CPI DA COVID : Presidente da Anvisa confirma tentativa de mudar bula da cloroquina em reunião com Bolsonaro

Blog do  Amaury Alencar
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Presidente da Anvisa confirma tentativa de mudar bula da cloroquina em reunião ministerial (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senad)
Presidente da Anvisa confirma tentativa de mudar bula da cloroquina em reunião ministerial (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senad)

O diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, confirmou à CPI da Covid, na manhã desta terça-feira, 11, a tentativa de mudança da bula da hidroxicloroquina, solicitada pelo presidente Jair Bolsonaro, como havia informado o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta, em depoimento da semana passada.

Após pergunta do relator, senador Renan Calheiros, Torres afirmou que estavam na reunião Braga Neto (chefe da Casa Civil), Mandetta (então Ministro da Saúde), Nise Yamaguchi (médica defensora da cloroquina), mais um médico, cujo nome não se recorda.

Ele afirmou que Nise estava "mobilizada" para defender a mudança para incluir recomendação para uso contra Covid, que ocorreu no quarto andar do Planalto. Yamaguchi era uma das opções cotadas para assumir o cargo em abril, após a demissão de Luiz Henrique Mandetta no dia 15. A médica ficou conhecida por sua defesa pública da polêmica hidroxicloroquina, usada no tratamento da malária e do lúpus, e que tem sido testada em pacientes com a Covid-19. 


Na CPI da Covid, Barra Torres deixou claro que só o detentor do registro (fabricante do medicamento) pode solicitar mudança na bula (inclusão, supressão ou alteração), mediante dossiê justificando. Ele disse que não foi consultado e não aconselhou presidente sobre uso de medicamentos para tratamento precoce.

Confira trecho do depoimento:

"Este documento foi comentado pela Dra. Nise Yamaguchi, o que provocou uma reação até um pouco deselegante minha, foi muito imediata, de dizer que aquilo não poderiam ser, talvez não seja do conhecimento de vossas excelências, só quem pode modificar uma bula de um medicamento registrado é a agência reguladora daquele país, mas desde que solicitado pelo detentor do registro.

Quando houve proposta de uma pessoa física de fazer isso me causou uma reação mais brusca, e disse 'isso não tem cabimento' e a reunião não durou muito mais do que isso.

Aconteceu em uma das salas de reuniões do quarto andar, porque lá era onde se reuniam então chamado grupo executivo interministerial e Anvisa para o enfrentamento da pandemia. Eu estava lá e depois dessa proposta o ministro Mandetta se retirou e eu me retirei logo depois. Agora eu não tenho informação sobre quem foi o autor, de quem foi a ideia. A doutora pareceu estar mobilizada com essa possibilidade". 

Ao ser questionado por Renan sobre se recomenda ou não o uso de hidroxicloroquina, o presidente da Anvisa ressaltou que os estudos RCT duplo cego não apontam eficácia. Ele disse que há um estudo em andamento (Coalizão 5) que avalia dados de uso de hidroxicloroquina em casos leves que termina em 31 de dezembro desse ano. Porém, Torres foi claro em não recomendar uso do medicamento. 

                          ( O povo) 

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