Esse número de postulantes é alto. Ele supera os de 1994, 2002, 2006, 2010 e 2014 e empata com 1998. A última disputa presidencial, em 2018, reuniu 13 concorrentes. Já a de 1989, vencida por Fernando Collor, foi a que registrou mais candidatos desde a redemocratização: 22.
A quantidade de pré-candidatos poderia ser ainda maior, se não fossem algumas desistências. Até agora, saíram da disputa o ex-deputado Cabo Daciolo (Brasil 35), o apresentador José Luiz Datena (PSD) e o empresário João Amoêdo, ex-presidente do Novo e um dos fundadores da sigla. Há ainda incerteza sobre o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM).
Até a abertura das urnas, os eleitores serão alvo de uma avalanche de promessas, feitas por políticos que se apresentam como capazes de resolver os principais problemas do país, como a crise econômica, a escalada inflacionária, os altos índices de desemprego e o aumento da pobreza e da fome.
As próximas eleições serão uma prova de fogo para o atual governo, que, até o momento, ainda não conseguiu, sequer, cumprir as promessas feitas em 2018, principalmente o combate à corrupção, a moralização da política e o crescimento econômico.
As últimas pesquisas de intenção de voto apontam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que recuperou os direitos políticos após a anulação de vários processos judiciais, como favorito, com uma vantagem considerável sobre Bolsonaro, que está em segundo lugar. O ex-juiz da Lava-Jato Sergio Moro (Podemos) aparece com o terceiro maior índice de preferência, mas está tecnicamente empatado com o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
Uma das principais discussões neste momento trata da construção de uma terceira via como alternativa à polarização entre Bolsonaro e Lula. Nesse sentido, há uma maratona de negociações entre as forças de centro, mas ainda não foi definido um nome que representará esse espectro político na disputa. O próprio petista, na intenção de se afastar do rótulo de radical, tem buscado aproximação com esse segmento, em articulações que incluem a possível entrada do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que está de saída do PSDB, com o vice da chapa.
Campanha agressiva
A próxima disputa presidencial promete ser palco de embates calorosos, com um teor de agressividade maior que nos pleitos passados. Ela vai reunir personagens que, ao longo de suas carreiras, se cruzaram em situações que os transformaram em desafetos pessoais, muito além da disputa política. Deverão ser de alta tensão, por exemplo, os confrontos eleitorais entre Bolsonaro, Lula, Moro, Doria e Ciro Gomes (PDT).
Para Marcelo Senise, especialista em marketing político e digital, uma possível onda de ataques pessoais, durante a campanha, poderá deixar pouco espaço para discussões de propostas para o país. “Todos eles são muito desafetos um do outro, é uma eleição extremamente polarizada. E nós temos um elemento que todos eles usam de maneira muito forte, que são as plataformas de inteligência artificial, e esses neuro bots (robôs), que são utilizados desde a campanha passada, tendem a acirrar essa situação. Eu acho que o que vai ter menos na campanha é a discussão de propostas, infelizmente, e isso é uma ameaça à democracia”, lamenta Senise.
O professor José Oreiro, do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), chama atenção para as transformações vividas pelo país desde a campanha de 2018 e que, segundo ele, vão se refletir na próxima corrida presidencial.
O docente lembra que, após o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, as denúncias de corrupção continuaram no governo de Michel Temer (MDB), ao mesmo tempo em que a crise econômica não foi debelada.
“Aí a grande bandeira que se levantou na última campanha foi a do combate à corrupção, com o argumento de que os problemas do Brasil eram derivados da corrupção. Como não foi possível ao MDB e ao PSDB surfar nessa onda, quem surfou foi o Bolsonaro, que acabou vencendo as eleições”, descreve Oreiro.
Segundo ele, o que se instalou no país após a posse do atual governo foi a “barbárie”, com o agravamento da crise econômica, o aumento da pobreza, a devastação ambiental, uma cultura de ódio e os números trágicos da pandemia da covid-19. Para o professor da UnB, um discurso de cunho humanista, diante do atual quadro de degradação social do país, tem muito mais chances de vencer as próximas eleições.
“O que se estará discutindo nas eleições de 2022 não é esquerda e direita. É civilização e barbárie. No momento, sucessivas pesquisas comprovam que o candidato mais bem posicionado para derrotar a barbárie é o ex-presidente Lula. Não existe terceira via”, conclui Oreiro.
Os pré-candidatos — perfil e principais bandeiras:
Jair Bolsonaro (PL)
Pré-candidato à reeleição, o presidente da República nasceu em Glicério (SP) e tem 66 anos. Filiou-se recentemente ao PL, partido comandado pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, um dos caciques do Centrão. Em termos de popularidade, o presidente tem enfrentado os piores índices desde que tomou posse no cargo. Contribuem para isso os maus resultados na economia e a postura adotada pelo governo durante a pandemia da covid-19. Porém, como o presidente tem o controle da máquina pública, analistas acreditam que ele ainda pode chegar com fôlego nas eleições de 2022. O recém-lançado Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família, é uma das principais apostas do Planalto.
