A CPI do Senado Federal, que apura o descaso do governo federal no combate a pandemia de COVID-19, encerrou a fase de depoimentos. Agora, vai juntar os depoimentos e documentos para fazer o relatório. A peça já foi batizada de “obituário” do governo Bolsonaro. O presidente será acusado por genocídio e denunciado aos tribunais internacionais. No Brasil, o relatório será entregue ao Ministério Público e ao Supremo Tribunal Federal. O indiciamento do presidente será fatal para seus planos políticos. O desgaste será grande.
O senador Eduardo Girão anunciou um relatório paralelo para fazer contraponto ao documento oficial do Senado Federal. A ideia dos bolsonaristas é desqualificar o relatório que irá receber o carimbo da mais importante casa do parlamento brasileiro. Teremos uma batalha de narrativas. A tropa de choque do presidente Bolsonaro pretende evitar um possível pedido de impeachment e proteger a imagem do presidente do Brasil perante o mundo.
Os holofotes estarão direcionados para os senadores Omar Aziz e Renan Calheiros, os dois agentes públicos que exibiram à nação prestígio e coragem para enfrentar o poder do governo federal. O senador amazonense Omar Aziz preside a CPI da COVID-19 e o senador alagoano Renan Calheiros é o relator. Calheiros é um político experiente, presidiu duas vezes o Senado, foi ministro da Justiça e opera com habilidade no Congresso Nacional.
Calheiros, como um pensador ou um promotor de justiça, conseguiu colocar 40 pessoas como investigados, inclusive o presidente da República, algo inédito na história republicana. Com frieza e paciência, Omar Aziz atingiu o alvo. Conseguiu abalar o gabinete do servidor Número 1 da nação. Bolsonaro terá que sair do seu quadrado e construir uma relação com os outros poderes para sobreviver.
A oposição ao presidente Bolsonaro vai engordar com o texto do relatório da CPI da COVID-19. O documento vai ressaltar o papel do Supremo Tribunal Federal, dos governadores e prefeitos no combate ao Coronavírus, e sublinhar que o governo federal promoveu uma completa ação “negacionista” em relação a pandemia, como defender a contaminação de manada, medicamentos sem eficácia comprovada e não comprar vacina na hora certa.
As assinaturas dos integrantes da CPI da COVID-19 no relatório final da comissão pode trazer de volta ao intestino do país um debate menos violento sobre o papel do estado estabelecido na Constituição brasileira, que é o princípio de cuidar das pessoas, independentemente se o governo for de direita ou esquerda. A CPI quer construir o obituário para os 600 mil mortos e o obituário de um presidente que se contrapõe ao atual modelo de país. Bolsonaro forçosamente terá que falar mais fino e baixo, procurar vozes que destratou e concordar com uma imprensa que não cria monstros nem planta crises.
Roberto Moreira