Nordeste do Brasil.
Crispim é um herdeiro dessa cultura, que resiste ao tempo e à tecnologia que divulga o monólogo. O mesmo pratica e defende o diálogo, os encontros, os bate-papos nas calçadas, nas praças, nas roças, etc.
É como diz o ditado: “É falando que se entende.” Crispim faz parte de um grupo seleto de conhecedores da história, através da oralidade.
Seu conhecimento ultrapassa os limites do Município no conhecimento de histórias, de famílias, de religião, de política e de economia da região.
Ele está à disposição para explicar com prazer a história do nosso povo, através da oralidade.
Crispim se considera um homem “roceiro”, justificando-se pelo apreço que tem à natureza e pelo zelo que tem aos animais, haja vista que, ainda hoje, relembra as andanças no sítio Mororós e, por vezes, faz visitas ao seu torrão natal.
Pela exposição desses fatos e outros motivos, a Gestão Municipal e a Secretaria de Cultura, Turismo, Desporto e Lazer concedem o título de Mestre dos Fazeres e Saberes Populares ao senhor Antonio Crispim de Melo, na modalidade ORALIDADE por entender que ele é um guardião da Cultura Popular do Assaré – CE.
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MESTRE: José Jesus Leite
Nome Artístico: Jesus Leite
Ofício: Mestre Guardião dos Saberes e da Vida e Obra de Patativa do Assaré.
BIOGRAFIA DO MESTRE.
O professor e jornalista José Jesus Leite nasceu no Município de Tarrafas, então Distrito de Assaré, no dia 23 de dezembro de 1954, sendo filho de Moacir Pereira Leite e Maria Pereira Leite. Fez o curso primário na sua terra natal e concluiu o ginasial e científico em Fortaleza. Na capital cearense, entrou para o jornalismo em 1974, escrevendo para jornais e rádios. Na mesma época, fundou a assessoria de imprensa da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Ceará – FETRAECE. Em 1977, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou na Usina Nuclear de Angra dos Reis e depois em jornais da Região Sul-fluminense.
Regressando à terra natal, assumiu o magistério como profissão. A convite do prefeito Pedro Gonçalves de Oliveira, criou no âmbito do Município, a Assessoria de Imprensa da Prefeitura Municipal. Na década de 1980, abriu o processo de emancipação de Tarrafas, que foi vitorioso. Desde 1985, Jesus Leite reside em Assaré. Criou uma empatia com a cidade e vive a decantá-la. O nosso agraciado tem formação superior em letras e pós-graduação em Educação à Distância. É jornalista profissional, com registro no Ministério do Trabalho e sócio do Sindicato dos Jornalistas do Ceará. Em Assaré, exerce o jornalismo como redator de rádio-jornal.
O novo mestre da cultura tem como esposa a senhora Antonia Pereira Neta e é pai de Joannes Paulos Palácio Lédio Leite e Maria Luiza Pereira Leite.
Pela pesquisa que realiza diariamente para descobrir os arcanos da história assareense, faz-se hoje merecedor da titularidade de Mestre dos Saberes e Fazeres do Município de Assaré, pela Secretaria de Cultura, Turismo, Desporto e Lazer e a Gestão Municipal.
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MESTRE: José Djacir Augusto
Nome Artístico: Seu Djacir Augusto
Ofício: Mestre da Oralidade
José Djacir Augusto nasceu em Assaré, no dia 16 de junho de 1932. Filho de Francisco Carlos Augusto e Ana Carlos Dias, tendo como irmãos: Maria Djanira Dias Arrais, Djanisse Dias Augusta (falecida ainda criança), Antônio Djalma Augusto Dias, Maria Augusto Dias, Félix, Denise Augusto Dias, Maria Socorro Augusto Dias, Maria Djanisse Dias Arrais e José Sarto Augusto Dias.
