Um dos principais desafios dos candidatos nas eleições deste ano, sobretudo para os postulantes a mandatos proporcionais, tanto para a Assembleia Legislativa quanto para a Câmara dos Deputados, é sensibilizar o eleitor para ir às urnas e não desperdiçar o seu voto. Os números de sufrágios nulos e em branco no pleito de 2018 é realmente surpreendente, motivando um estudo sério sobre a repulsa de boa parte do eleitorado com os nomes colocados à sua disposição para os cargos em disputa. Citamos os postulantes aos legislativos posto o elevado número de opções oferecidas pelos partidos. Mas os que querem ser governador e senador, também precisam ter posturas e discursos mais atraentes.
Em 2018, só na disputa para as duas vagas de senador pelo Ceará foram desperdiçados 2.729.119 votos. Um total superior ao que somaram o segundo e terceiro colocados na disputa, no caso o senador eleito Eduardo Girão, com 1.325.786 sufrágios, e o derrotado Eunício Oliveira, candidato à reeleição, que somou um total de 1.313.783 votos. Naquelas eleições o eleitor poderia votar em dois candidatos ao Senado, pois estavam em disputas duas vagas, diferentemente deste ano quando apenas uma vaga estará em jogo, a do senador Tasso Jereissati, cujo mandato termina no dia 31 de janeiro de 2023.
O senador Cid Gomes, o outro eleito em 2018, amealhou 3.228.533 votos. Os cearenses anularam 1.875.297 votos para senador, e deixaram em branco o correspondente a 853.822 votos para o mesmo cargo. Que reflexão fez o senador Girão, o eleito para a segunda vaga, ao ter recebido uma votação que não é pífia, mas representa quase 50% dos votos anulados para o cargo? E o ex-senador Eunício Oliveira, eleito em 2010 com 2.688.833 votos, e depois de oito anos, inclusive, no momento da eleição de 2018 sendo presidente do Senado e do Congresso Nacional, apoiado da forma mais ampla possível pelo governador Camilo Santana para ser reeleito, obter menos da metade dos votos da eleição anterior para o mesmo cargo, que explicação tem?
Esses raros exemplos fundamentam a necessidade de os políticos começarem a montar uma nova estratégia de comunicação com o eleitor, reinventarem-se para, tornando-se confiável ou menos desprezíveis, motivarem o eleitor a não desperdiçar o voto, como vem acontecendo ultimamente. Ainda não estamos suficientemente educados para sabermos a imp0rtância de escolher bem os nossos representantes. E, indo às urnas pela obrigação de ir, desestimulado e irritado, o desejo de livrar-se do que considera encargo é, de pronto, anular o voto. Se menos raivoso estiver, diante da urna, deixa em branco alguns dos espaços da votação.
Em 2018, 1.099.042 eleitores deixaram de comparecer aos seus locais de votação. É possível que uma parte dos faltosos sequer ainda seja eleitores no Ceará. Alguns podem ter morrido e outros tantos tenham outros estados como domicílio eleitoral. Nem todos os votantes neste Estado fizeram o recadastramento para votar pelo sistema biométrico. Isso pode ter deixado inflado o número total de eleitores. As urnas registraram um comparecimento de 5.243.490 de eleitores em outubro de 2018, no primeiro turno da votação. Destes, apenas 4.324.121 votaram para governador. 919.369 foram votos brancos e nulos. Para deputado federal só contaram 4.300.972 votos, e para deputado estadual foram somados 4.213.546.
Além da falta de importância dada por uma boa parte dos eleitores às eleições, os candidatos deste ano ainda vão enfrentar um pleito diferente, sem coligações proporcionais, que salvaram inúmeros dos que foram eleitos nos últimos pleitos ao contarem com as votações dadas a candidatos de partidos diferentes, mas agrupados numa mesma coligação. Agora, cada partido só elege os seus. Ademais, tudo indica que a campanha será mais observada pela Justiça Eleitoral e pelo Ministério Público Eleitoral, em todas as suas formas lícitas e ilícitas de captação de votos, dentre estas a compra de votos através do abuso do poder político e do poder econômico. Embora seja impossível eliminar a compra e venda de votos nas eleições, por certo, os mais afoitos poderão ser alcançados, como uns poucos já foram em disputas anteriores.
O Calendário Eleitoral já está vigorando desde o dia 1º de janeiro. E a atuação do Ministério Público Eleitoral já deve estar redobrada, pois os governantes já não podem ser mais tão benevolentes com relação à distribuição de favores, mesmo aos mais carentes, pois algumas das doações podem, ao final, serem consideradas abuso de poder político, com condenações que darão elementos para impugnações e posteriores cassações de registros de candidaturas, mesmo o desrespeito à Legislação Eleitoral tenha acontecido bem antes do pedido de registro das candidaturas.
Jornalista Edison Silva