Três pessoas de uma família, entre elas duas crianças, morreram após um deslizamento de terra atingir a casa em que estavam na madrugada chuvosa desta quarta-feira (8), na cidade de Itamaraju, na região Sul do estado. Outras três pessoas estavam no local e escaparam com alguns ferimentos. No Estado, Governo decreto Estado de Emergência em 24 municípios.
De acordo com moradores da região, no início desta manhã, o Corpo de Bombeiros resgatou dos escombros os corpos de uma menina de quatro anos, do irmão dela de oito anos, e de um tio. Todos dormiam em um dos quartos que foi coberto pela lama. Até o momento, não há identificação das vítimas. Os pais e um dos irmãos das crianças mortas sobreviveram à tragédia e estão sob cuidados médicos.
"No total, tivemos quatro casas soterradas, incluindo o imóvel da tragédia. As outras pessoas deixaram seus imóveis assim que a chuva começou pois estavam em áreas de risco. As consequências aqui foram muito grandes. Para se ter uma ideia, todos os bairros foram afetados de alguma forma. Possa ser que tenhamos mais casos pois ainda estamos fazendo um levantamento dos estragos", declarou coordenador da Defesa Civil Vinícius Borges.
Por conta da forte chuva, vários pontos de Itamaraju ficaram alagados. Devido ao volume de água, as três únicas saídas de Itamaraju estão bloqueadas. De acordo com a Prefeitura, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas e Desastre Naturais (Cemaden) emitiu um alerta de nível alto.
"A probabilidade de ocorrência de desastres é alta, assim como o seu impacto potencial para a população", diz trecho. O órgão aponta ainda que deslizamentos são eminentes e estima-se que 2.152 pessoas em 538 moradias estejam expostas ao risco alertado.
Na Bahia, cinco pessoas já morreram desde a chegada do fenômeno "La Nina", responsável por trazer chuvas acima da média para todo o Nordeste. Outras duas pessoas morreram em Itaberaba em enxurrada. Em Salvador, um homem ainda está desaparecido após pular em canal para salvar um cachorro no Rio Vermelho.
Tragédia
A chuva em Itamaraju começou por volta das 20h, mas se intensificou depois das 23h. O desabamento aconteceu no início da madrugada, na Rua Espírito Santo, área periférica, a cerca de 300 metros do centro da cidade.
"A casa ficava numa região de barrancos. Com a força da água, a terra deslizou sobre o imóvel onde todos estavam. A terra caiu com mais intensidade no quarto onde estavam as duas crianças e o tio. O pai e a mãe foram arremessados para fora com o impacto da terra sobre a cama. Já o outro filho do casal só escapou porque dormia no sofá", contou Marcos Cunha, morador da cidade.
Marcos mora no centro da cidade e está ilhado em casa. Segundo ele, a chuva elevou o nível dos rios que cortam Itamaraju, formando vários pontos de alagamentos com mais de um metro de profundidade, inclusive impedido o acesso dos moradores a outras cidades. "Ninguém sai, ninguém entra. Estamos todos isolados", contou.
Uma das saídas bloqueadas é a chamada Cidade Baixa, que dá acesso ao único hospital da cidade. O outro ponto é o trecho da BR-101 com destino a Itabela e Eunápolis, onde toda a rodovia foi coberta pela água. Em outro trecho da mesma rodovia, desta vez no perímetro urbano, uma cratera se abriu impedido o fluxo de veículos.
Ainda de acordo com o morador, famílias estão desalojadas depois que tiveram suas casas invadidas pela enxurrada. "Teve gente que foi para casa de parentes, mas quem não teve outro lugar pra ir, está sendo cadastrado pela prefeitura para ser levado para um abrigo que está sendo improvisado em um ginásio", contou Marcos.
O CORREIO vem tentando falar com o prefeito da cidade, Marcelo Angenica (PSDB), mas sem sucesso. Itamaraju tem 64.423 habitantes, segundo o IBGE de 2021, e tem como municípios limítrofes Jucuruçu, Vereda, Prado, Perto Seguro, Guaratinga e Itabela.
Alerta
O Cemanden opera 24 horas por dia, sem interrupção, monitorando, em todo o território nacional, as áreas de risco de 957 municípios classificados como vulneráveis a desastres naturais. No alerta para Itamaraju, o órgão pontou a situação atual das chuvas: a previsão meteorológica indica a continuidade das chuvas no decorrer do dia, podendo ocorrer em forma de pancadas - os acumulados de precipitação são de até 47 mm em 01 hora (s) e de 171 mm em 06 horas.