Seu Djacir Augusto, assim conhecido em Assaré, sua terra natal, casou-se em 11 de janeiro de 1962 com Antônia Barros Augusto e tiveram 06 filhos, que são: Maria Elaine Augusto Arrais, José Hélio Augusto, Ana Eda Augusto, Francisca Leila Dias Bantim, Ana Carla Augusto Barros e Ana Maria Augusto.
Na infância, começou a trabalhar na roça juntamente com seu pai. Depois, passou a ajudar o pai no comércio de compra e venda de gado. Foi vaqueiro por muitos anos e trabalhou em açougue. Tempos vividos entre seca e pobreza.
Djacir, homem de muitos conhecimentos, começou a gostar da história de Assaré e respectivas famílias. Com isso, foi memorizando e se tornando um exímio professor na oralidade. Seus conhecimentos eram tantos, que professores, estudantes e pessoas que gostavam da história do povo da terra assareense, procuravam seu Djacir para dialogarem a respeito desse conhecimento.
Devido à capacidade que adquiriu durante décadas, tornou-se uma pessoa respeitada e, por esse motivo, a Secretaria de Cultura, Turismo, Desporto e Lazer e a Gestão Municipal lhe atribuem o título de Mestre dos Saberes e Fazeres da Cultura Assareense.
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MESTRE: José Lima Sobrinho ( IN MEMORIAM )
Mestre Zeca Lima
A contação de história é uma tradição que passa de pais para filhos e está presente nos quatro cantos do Ceará. Seja no litoral, na serra, na capital, mais especialmente no interior, onde ainda se conserva, em muitas cidades, o hábito de contar e ouvir histórias. Podem ser de pescador, causos, anedotas ou contos, como mostra o cordel ‘‘Causos do meu avô’’, de autoria da professora Francy Freire. Em busca de traçar um perfil do mais conhecido contador de história tradicional de Assaré, a cordelista foca sua narrativa nas histórias que ouviu do seu avô José Lima Sobrinho (Zeca Lima), sobre quem conheceremos, a seguir. José Lima Sobrinho nasceu e se criou no Sítio Porcinhos – zona rural de Assaré- no dia 17 de Abril de 1926. Filho de Antônio Lima de Sousa e Josefa Maria de Jesus, casou-se 03 vezes, e, desses matrimônios, teve dez 10 filhos, sendo eles: Maria das Graças Freire, Francisca das Chagas Freire, Antônio Gonçalves Lima, Antônio Emídio de Lima, Francisco Lima de Oliveira, Francisco Honório de Oliveira, Francisco Augusto de Oliveira, Antônia Francisca Lima de Souza, Francisca Marsônia de Oliveira e Francisca Marcônia de Oliveira Lima. Apenas aos 60 anos Seu Zeca veio morar com os filhos na Sede do Município, em busca de melhores condições de vida. Era comum, naquela época, o êxodo rural por ocasião de grandes períodos de seca. No entanto, a vinda do senhor Zeca Lima (como era conhecido) para a cidade, trazendo toda a linhagem, tinha outro objetivo: oferecer aos filhos uma educação de maior qualidade, com as professoras Dona Balbina Barata e Dona Ligia Firmeza, as mais conhecidas educadoras da época, assim como Dona Telina Almeida.
