Aberta de terça a domingo, Biblioteca Pública do Ceará guarda a história do estado e constrói pontes entre gerações

Blog do  Amaury Alencar
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A Bece já recebeu mais de 70 mil pessoas para uso de seus novos espaços

Local para acolher, aprender, embarcar em outras realidades e fortalecer laços com a história do mundo e do Ceará. “É um equipamento de guarda, de preservação da história do Ceará. Também é um local de fruição. Além de ser uma biblioteca pública, patrimônio cultural do Estado, [aqui] é um espaço para a comunidade”, é com carinho que Enide Vidal, bibliotecária e diretora da Biblioteca Pública do Ceará (Bece), descreve o equipamento.

Reconhecida como o equipamento cultural aberto mais antigo do Ceará, e da Secretaria de Cultura (Secult), a Bece foi inaugurada em março de 1867 e completou 156 anos. De lá para cá, passou por diversos lugares, enfrentando os mais variados desafios para continuar fazendo o seu papel: guardar a memória do povo cearense.

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O prédio, hoje localizado na Avenida Presidente Castelo Branco, número 255, onde a Bece reside desde 1975, guarda tesouros do Estado. “Aqui temos nosso espaço de Obras Raras, com exemplares que só nós temos, além de na nossa parte de Periódicos, que é onde guardamos vários exemplares de jornais, alguns temos quase todas as edições. Nós guardamos a história do Estado assim, é um tesouro”, pontua a diretora.

Apesar de existir há mais de um século e meio, ela destaca que o espaço não está ligado apenas a coisas antigas ou a um ambiente antigo, como é a imagem que vem à cabeça das pessoas assim que pensam em “memória” e “biblioteca”. “Essa biblioteca foi pensada no conceito de uma biblioteca que não fosse só um espaço de pesquisa e formação, mas também um espaço de fruição. Um lugar agradável, onde as pessoas chegassem e se sentissem bem nesse espaço. E tornou-se esse espaço.”

A biblioteca, hoje, entrega ao público ares de modernização. Reinaugurada em agosto de 2021, o prédio dispõe do espaço Multiuso, Infantil, Obras Raras, Periódicos, Microfilmagem, Obras Gerais, Obras Gerais – Coleção Ceará, Artes e Iconografia, Atualidades, Processamento Técnico, Leitura Acessível, Oficina do Fazer (Makerspace) e o Laboratório de Conservação e Restauro de Papéis.

A Bece já contabiliza 70.040 frequentadores para uso do espaço, leitura, estudo e pesquisa, acesso à internet, visitas guiadas e espontâneas e outras atividades. Foi o sentimento de usufruir desses espaços e a procura de um local acolhedor que fez a estudante Melissa Melo, recém-chegada em Fortaleza, escolher a Bece para ser o seu primeiro equipamento cultural para visitar na capital.

“Eu sou bem introvertida, sabe? Então procurei um lugar mais tranquilo para visitar. Eu nunca tinha vindo aqui, sou de uma cidade bem pequena, então achei muito bacana, bem aconchegante, tem muita informação legal”, declara a estudante, natural de Iturama, interior de Minas Gerais. “Foi uma ótima experiência de boas-vindas a Fortaleza”, completou.

Importância para gerações
O livro tem o papel de contar histórias, mas um lugar repleto deles exerce o dever de ser ponte entre gerações e conhecimentos. Para o professor de história Icaro Amorim, da Escola Indígena Da Ponte, localizada no território Tapeba, na Caucaia, que levou seus alunos para uma tarde no local, a relevância cultural e educacional de momentos assim vai para além de colecionar memórias.

Com o valor cultural imenso, o equipamento é imprescindível para fortalecer uma ligação entre gerações. “Esse equipamento tem um valor inestimável, é um patrimônio histórico do nosso Estado. A biblioteca mora no coração de muita gente. Ela é importante para criar novas gerações com amor, com incentivo à leitura e ao mundo do livro, e da formação das pessoas como cidadãs”, destaca Amorim.

Para o educador, a Bece oferece conexões e intercâmbios culturais sem precisar sair do território cearense. “Somos uma escola que se chama ‘escola diferenciada’, que é uma escola contextualizada, dentro de uma comunidade indigena Da Ponte, do povo Tapeba, que tem uma marca muito importante: uma história de vida muito importante no Ceará. Então, é uma escola que precisa dessas conexões, desse tipo de intercâmbio entre as culturas e entre raízes”, ressalta o professor.