Principais bandeiras
Armamentismo; escolas cívicomilitares; agenda conservadora; defesa da família tradicional.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
Atual favorito nas pesquisas de intenção de voto e antagonista de Jair Bolsonaro, o ex-presidente da República nasceu em Garanhuns (PE) e está com 76 anos. Uma das estratégias do petista para voltar ao Palácio do Planalto é formar uma ampla aliança eleitoral. Nas últimas semanas, ganhou visibilidade a aproximação com Geraldo Alckmin, que se desfiliou do PSDB após de 30 anos de tucanato. No momento, Lula lidera a preferência do eleitorado, mas ainda desperta uma forte sentimento antipetista. Persistem na memória do eleitor os escândalos de corrupção e a crise econômica deixada pelo governo de Dilma Rousseff. O ex-presidente defende melhorar a renda dos trabalhadores para reaquecer a economia.
Principais bandeiras
Erradicação da fome e da pobreza; distribuição de renda e crescimento econômico; resgate da imagem do Brasil no exterior.
Sergio Moro (Podemos)
Natural de Maringá (PR), tem 49 anos. É jurista, ex-juiz federal e professor de direito. Graduado em Direito pela Universidade Estadual de Maringá, concluiu mestrado e doutorado pela Universidade Federal do Paraná. Especializou-se em crimes financeiros e tornou-se juiz federal em 1996. Após 22 anos de magistratura, aceitou o cargo de ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro. Entre 2019 e 2020, acumulou atritos com o chefe do Executivo. Após deixar o governo, Moro atuou na iniciativa privada. Como juiz federal, Moro ganhou notoriedade por julgar os processos da Operação Lava-Jato. As investigações levaram à prisão o ex-presidente Lula na campanha de 2018. Mas as condenações foram anuladas por tribunais superiores em Brasília.
Principais bandeiras
Combate à corrupção; erradicação da pobreza; retomada do crescimento econômico com geração de emprego e renda.
João Doria (PSDB-SP)
Nascido na capital paulista, é empresário, jornalista e o atual governador de São Paulo. Tem 67 anos. Doria ingressou na política em 2007, ao fundar o Movimento Cansei, em oposição ao governo de Lula. Aos 44 anos, filiou-se ao PSDB. Em 2016, ganhou a disputa para a prefeitura de São Paulo, em primeiro turno. No entanto, em 2018, Doria decidiu interromper o mandato municipal e concorrer a governador, cargo que ocupa atualmente. Em novembro último, foi escolhido pré-candidato do PSDB à Presidência da República. Doria se notabilizou no combate à pandemia. Foi responsável, juntamente com o Instituto Butantan, pelo desenvolvimento da CoronaVac, a primeira vacina contra a covid aplicada no Brasil. Apesar dessas ações, enfrenta alto índice de rejeição do eleitorado.
Principais bandeiras
Erradicação da fome; geração de empregos; privatização de estatais; educação de qualidade.
Ciro Gomes (PDT)
Tem 60 anos e nasceu em Pindamonhangaba (SP). Advogado e professor, iniciou a carreira política aos 18 anos, no movimento estudantil da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará. Foi governador do Ceará de 1991 a 1994, ministro da Fazenda em 1994 e da Integração Nacional entre 2003 e 2006 e ocupou o cargo de secretário de Saúde do estado entre 2013 e 2015. Em 2007, foi eleito deputado federal. Concorreu à Presidência por três vezes: 1998, 2002 e 2018. É conhecido por posicionamentos contundentes. Costuma apresentar propostas polêmicas. Em 2018, defendeu a ideia “seu nome fora do SPC” para permitir a retomada da economia. Em 2021, enfrentou desgastes com petistas, que o vaiaram na Avenida Paulista.
Principais bandeiras
Redução de desigualdades; geração de empregos; reindustrialização; reforma educacional.
Rodrigo Pacheco (PSD-MG)
Aos 45 anos, o advogado é presidente do Congresso Nacional. Nascido em Porto Velho, é formado em Direito pela PUC Minas, especialista em Direito Penal. Foi o mais jovem Conselheiro Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, entre 2013 e 2015. Na Ordem, foi presidente da Comissão Nacional de Apoio aos Advogados em Início de Carreira, além de ex-conselheiro estadual e ex-presidente da Comissão de Defesa, Assistência e Prerrogativas da OAB-MG. Eleito deputado federal em 2014, foi presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, cargo exercido pela primeira vez por um deputado em primeiro mandato. Em 2018, foi eleito senador por Minas Gerais com 3.616.864 votos. Em 2021, foi eleito presidente do Congresso Nacional para o biênio 2021/22. Em novembro, filiou-se ao PSD.
Principais bandeiras
Pacificação do país, previsibilidade, estabilidade e desenvolvimento econômico e social.
André Janones (Avante-MG)
Natural de Ituiutaba (MG), é deputado federal e advogado especialista em Direito do Consumidor. Foi militante na região do triângulo mineiro e atuou como advogado em ações de saúde para famílias carentes. Ao longo de 10 anos, foi líder do movimento Por amor a Ituiutaba, que ganhou relevância nas redes sociais da região. Despontou no cenário nacional em 2018, ao atuar como liderança da greve dos caminhoneiros. No mesmo ano, foi eleito deputado federal. Nos três primeiros anos de mandato, destacou-se como um dos congressistas mais populares do país. Bateu recordes de visualizações em suas lives no Facebook e hoje conta com 12 milhões de seguidores. Aos 37 anos, é o pré-candidato mais jovem à Presidência da República.