Muito devoto de São Francisco, foi, pelo menos duas vezes, de Assaré à cidade de Canindé a pé, pagando promessa. Nesse sentido, começou a viajar por várias cidades cearenses. Muito religioso, seu Zeca Lima fez parte durante 50 anos da irmandade “Irmãos do Santíssimo”. Além de católico assíduo, seu Zeca era mesmo conhecido como um grande contador de causos. O povo do Assaré identificava-se imediatamente com suas histórias, espontâneas, que retratavam o universo do sertão, nas histórias dos antepassados, de assombração, de “trancoso”, etc. Essas histórias, muitas vezes eram contadas na feira de Assaré onde, rapidamente, ficou conhecido como um dos maiores contadores de causos da região, como mostra a nona estrofe do cordel “causos do meu avô”. ‘‘Outro dia, ele contou que um rapaz adoeceu, teve uma febre tão alta, deitou e adormeceu. O armador esquentou, que os punhos da rede fedeu’’. E continua o cordel, narrando as histórias contadas por Seu Zeca: ‘‘Mas a mãe deu um remédio e o rapaz se enrolou, a rede de algodão grossa gemeu, gemeu e calou. A mãe muito preocupada, foi ver se ele melhorou’’. E continua: ‘‘Ao descobri-lo na rede, ela quase desmaiou, o rapaz estava morto, no suor se afogou, o remédio que tomara, tirou a febre e matou. Seu Zeca Lima também ficou conhecido pela capacidade de ajudar as pessoas. Mesmo sendo humilde, de poucos recursos, fazia questão de ajudar a quem recorria à sua ajuda, no Bairro Serra da Ema, onde fundou residência. Nesse sentido, era comum gastar todo seu dinheiro, advindo da aposentadoria, distribuindo “feiras” aos mais necessitados. O reconhecimento oficial se deu, apenas 7, anos após sua morte. José Lima Sobrinho, ou simplesmente Seu Zeca Lima, morreu no dia 19 de novembro de 2005. Em 2018, o Poder Executivo Municipal, por meio do prefeito Evanderto Almeida, sancionou um projeto de lei, aprovado na Câmara Municipal de Assaré denominando de “Zeca Lima”, uma das novas ruas da cidade. Algumas das histórias de José Lima Sobrinho, você encontra no cordel “Causos do meu avô”, lançado em 2018 através da Secult Assaré, em parceria com o SESC Crato. Veja o que retrata as últimas duas estrofes do cordel: ‘‘Outro dia ele botou uns terrenos pra vender perguntaram: - onde fica e foram lá para ver - Acima da minha casa quem quiser pode escolher. Era acima do telhado o povo só gargalhou algumas de suas piadas em livro até constou’’.
Em 2012 foi homenageado (IN MEMÓRIA) como Mestre dos Saberes e Fazeres Populares de Assaré, na categoria “Contador de Causos” pela Gestão Municipal e Secretaria de Cultura, Turismo, Desporto e Lazer.
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Mestre Dr. Plácido
Permita-nos a família do ilustre homenageado, dizer que, foge das nossas possibilidades, publicar a biografia do Dr. Plácido Cidade Nuvens, que recebeu a titularidade de Mestre Imortal da Cultura deste Município. Justifica-se: não há como resumir, a três ou quatro laudas a história de vida de um dos mais brilhantes brasileiros de todos os tempos. O seu perfil biográfico, que um dia será escrito por alguém, mesmo em formato compacto, ocupará centenas de páginas ou até milhares.
O nosso compromisso, hoje, com o Dr. Plácido Cidade Nuvens, não se reportará ao garoto prodígio das escolas de Santana do Cariri. Nem, tampouco, ao estudante que assustou os padres do Seminário São José, do Crato, e do Seminário da Prainha, em Fortaleza, pelo grau de desenvoltura ao aprender e socializar os conteúdos com tanta espontaneidade. Não faz parte da nossa intenção, destacar a sua construção intelectual ao se diplomar mestre e doutor nas melhores universidades da Europa. E que o seu regresso ao País, deu-se por fortes constrangimentos, porque a Europa queria arrebatá-lo, para alimentar as suas universidades com o saber. Não nos intenciona, da mesma forma, lembrar que ao pisar no solo no brasileiro, as universidades do Sudeste montaram barricadas, obstruindo o seu caminho do regresso à sua a terra, de onde um dia saiu, mas prometendo voltar.
Pode-se dizer, que Dr. Plácido ganhou todas as batalhas, para as quais se programou. Como também, saíra-se vitorioso, até mesmo, em outras que súgiram repentinamente no percurso. Em destaque, o Museu Paleontológico de Santana do Cariri e a sua entrada na política, que o levou ao Paço Municipal da sua Cidade.
Depois das justificativas, adentraremos ao que nos interessa.
O que nos faz enaltecer a memória do Dr. Plácido Cidade, aqui em Assaré, concedendo – lhe a titularidade de Mestre da Cultura, dá-se por conta do vínculo intelectual, que se consolidou entre ele e o Poeta Patativa, por décadas.