O órgão comentou a situação de risco da cidade. "As áreas de risco de movimento de massa no município caracterizam-se pela ocupação de encostas de alta declividade, com taludes de cortes e aterro, trincas e degraus de abatimento e históricos de deslizamento. Moradias de alta vulnerabilidade, lançamento de água servidas, lixo lançado nas encostas e ausência de drenagem superficial potencializam a ocorrência de movimento de massa. Está situação associada à precipitação incidente (ou acumulada) e a precisão meteorológica indica que pode ocorrer um número significativo de deslizamentos induzidos e esparsos em encostas naturais", diz comunicado.
Diante da alerta, o Cemanden fez recomendações à população de Itamaraju. "Atenção às áreas de risco mapeadas".
Cidades
Outras cidades também da região Sul do estado sofreram com as chuvas fortes desta madrugada. Em Teixeiras de Freitas, pontos de alagamentos foram registrados, a exemplo no centro da cidade e o bairro de Colina Verde, região da periferia. "São terrenos bastante acidentados e por isso a água tomou conta. As escolas e igrejas ficaram pontos de abrigo para receber os desalojados", declarou Eurípedes Castellan, morador do município.
A cerca de 100 quilômetros de Teixeira de Freitas, a cidade de Jucuruçu casas ficaram debaixo d'água - isso porque a região fica abaixo do nível dos montes. "O rio transbordou e a água desceu para toda a cidade", contou Eurípedes, que tem amigos no local. Vídeos mostram a aflição dos moradores.
O que é La Niña?
La Niña é o nome dado ao resfriamento anômalo das temperaturas médias do Oceano Pacífico. Essa mudança é capaz de provocar uma série de distúrbios em todo mundo, alterando a formação de chuvas, secas e distribuição de calor.
No Brasil, o La Niña provoca estiagem nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e principalmente Sul. No Nordeste e na Região Amazônica aumenta a intensidade das chuvas.
Mas além do fenômeno, um agravante que piora as chuvas é o cavado, sistema de baixa pressão que mexe com a circulação do vento. Ele faz com que aumente a formação de nuvens, trazendo descargas elétricas e trovoadas.
Além disso, as temperaturas do oceano, próximo à costa do Nordeste influencia as chuvas. A termodinâmica local está associada às altas temperaturas das águas. Isso explica o mormaço que tomou conta da cidade na última semana.
Por isso, de acordo com o meteorologista da Codesal, Giuliano Carlos Nascimento, a previsão da semana é pancada de chuvas fracas, principalmente durante a sexta-feira. "Tendemos a permanecer com as temperaturas elevadas para os próximos dias", pontua.
Novembro mais chuvoso dos últimos 11 anos
O acumulado de chuvas em novembro em Salvador foi de 304 mm, 285,4% acima da média para o período que é de 106,5 mm. Este foi o novembro mais chuvoso dos últimos 11 anos, sendo superado apenas em 2011, quando choveu 319,2 mm.
Os locais em que foram registrados os maiores índice pluviométricos na capital ao longo do mês: Pituba - Parque da Cidade (331,2 mm), Campinas de Brotas (306,4 mm), Ondina (304 mm), Stiep (298,7 mm), Saramandaia (295 mm) e Pituaçu (285,4 mm).
20 cidades do interior declararam situação de emergência
As chuvas também atingiram com força o interior da Bahia. Desde o início de novembro, 20 cidades já declararam situação de emergência. São elas:
Amélia Rodrigues;
Ibicoara;
Itaberaba;
Mucugê;
Mutuípe;
Teolândia;
Jaguaquara;
Ruy Barbosa;
Maragogipe;
Itaquara.
Eunápolis;
Itacaré;
Itarantim;
Mundo Novo;
Baixa Grande;
Marcionílio de Souza.
Jiquiriçá;
Itambé.
Ribeira do Pombal;
Jaguaquara;
Camacan
Neste fim de semana, as cidades que mais registraram volume de chuva entre às 09h01 de sexta (03) até as 09h de segunda (06), de acordo com o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) são:
São Desidério (115,2 mm)
Jaguaquara (113,0 mm)
Camacan (110,1 mm)
Lençóis (104,4 mm)
Vitória da Conquista (105,3 mm)
Caravelas (101,3 mm)
O Povo