Principais bandeiras
Renda básica, acesso à saúde universal, desenvolvimento científico e tecnológico.
Simone Tebet (MDB-MS)
Tem 51 anos, nasceu em Três Lagoas (MS), é advogada, professora e senadora da República. É a filha mais velha do ex-senador e ex-presidente do Congresso Nacional Ramez Tebet, falecido em 2006. Iniciou a trajetória política em 2002 como deputada estadual. Foi duas vezes prefeita e uma vez vice-prefeita da cidade natal. Em 2015, elegeu-se senadora pelo Mato Grosso do Sul. Tebet é líder da Bancada Feminina no Senado e a primeira mulher a presidir a Comissão de Constituição e Justiça na Casa. Também é a primeira mulher a liderar a bancada do MDB no Senado (2018) e a única pré-candidata à presidência da República. Tebet ganhou notoriedade, ainda, por sua atuação na CPI da Covid.
Principais bandeiras
Combate à fome e à miséria; maior ação do Estado na Saúde e na Educação; reformas estruturantes.
Luiz Felipe d’Ávila (Novo)
Nascido em São Paulo (SP), tem 58 anos. É cientista político, com mestrado em administração pública pela Harvard Kennedy School. Fundou o Centro de Liderança Pública (CLP), organização suprapartidária que busca engajar a sociedade e desenvolver líderes para enfrentar os problemas mais urgentes do Brasil. Desde sua fundação, em 2008, o CLP defende um Estado Democrático de Direito eficiente. É autor de livros de história e política. Dentre eles, destaca-se Os 10 Mandamentos, Do País que somos para o Brasil que queremos. D’Ávila também tem uma carreira no mercado editorial. Foi responsável pela publicação de República e Bravo, revistas voltadas para política e cultura. É a primeira vez que D’Ávila disputa a Presidência.
Principais bandeiras
Estado eficiente; retomada do emprego e da renda; fim do patrimonialismo, do corporativismo e do clientelismo.
Aldo Rebelo (sem partido)
Nascido em Viçosa (AL), Aldo Rebelo tem 65 anos. Deputado federal por seis mandatos, foi presidente da Câmara e líder do governo Lula (PT). Rebelo também acumula experiência no Executivo. Comandou quatro ministérios: Articulação Política e Esporte no governo Lula; Ciência e Tecnologia e Defesa durante a presidência de Dilma Rousseff (PT). O político acaba de lançar um livro intitulado ‘O Quinto Movimento’ (Editora Já), que defende a retomada da ‘construção inacabada do país’, por meio das seguintes ações: valorização da democracia; redução das desigualdades econômicas, sociais e culturais, retomada do crescimento econômico no país; valorização da educação; desenvolvimento sustentável; e a valorização
das Forças Armadas.
Principais bandeiras
Retomada econômica; combate às desigualdades; valorização da democracia.
Alessandro Vieira (Cidadania)
Tem 46 anos e nasceu em Passo Fundo (RS). Advogado, atuou como delegado da polícia civil de Sergipe por duas décadas, com a prisão de vários acusados de corrupção. Vieira faz parte do movimento“Acredito”, que se descreve como “um movimento de renovação política suprapartidário e progressista, comprometido
com justiça social e responsabilidade fiscal”. Votou com o governo em boa parte das pautas econômicas, mas com o tempo tornou-se um dos críticos mais rigorosos do presidente Bolsonaro. Em 2021, o senador ganhou notoriedade pela atuação na CPI da Covid. Vieira é a aposta do Cidadania para a Presidência da República, após o apresentador Luciano Huck desistir da corrida eleitoral e optar pela carreira na televisão.
Principais bandeiras
Combate à corrupção, transferência de renda de forma responsável; fortalecimento da educação.
Leo Péricles (UP)
Mineiro de Belo Horizonte, é o primeiro candidato negro a Presidência. Morador de periferia, tem 40 anos, é casado e pai de dois filhos. Iniciou a militância em 2000, quando presidiu a Associação Metropolitana de Estudantes Secundaristas de Belo Horizonte (AMES-BH) e integrou a diretoria da União Brasileira de Estudantes Secundarista (UBES). Em 2009, fez parte da diretoria da União Nacional dos Estudantes (UNE). Neste período, participou da adoção do meio-passe estudantil na capital mineira. Desde 2011, milita em favor de favelas e comunidades. Atualmente é presidente nacional da Unidade Popular pelo Socialismo (UP), o partido político mais recente do Brasil, registrado em 2019. Nas eleições municipais de 2020, Leo Péricles foi candidato a vice-prefeito de Belo Horizonte.
Principais bandeiras
Taxação das grandes fortunas; reformas de base; reestatização de empresas privatizadas.
*Conteúdo “Correio Braziliense“