A Justiça Eleitoral vai ter dificuldade de mobilizar todo o pessoal necessário ao funcionamento das seções nos dois dias de votação para prefeitos e vereadores. O temor de contrair o coronavírus, mesmo que em novembro, quando deverão acontecer os dois turnos de votação, a pandemia esteja arrefecida, permanecerá muito latente em todos os que hoje se acautelam, mantendo-se no isolamento recomendado pelos profissionais da saúde.
Além disso, outro fator preponderante para a ausência de mesários será a possibilidade de não aplicação de qualquer sanção para os faltosos, exatamente por conta do direito de as pessoas precaverem-se de tão agressivo vírus.
A emenda constitucional que adiou o calendário de votação deste ano, como aqui já reportado, permite ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) flexibilizar algumas exigências da legislação eleitoral comum, sob a alegação da necessidade de adoção de providências facilitadoras do processo de votação, uma medida louvável, convenhamos, mas, ineficaz no sentido de dar segurança emocional ao eleitor de encontrar, na seção eleitoral, um ambiente deveras seguro quanto a não transmissão do vírus, embora essa segurança ele não a tenha em nenhum espaço, mesmo com toda precaução individual adotada.
Provavelmente, nenhum eleitor, com a obrigação de votar neste ano (com mais de 18 e menos de 70 anos), experimente uma outra eleição como a de 2020, tal o seu inusitado por conta da pandemia do coronavírus. Mas, mesmo antes do surgimento desta grave enfermidade, os preparativos burocráticos da eleição já registravam dificuldades: o TSE não conseguiu comprar algumas centenas de urnas eletrônicas necessárias à garantia do bom funcionamento das seções eleitorais. A licitação para a aquisição das urnas, em razão de briga entre os pretensos fornecedores das máquinas, acabou anulada. As urnas que serão utilizadas são velhas e ainda não passaram pelos testes obrigatórios às vésperas das votações.
Os candidatos, mesmo impedidos legalmente de transportarem ou oferecerem transportes aos eleitores, terão de esforçarem-se mais ainda na busca do convencimento da população de comparecer às urnas, sensibilizando-a quanto a importância do exercício de votar e das medidas de segurança adotadas para protegerem-na do vírus. Sem esse trabalho, não há dúvida, vamos registrar um elevadíssimo índice de abstenção, com sérias consequências para os candidatos a cargos proporcionais por partidos tidos como pequenos. As grandes agremiações, por concentrarem lideranças mais expressivas, sofrerão menos com as ausências dos votantes.
Os atuais detentores de mandatos, apesar das dificuldades, acabarão sendo beneficiados com a atipicidade destas eleições. De certa forma eles já têm uma estrutura montada, a partir de seus gabinetes, que lhes facilita as ligações com as lideranças comunitárias, base principal de suas eleições, sem chamar a atenção dos representantes do Ministério Público Eleitoral, pois o trabalho político acaba sendo confundido com o exercício parlamentar. Mas, assim mesmo, não terão tantas facilidades de reeleição com a elevada abstenção.
Jornalista Edson Silva