Caixas pretas "misteriosas" reaparecem no litoral cearense; dessa vez, na praia de Jericoacoara

Blog do  Amaury Alencar
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Turistas encontraram duas unidades do material  (Foto: Gil Dicelli)
Turistas encontraram duas unidades do material (Foto: Gil Dicelli)

As “misteriosas” caixas pretas, que começaram a aparecer no litoral cearense há dois anos, tornaram a surgir nas águas do Estado. Duas unidades do material de borracha- alvo de investigações policiais à época, foram encontradas por uma dupla de turistas na manhã desta sexta-feira, 11, na Praia Malhada, em Jericoacoara, a 300 quilômetros de Fortaleza.

De acordo com informações dos viajantes, que estão na região a passeio e preferiram não se identificar-, moradores foram ao local após saberem da notícia e tentaram remover o material- mas não conseguiram devido ao peso dele. "Disseram que parece contrapeso de barco, mas não é", informou ainda um dos turistas.


A descrição é semelhante as que receberam outros desses pacotes encontrados- desde 2018, no Estado, em regiões como a Praia das Dunas, Praia de Amontada e a Praia do Futuro. Nessas primeiras aparições, o Instituto do Meio Ambiente (IMA) informou que os pacotes eram feitos de polímero, material sintético derivado do petróleo.

À época também, foi instaurada uma investigação policial acerca do material, mas ações criminosas acabaram sendo descartadas. Até o fechamento desta matéria, nenhum órgão responsável havia mandado equipes ao local ainda- segundo turistas.

A Secretaria do Turismo da região segue apurando o caso e, segundo levantou com alguns moradores, as caixas podem ser as mesmas que apareceram há cerca de um ano e devem ter permanecido na areia. Essa versão, contudo, é refutada por outros locais, que afirmaram nunca terem visto peças naquela localidade.

Em nota, a Marinha, por intermédio da Capitania dos Portos do Ceará (CPCE), informou que "não foram registrados acidentes náuticos na região que justifiquem o aparecimento dos “pacotes sem identificação” que estão sendo encontrados no litoral do Nordeste desde 2018".

"As atribuições e competências da Autoridade Marítima brasileira se referem, exclusivamente, à garantia da segurança da navegação, da salvaguarda da vida humana no mar e águas interiores, e da prevenção à poluição hídrica causada por embarcações, plataformas e suas instalações de apoio", ressalta ainda o órgão.


Caixas têm origem na guerra

Ao analisar os registros realizados pelos turistas, Luis Ernesto Arruda, professor do Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará (Labomar-UFC), afirma que o material é o mesmo que foi encontrado nas outras praias do Estado e em algumas regiões litorâneas do Nordeste. "Com a intensificação dos ventos nesse segundo semestre, as ondas e correntes trazem (os pacotes) de volta para a praia", informou.

A origem das caixas "misteriosas", conforme descoberto pelo especialista em parceria com o também pesquisador cearense Carlos Teixeira, tem relação com a Segunda Guerra Mundial (1935-1945). Isso porque os pacotes pertencem ao navio alemão Rio Grande, que levava os fardos de borracha como parte de táticas "essenciais" para a vitória nazista.

Ao sofrer um ataque em 1944, no Atlântico Sul, o equipamento naufragou e as caixas se espalharam no oceano, sendo levadas pela corrente marítima. No mesmo ano, segundo descoberta dos cearenses, já era possível identificar esses objetos em regiões como o Porto do Mucuripe.

Ernesto relembra que os fardos já causaram acidentes que resultaram na morte de duas pessoas no Rio Grande do Norte. O caso chegou a ser divulgado pelo jornal Correio do Agreste, no inicio do ano passado, quando dezenas desses materiais apareceram na região.

Em live realizada no Youtube, o pesquisador Carlos Teixeira afirmou que as caixas podem chegar a pesar 200 quilos e que- além do impacto na vida marinha, já mostram riscos a vida humana.  

o Povo 

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