Motoqueiro que levou Bolsonaro na garupa vira celebridade em Quixadá

Blog do  Amaury Alencar
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JAKSON Sousa levou Bolsonaro na moto. Ambos sem capacete(foto: FABIO LIMA)

JAKSON Sousa levou Bolsonaro na moto. Ambos sem capacete(foto: FABIO LIMA)


No centro de Quixadá ninguém sabia ao certo quem ele era. “Diz que é o filho do Zé, lá de baixo”, apontou um comerciante na manhã de quinta-feira, 24, sem muita convicção.

“Não, não, é da família do Dedé, ali do depósito de bebida”, atalhou um mototaxista, que saiu conduzindo a reportagem até a calçada do comércio, onde o próprio Dedé, camisa entreaberta e sandália de dedo, despachou logo do batente: não é daqui.

Mesmo tendo virado celebridade na cidade depois de dar carona ao presidente Jair Bolsonaro (PL) na garupa de uma motocicleta em evento no município no dia anterior, o motorista Jakson Sousa, 32 anos, ainda era pouco conhecido. Não se falava de outra coisa, mas sua identidade era um mistério.

 “Vou falar com a vizinha, ela gosta de novidade. É o correio da cidade”, anunciou Dedé, que voltou instantes depois com a má notícia: a vizinha não sabia de nada. Até que, finalmente, um lojista, que pescava a conversa de lado, disse que talvez o seu funcionário soubesse quem era. Ele sabia.

Não demora, e o próprio Jakson aparece empoleirado na moto, a mesma em que tinha desfilado na principal avenida de Quixadá com Bolsonaro a tiracolo debaixo do sol das 15 horas do sertão cearense.

“O nome é Jakson, mas o pessoal me conhece como Dedé”, esclarece logo. Estava explicada a confusão com as identidades.

Os mototaxistas se aglomeram no cruzamento, recepcionando o colega que havia feito o que eles mesmos não tinham conseguido: transportar o presidente do aeroporto até o local da cerimônia que marcava a visita, alguns metros adiante. 

Nem mesmo Jakson acreditava ainda. Do percurso entre a localidade conhecida como Boto e a praça, feito em dez minutos, ele recorda somente que, ao parar para manobrar na tentativa de se aproximar da comitiva presidencial, deu de cara com um homem atravancando a passagem: era Bolsonaro. O presidente então subiu na traseira e ordenou: “Vai, arrocha”.

“E eu arrochei”, conta o motorista. “A gente vinha conversando. Ele falava tanta coisa, mas eu tava emocionado, alegre, que não lembro mais. Ele disse que também era motorista lá no Rio de Janeiro. Dizia ‘vai, arrocha, olha o buraco, vai pro canto’. Porque tinha os buracos na rua. Eu pensei: rapaz, eu sou o escudo do homem agora.”

Jakson fala que era Bolsonaro que “mandava correr ou encostar pra vir a negrada e ele acenar” e que, ao chegar no trecho da via onde não havia ninguém trafegando, o mandatário pediu que acelerasse – ambos transitavam sem capacete.

“Eu botava pra andar. Botei quase 100 (km/h), o bicho é doido. Chegou perto de 100, mas tinha hora que ele mandava parar”, relata.

Depois disso foi só euforia. Após se despedir de Bolsonaro, Jakson, desorientado, quis falar com a irmã e lhe contar a novidade: era famoso no Quixadá. “Minha irmã, aconteceu uma coisa”, narrou no telefone. A irmã preocupou-se, achando que era algo com o filho, sobrinho de Jakson. Ele a tranquilizou e, em seguida, sentenciou: “Eu tô famoso. Levei o presidente na garupa”.

Numa cidade com 88 mil habitantes, a fama é ainda mais relativa. Mas ele não exagerava. Ganhara uns milhares de seguidores no Instagram depois de o vídeo que mostrava a carona ao presidente se replicar nas redes sociais. De tantas mensagens, diz, não conseguiu acessar a conta. Entre quixadaenses, era tratado como ex-BBB.

“Agora tô estourado. Não tem mais como ver a conta, tá congestionado. É muita mensagem, não tô conseguindo”, explica, sem fazer planos para o súbito capital social que havia acumulado entre os seus conterrâneos.

Investir na política? Era uma possibilidade que talvez considerasse. Afinal, Jakson era familiar de vereador e tinha certo pendor para o ofício. Falante e sorridente, posava para fotos com desenvoltura.

“Eu gosto de política, meu cunhado é muito conhecido na cidade”, revela, acrescentando: “Ele faleceu. É o Luiz do Hospital, era vereador. Morreu da Covid. Tinha 60 anos e estava internado em Quixeramobim”.

O episódio não o fez desgostar de Bolsonaro, cujas posturas contrárias a regras sanitárias e declarações de desimportância com os óbitos na pandemia foram alvo de críticas e um dos motivos para a abertura de uma CPI no Senado.

Para o cearense, contudo, o presidente é “gente simples”. Questionado sobre se escolheu o voto para 2022, ele abre o sorriso: “É claro. Vou nele de novo”.


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