O diluente que o Ministério da Saúde precisa comprar é o cloreto de sódio (NaCl) 0,9%, o soro fisiológico, necessário para permitir a aplicação das vacinas contra covid-19 da Pfizer. Diferentemente de outras duas vacinas usadas no País, como a Coronavac e a AstraZeneca, o imunizante da Pfizer é fornecido pelo fabricante ao governo em ampolas concentradas, que rendem seis doses cada. O produto deve ser diluído em soro fisiológico, pouco antes da aplicação. Esse insumo é adquirido pelo Ministério da Saúde para distribuição aos Estados e municípios.
Os apontamentos da CGU começam nesse capítulo. O governo pediu que o diluente fosse fornecido em frascos de 10 ml. Só que, para evitar a contaminação, os agentes de saúde só podem extrair e usar 1,8 ml de cada frasco de cloreto de sódio, para diluição correta da vacina, a fim de produzir seis doses da Pfizer a partir da ampola concentrada.
Assim, os 8,2 ml restantes de cloreto de sódio têm de ser descartados.
Por isso, para os auditores da CGU, o governo deveria ter previsto e feito pesquisas de preço com o soro fisiológico apresentado em frascos menores, de 2 ml ou 5 ml, por exemplo, e não apenas de 10 ml, para ampliar a competitividade no mercado fornecedor.
A quantidade de ampolas exigidas também restringiu a escolha. O Departamento de Logística determinou que uma única empresa fornecesse 18 milhões de unidades de cloreto de sódio. Isso limitou a quantidade de firmas capazes de suprir a demanda, segundo os auditores. Mais de 200 empresas foram contatadas, mas a maioria não atingiu esse número. Somente a FBM Farma apresentou proposta de negociação, representando conjuntamente cinco fabricantes. A entrega das 18 milhões de doses, porém, seria feita em cinco etapas até agosto, e não de uma só vez. Para a CGU, o ministério poderia reduzir os custos aceitando propostas em menor quantidade, que, somadas, chegassem ao total.
“Esses dois fatos podem ter sido suficientes para que tivesse apenas uma única empresa interessada em contratar com o Ministério da Saúde e, consequentemente, que o preço aceito pelo gestor, de R$ 0,47, fosse maior que o valor da mediana calculado pelo Ministério da Saúde, de R$ 0,33, produzindo um sobrepreço de R$ 2.524.900, 00”, apontou o relatório da CGU.
O valor total da compra é de R$ 8,5 milhões, acima das médias de mercado pesquisadas. O preço de cada unidade do diluente será de R$ 0,47. O ministério tentou negociar uma redução para R$ 0,33, mas a FBM Farma, única fornecedora encontrada, recusou. O governo considerou a proposta apta e dispensou a estimativa de preço menor.
A CGU também encontrou outro indício de gasto excessivo. O Ministério da Saúde usou uma reserva técnica incomum. Em vez de 5% do total, como é habitual, as secretarias pediram 8,2%, sem apresentar justificativa. Assim, ao fim dos cálculos, o governo estaria comprando 534.800 frascos de cloreto de sódio a mais do que de costume.
Os auditores consideraram que há riscos na compra e cobraram do Ministério da Saúde justificativas, ajustes e revisões, além de vigilância por parte dos fiscais de contrato, caso seja firmado com a FBM Farma.
Novo chamamento
Questionada, a FBM Farma afirmou que trabalha com “altos padrões de integridade e comportamentos éticos”, mas não deu detalhes sobre o fornecimento do diluente. Em nota, o Ministério da Saúde disse ter adotado orientações da CGU e publicou um novo chamamento público, no mês passado, permitindo a entrega parcelada e em doses menores da solução de cloreto de sódio 0,9%.
“O Ministério da Saúde informa que foram acatados os apontamentos feitos pela CGU. A pasta esclarece, ainda, que o processo de aquisição dos diluentes está em andamento, portanto, nenhum empenho ou pagamento foi realizado”. No entanto, o ministério não disse se manterá a negociação em andamento com a empresa ou se recebeu outras propostas mais vantajosas.
R7