Em 25 de março de 1884, o Ceará tornou-se a primeira província brasileira a declarar o fim da escravatura. A iniciativa, também fruto dos movimentos abolicionisas e muita luta, foi realizada quatro anos antes da Lei Áurea, que declarou a abolição da escravidão no Brasil no dia 13 de maio de 1888. O pioneirismo, que deu ao Ceará o título de Terra da Luz , é celebrado atualmente como a Data Magna do Ceará, instituída como feriado estadual no dia 6 de dezembro de 2011.
“Quando vamos falar do Ceará e do seu pioneirismo, essas figuras que lutaram devem ser reconhecidas, para que a gente entenda que o povo negro não assistu a tudo de forma passiva. Quando se fala “os abolicionistas”, geralmente vão atrás de outro grupo étnico que não inclui o negro e a negra que tutelaram, tensionaram e fizeram o que puderam fazer para alcançar a liberdade. Eles, mesmo sem conseguir alcançar a liberdade como pretendido, não se conformaram com a desumanização”, registra Zelma.
Protagonismo presente
Com os olhos atentos ao presente, Zelma analisa os desafios e as conquistas na luta antirracista no Ceará. Sobre os desafios persistentes, a secretaria avalia que o mito da democracia racial e outras narrativas de apagamento da existência da população negra perduram como barreiras.
“O mito da democracia racial atrapalhou e atrapalha hoje, por isso tem que ser até desconstruído. Quando eu digo que operou uma relação harmoniosa e amistosa entre os grupos étnicos raciais, vou dizer que não teve tensionamento. Se não tem tensionamento não tem racismo, violência e desigualdade. Se não tem desigualdade, por que vamos pensar em políticas públicas? Então, o caminho principal, o que dá trabalho, é não visualizar que os 400 anos de escravidão, acrescidos de uma abolição inacabada, nos atrapalham”, diz.
O titular da SEIR explica que isso repercute, inclusive, na dificuldade do Ceará, com mais de nove milhões de habitantes, de se enxergar como um estado de população negra. “A narrativa no Ceará é que não temos negros, que é um Ceará branco. E isso contribui para não causar preocupação, indignação e espanto ao chegar numa repartição pública e ver que os negros não estão lá representados. Mas, ao chegar a lugares de responsabilidade, como presídios e centros socioeducativos, ver mais que o percentual de sua pertença étnico-racial do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]. Quando somamos pardos e negros, mais de 70% da população do Ceará é negra”, registra. |