Pescadores, comerciantes e prestadores de serviços de hotelaria de Amontada, cidade a 165 km da Capital, irão realizar um protesto contra a implantação de um Parque Eólico no litoral do município. Na ocasião, pescadores artesanais de Icaraí de Amontada realizarão uma corrida de paquetas, pequenos barcos a vela. O ato simbólico será realizado no próximo domingo, 27 de fevereiro. Segundo os moradores, a estrutura eólica, que terá em torno de 7.240 mil hectares, irá causar impactos no comércio, bem como na fauna e flora local.
O evento está sendo organizado pelos pescadores artesanais e pelo projeto EcoIcaraí. "A ideia foi trazer a evidência da cultura ancestral da competição de embarcações a vela, mostrar que nas regiões de construção dos empreendimentos há pescadores que dependem exclusivamente do acesso ao mar para a garantia da sobrevivência", explica Alanna Loiola, bióloga coordenadora do projeto EcoIcaraí. Segundo os moradores, a proporção da construção no mar pode causar o risco de colisões, privação do acesso a pontos de pesca, bem como alterações nas rotas utilizadas para a prática.
A construção
O projeto do Parque Eólico compreende a construção de uma fazenda marítima com uma área total de 7.243,58 hectares no litoral do município, que também compreende as praias de Moitas e Caetanos. Ainda, devem ser instalados 50 aerogeradores marítimos, com potência individual de 8,0 megawatts. A energia gerada na estação será escoada por 10 alimentadores, formados por cabos elétricos blindados submarinos subterrâneos. A construção, contudo, também causa impacto na chegada de energia elétrica na comunidade do litoral, que sofre há anos com quedas frequentes e prolongadas de energia elétrica.
Segundo a representante do EcoIcaraí, os moradores estão receosos de que a instalação do Parque causa impactos no turismo, principal fonte de renda do local. "Com a industrialização da região marinha e o impacto visual, o medo é que os turistas optem por praias mais seguras, com um clima mais paradisíaco e com menos poluição visual e sonora. Além disso, há as restrições de acesso aos parques marítimos de geração de energia", conta a Alanna Loiola.
A representante ainda comenta que em nenhum momento as comunidades da região de Amontada foram consultadas acerca da instalação. A estrutura faz parte dos vinte e seis projetos de instalação de energia eólica dentro do mar brasileiro que tramitam no Ibama. No litoral cearense, estão sete desses projetos, entre eles o Complexo Eólico Marítimo Asa Branca I (CEMAB I), que será formado por 10 Parques Eólicos Marítimos: Sabiaguaba I; Sabiaguaba II; Caetanos I; Caetanos II; Icaraizinho I; Icaraizinho II; Moitas I; Moitas II; Patos I; e Patos II), com 5 aerogeradores cada, totalizando 50 aerogeradores
marítimos.
Impactos ambientais
A bióloga ressalta que os impactos na fauna e flora locais são uma das maiores preocupações. "Podemos falar dos impactos sonoros do bate-estacas, que tem potencial significativo quando avaliadas as interferências para os mamíferos marinhos, como o Boto-cinza, que reside na região. Outros impactos também são previstos pela comunidade, como a colisão com aves migratórias e a modificação do campo magnético, interferindo na desova de tartarugas marinhas", detalha Alanna.
Segundo ela, a vegetação também pode ser comprometida pelas linhas de transmissão do Parque Eólico, já que, para implantar essas estruturas, são realizados uma série de desmatamentos e impedimentos na agricultura familiar próxima às instalações.
o Povo