Crato 1957 O adolescente Plácido devorava as páginas dos volumosos livros, adotados pelo Seminário São José, local de estudos e profunda reflexão. No mesmo ano, Patativa recebia o seu primeiro livro, publicado com o título de capa: Inspiração Nordestina. Durante os dias úteis, o poeta lidava com os instrumentos rudes da agricultura e, nos finais de semana, tirava cantorias e vendia o seu livro.
Em suas férias, ao chegar à casa, o seminarista encontrou um exemplar de Inspiração Nordestina, adquirido por seu pai, diretamente de Patativa. Curioso pela leitura, deu de mão ao livro. Tudo que estava ali expresso em versos, produzia significados filosóficos, porque se voltava totalmente ao social. O poeta assareense denunciava as injustiças, a falta de políticas públicas, que deixava um grande vazio entre o poder e o povo.
Com o reinício das aulas, regressa ao Seminário São José, mas não se esquece do livro. Nos intervalos, caladinho e meio escondido, temendo represália do Monsenhor Pedro Rocha, intelectual e professor em várias disciplinas, que poderia rejeitar a linguagem cabocla, lia e relia as epopeias do vate da mão calosa.
O Assaré, como os demais municípios do Cariri tem vários motivos para elevar reverências ao Dr. Plácido Cidade Nuvens, a figura de número 1 do ensino superior, reconhecido da Região. Ao renunciar a um posto de trabalho na comunidade científica europeia, ou declinar aos convites das universidades brasileiras, ele agia coerentemente para blindar o compromisso que fizera a si mesmo: regressar à sua terra, para defender o seu sonhado projeto da educação universitária. Uma ação de humildade extrema. A opção pelo cariri só vem fortalecer o seu nível de consciência ética.
Ao regressar, mesmo que em plena ditadura militar, assumiu o braço social da Fundação Padre Ibiapina, entidade diocesana, com o objetivo de desenvolver projetos de conscientização das classes sociais menos favorecidas. Foram ações que percorreram todos os municípios do Cariri, envolvendo rurícolas, ao incrementar as políticas trabalhistas nos sindicatos de trabalhadores rurais, como ainda, levar a motivação ao associativismo. Órgão da mesma entidade, a Faculdade de Filosofia do Crato, sob a sua orientação pedagógica, modernizava os seus conteúdos e entrava no processo de reconhecimento. Em paralelo, motivou a criação do Curso de Direto, no Crato.
A grande vitória, obtida pelo professor Plácido, ocorreu inesperadamente, muito embora, na época de grande ativismo da sua vida, ou seja: prefeito, professor ativo e pesquisador. A história será contada em poucas palavras: Na abertura da EXPOCRATO, o governador Gonzaga Mota aproximou-se do professor Plácido, no palanque, e cochichou dizendo que precisava falar com ele, urgentemente. Discurso vai, discurso vem e, ao final, Gonzaga puxa-lhe com ar de inquietação e vai direto ao assunto, com estas palavras:
“Plácido, eu vou criar a Universidade do Cariri e tenho urgência, porque o meu governo se aproxima do final. Para facilidade do processo, liguei para D. Vicente, propondo a compra da Faculdade de Filosofia. Ele não aceitou a nossa proposta. Então, a única pessoa capaz de dobrá-lo, será você. Vamos fazer a Universidade do Cariri acontecer?”.
De fato, Dr. Plácido conseguiu convencer o bispo, indo com ele ao governador, presenciando a negociação, fazendo esforços para eliminar dúvidas. Perder uma universidade, seria nada menos do que um ato desastroso.
Então, todos os municípios do Cariri terão, até por obrigação ética, que dedicar um capítulo da sua história ao mestre Plácido Cidade Nuvens.
Por esse motivo, a Secretaria de Cultura, Turismo, Desporto e Lazer e a Gestão Municipal lhe reconheceram como Mestre da Cultura Popular Assareense.
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