A política vai encaminhando os processos no tempo certo. A decisão do presidente Bolsonaro de se filiar ao Partido Liberal, legenda controlada por Valdemar Costa Neto, famoso no mensalão, como condenado e preso, depois, por envolvimento na Lava Jato, mudou o cenário nos estados. No Ceará, o deputado Capitão Wagner, que atuava para liderar o União Brasil, não conseguiu viabilizar o plano. Encontrou um grande corredor para o futuro político: o PL, partido sob controle do presidente da República e de Valdemar. A sigla está à disposição de Wagner.
A virada política ocorreu dentro da pauta imposta pelo presidente, que exigiu porteira fechada. Ou seja, ser o candidato a presidente pelo partido e escolher os candidatos aos governos e Senado Federal. A ideia é lançar candidatos de direita puro sangue. Se possível, construir chapas majoritárias de centro-direita. Não será difícil encontrar candidatos para fechar as chapas, com os números exigidos pela lei eleitoral e votos para impulsionar. André Fernandes, Heitor Freire, Mayra, Jaziel, Delegado Cavalcante, Carmelo e outros são figuras de direita, com grandes chances eleitorais.
A coletiva do presidente estadual do PL, Acilon Gonçalves, foi cirúrgica. Se colocou como pré-candidato ao governo e não impõe qualquer empecilho para filiar o Capitão Wagner e lhe entregar o bastão de candidato de Bolsonaro ao governo cearense, em 2022. O deputado não abriu a boca sobre o convite, mas seu destino deve ser, mesmo, defender a bandeira do presidente, a quem serve com lealdade. Em Brasília, é visto em todos eventos do Palácio do Planalto e, no Ceará, ao lado de de Bolsonaro. Wagner pode, também, ser o candidato do presidente pela legenda do PROS, caso viabilize o apoio do partido ao presidente, o que está se tornando difícil, por conta do distanciamento. O PROS está se aproximando de Ciro Gomes.
O deputado André Fernandes, que veste a camisa de Bolsonaro, no Ceará de peito aberto, reclama para si o comando da legenda, por considerar Acilon Gonçalves um parceiro do governador Camilo Santana. Tem razão em pensar assim, por conta do estilo do governador, que prestigia todos os prefeitos e, principalmente, o de Eusébio, que criou um grupo político de peso, elegendo deputados, oito prefeitos na Região Metropolitana de Fortaleza e e em outras cidades do interior. Mas, Acilon é independente. Existe um engano na leitura política do escandaloso parlamentar.
O cenário desenhado, esta semana, demonstra a evolução das movimentações políticas. Se o Capitão Wagner se abraçar a bandeira Bolsonaro, estará seguindo sua ideologia de direita, perderá o companheiro de jornada, Luiz Eduardo Girão, que se entregou ao projeto de Sérgio Mouro para presidente, outra opção da direita, bastante popular. Wagner e Girão aguardam ansiosos a definição de a definição de um importante eleitor de oposição no Ceará: o prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa, que segue filiado ao PSDB. Ele pode seguir tucano, é um puxador de votos para seus liderados e o grupo ao qual está ligado. Tem parceria com o senador Tasso Jereissati, de quem se reaproximou. Sua decisão política será partilhada com o histórico tucano.
A direita no Ceará poderá ter dois candidatos, palanques divididos, mostrando bem que, na política e na democracia, cabe o debate. O segundo turno foi criado para esses momentos. A consulta divulgada, nesta quinta-feira, pelo Instituto Paraná, aponta Bolsonaro com 20% e Moro 7% nas intenções de voto. A consulta não foi boa. Lula, com 51%, seria eleito, no primeiro turno. Ciro segue sendo o provável segundo a superar Bolsonaro no primeiro turno, com melhor intenção de voto entre os candidatos da terceira via. No Ceará, Wagner poderá enfrentar, mais uma vez, o ex-prefeito Roberto Cláudio, que já o derrotou duas vezes.
Roberto Moreira