Excursões realizadas com escolas, para promover essas conexões, já são corriqueiras na Bece. As visitas são guiadas e, durante o período de, no máximo, duas horas, os guias apresentam informações sobre os espaços disponíveis para o uso e orientam sobre o acervo e suas variadas coleções.

“Hoje, estou aqui com meus estudantes para gente ter acesso à diversidade de leitura, para que eles possam fazer conexões e ter perspectiva. E [para] que eles possam aproveitar tudo o que a Biblioteca Pública do Ceará tem para oferecer”, finalizou o professor.


Entrelaçar de histórias
Trabalhando na Bece por mais de 40 anos, a bibliotecária Zuila Lima teve sua vida toda entrelaçada com a biblioteca. Para Zuila, é uma espécie de casamento, cheio de amor e que não existe pensamento algum de separação.

“Eu cheguei aqui em 1981, mas antes de ser bibliotecária eu fiz um trabalho de Microfilmagem, e eu achei tão incrível que quis poder fazer na vida alguma coisa relativa a isso. E foi na biblioteconomia que vi que podia fazer esse trabalho de pesquisa, de dar importância às pessoas do que está acontecendo no mundo, do dia a dia, e isso sempre me deixou maravilhada”, relembra Zuila.

Dessa forma, a bibliotecária chegou a Bece ainda como estagiária, local onde ela considera “o melhor lugar para se estagiar”. “Aqui nós temos todos os tipos de pesquisa, todos os locais, temos setor Infantil, Obras Raras, a parte do Acervo Geral, a parte do Ceará, onde estão nosso autores da terra, então, isso contribui para que a humanidade melhore, enxergue um mundo melhor por meio do conhecimento das obras que estão aqui arquivadas”, ressalta.

Depois de formada, já são 40 anos cuidando de um dos acervos mais completos do Brasil. Trabalhando na biblioteca, Zuila amadureceu, formou uma família, e hoje até escuta do genro que entende ela não querer sair dali, pois o “espaço é bom demais”.

Com todo o amor por mostrar às pessoas o que está acontecendo no mundo, desde antes de ingressar na carreira escolhida, o setor que Zuila trabalha guarda exemplares que saem por período, ou seja, jornais, revistas, anais, Diário Oficial do Estado, entre outros. Apesar de ser visitada diariamente por pesquisadores que estão fazendo mestrado e doutorado, Zuila também recebe a visita especial de crianças, empolgadas para saber quais fatos aconteceram no dia que elas nasceram.

“Não abrilhantamos os olhos apenas de pesquisadores, mas também de pessoas comuns. Cearenses que chegam aqui e se encantam, principalmente as crianças, que querem saber o que aconteceu no dia de seu aniversário”, conta a bibliotecária.

Quem também tem sua história entrelaçada com a Bece desde seus tempos de estagiária é a diretora Enide Vidal. “Eu comecei a trabalhar como bibliotecária, viajando pelos municípios. Na época, estávamos fazendo o levantamento das bibliotecas municipais em território cearense e, posteriormente, assumi a direção da Bece”, relembra a diretora.

“Para mim, foi uma alegria, uma honra, como uma jovem sonhadora, ter essa oportunidade. Então, eu agarrei com grande garra. A biblioteca para mim sempre foi tudo, porque foi onde eu aprendi, onde eu sonhei, e onde realizei meus sonhos”, finaliza Enide.

Atividades ofertadas
A Bece, para além de guardiã da memória, também oferece todo mês uma programação gratuita de cursos, oficinas e demais atividades formativas presenciais e virtuais para o público adulto, juvenil e infantil com emissão de certificado. As inscrições são feitas por meio de formulários divulgados no site e nas redes sociais da biblioteca.

Localizada nas proximidades de uma área bastante cultural da cidade, a Bece também oferece programação cultural gratuita e diversificada todo o mês. Essa programação cultural já alcançou um público de 56.805 pessoas, em 547 ações culturais promovidas.

Apesar de todas as novidades, a essência de emprestar livros continua. Com mais de 13 mil empréstimos de livros contabilizados, para pegar um livro emprestado é preciso fazer cadastro na biblioteca, sendo necessários documentos de identificação e comprovante de residência para realizá-lo. O número máximo de obras emprestadas simultaneamente por usuário(a) é de dois títulos, e o tempo de empréstimo é de 15 dias corridos, e para obras em braile são 30 dias. Os exemplares disponíveis podem ser consultados e reservados na aba ‘Acervo’, no site da biblioteca.

Serviço
Terça a sexta-feira – 9h às 20h
Sábados e domingos – 9h às 17h

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