Batizada de "Morto", guineense naturalizada brasileira busca mudar o próprio nome. — Foto: Reprodução/TV Integração
Uma guineense de 35 anos naturalizada brasileira foi registrada pelos pais com o nome de Morto Nogueira Correia. Desde 2014 morando no Ceará, onde veio estudar, ela buscou ajuda da Defensoria Pública estadual (DPCE) para, enfim, conseguir mudar o nome de batismo. Ela pretender ser oficialmente conhecida por Miza, nome que ela mesma adotou e passou a ser chamada por amigos e professores da faculdade.
O nome recebido pelos pais foi motivado por um costume de Guiné-Bissau, país da África Ocidental, segundo Miza.
“Não sou a única do meu país que se chama Morto. Lá, quando as pessoas ouvem esse nome, já sabem o significado. Entendem que a família tentou ter muitos filhos e os bebês sempre morriam. Entre minha irmã e eu, meus pais tiveram três crianças. Todas morreram. E eu, quando nasci, adoecia muito, passava mais tempo desmaiada do que viva, o que fez meu pai achar que eu iria morrer também. Compreendo o significado, mas nunca gostei do meu nome”, explica.
O descontentamento com o nome de batismo aliado ao conhecimento adquirido sobre direitos, hábitos e culturas foram decisivos para que Miza possa ter o nome que escolheu registrado no papel e, assim, ser reconhecida legalmente pelo nome que já é conhecida.
Ação de retificação
Miza, como já é chamada por amigos e professores deseja mudar o nome que recebeu dos pais em Guiné-Bissau — Foto: Arquivo pessoal
A supervisora do Núcleo de Atendimento e Petição Inicial (Napi), defensora Natali Pontes, afirma que será necessário ingressar com uma ação de retificação do registro e pôr fim ao constrangimento que ela sofre desde criança.
“Como o registro dela é de Guiné-Bissau, nós ingressamos com uma ação de retificação de registro explicando ao juiz que a intenção é evitar os constrangimentos que ela passa por ter o nome que tem, como sofreu a vida inteira até aqui. Acredito que logo logo ela consiga agregar o Miza como o seu nome”, detalhou.
Para a guineense não faz sentido viver em um país totalmente diferente de Guiné-Bissau, e manter um nome que ainda que seja importante para etnia africana, não o é para a cultura local.
“Falei com o meu pai. Disse que aqui as pessoas estranham e que eu tenho o desejo de mudar. Ele disse que tudo bem, porque aqui é outra cultura mesmo. Mas não odeio ele por ter me dado esse nome. Eu amo meu pai. Ele ter colocado esse nome não muda o que sinto por ele. Eu amo ele tanto, tanto, tanto”, declara.
Escolha do novo nome
Miza revelou que a escolha por esse nome não foi tarefa difícil e igualmente tem ligação com tradições de Guiné-Bissau. Mais precisamente com uma promessa feita pelos pais dela. Desejosos de terem mais filhos (vivos), procuraram uma vidente e, diante da profecia da mulher, comprometeram-se a dar à futura filha o nome da médium.
“Essa vidente tinha o nome de Misa. Aqui, para evitar problema no julgamento do processo, decidi, por sugestão da defensora, adotar o 'z'. Aceitei porque não faz diferença na pronúncia, mas lembrei que uma vez uma mulher me disse que, na verdade, meu pai devia ter colocado meu nome de Vitória, já que eu sobrevivi. Acabou sendo Miza mesmo, com 'z', que é como todo mundo já me chama, e espero que a decisão do juiz saia logo. Não vejo a hora de tirar todos os documentos com meu nome novo”, diz confiante.
G1 CE