Irauçuba : Na área mais desertificada do país, comunidade cria ‘oásis’ com ajuda da tecnologia dos cordões e barragens de pedra

Blog do  Amaury Alencar
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O agricultor familiar Zélino convive desde os oito anos com a terra improdutiva de Irauçuba.  — Foto: Gioras Xerez/Sistema Verdes Mares

O agricultor familiar Zélino convive desde os oito anos com a terra improdutiva de Irauçuba. — Foto: Gioras Xerez/Sistema Verdes Mares

O agricultor José Marcelino, 80 anos, convive há mais de setenta décadas com o solo infértil da zona rural da cidade de Irauçuba, no Ceará. O município, junto com Gilbués (PI), Seridó (RN) e Cabrobó (PE), compõe a área de mais avançado processo de desertificação do Brasil.


Zelino, como é conhecido na comunidade onde mora, Mandacaru, nasceu em Sobral e se mudou ainda criança, com os pais, para a zona rural de Irauçuba, a 154 km de Fortaleza.


"Meus pais saíram de Sobral para fugir da seca, mas quando chegamos a Irauçuba, o negócio estava era pior. A terra era dura demais e, mesmo quando caía uma aguinha, ela ficava seca, virava poeira. Para colher alguma coisa, era complicado", afirmou.


O que Zelino chama de “terra dura” é o terreno rochoso, característico da área, seco e submetido a um baixo volume de chuva, resultado também de décadas de queimadas e monoculturas que sugaram seus nutrientes. O processo pelo qual o solo vai se tornando empobrecido até ficar improdutivo chama-se de desertificação.

"Era difícil encontrar por aqui na cidade terra boa para se plantar, o solo era sem vida. O feijão nascia, às vezes, mas não se desenvolvia. A planta morria logo. O milho não brotava. Nem o capim, que dá em todo canto, não nascia", disse outro agricultor João Alcides Pereira, da mesma comunidade.


Ao longo do tempo, Zelino viu a vida melhorar. Em comparação ao que tinha há 20 anos, atualmente possui um "mar verde" no quintal de casa, graças à implantação de duas tecnologias: os cordões de pedra e as chamadas Barragens Base Zero (BBZ). As barragens e os cordões “seguram” os nutrientes na terra.


"Os agricultores recebem nossa ajuda técnica e orientações e aplicam no seu dia a dia. Em Mandacaru, por exemplo, fizemos os cordões de pedra e as barragens de contenção. São pequenas ações com objetivo de conter a água no solo e minimizar a erosão, por exemplo. E essas ações fazemos desde 2012", explica o técnico da secretaria de Agricultura de Irauçuba Ivan Braga.

Causas da desertificação em Irauçuba:


  • É uma das cidades com menor volume de chuva no Ceará, de acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídrico. Mas a desertificação é causada também por ação humana;
  • Há cerca de 60 anos, plantações de algodão intensificaram o desgaste do solo; na década de 1970, o desmatamento e as queimadas foram práticas predominantes na região.
  • As queimadas anuais degradaram a terra; a monocultura (plantação das mesmas sementes todos os anos) absorveu os mesmos nutrientes, exaurindo o solo;
  • Quando chove, o fluxo de água remove uma camada de terra fundamental para desenvolvimento agrícola.

A desertificação afeta atualmente 30 milhões de pessoas em oito estados do Nordeste e do norte de Minas Gerais, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA). Mas o processo é ainda mais intenso e acelerado, segundo o Ministério, em Cabrobó, Irauçuba, Seridó e Gilbués. A degradação do solo, a redução da cobertura vegetal, a diminuição da disponibilidade de água e o aumento da erosão são características dessas áreas.

Codões de pedra e barragens


A técnica em meio ambiente que atende a comunidade, Antônia Karina de Araújo Braga, da Fundação Araripe, explica que a implementação das barragens em riachos da região e a instalação dos cordões de pedra possibilitaram a recuperação do solo e trouxeram uma nova vegetação.


As BBZs têm até um metro altura e são formadas de pedras encaixadas, deixando espaço para a água passar. Segundo a especialista, a barragem de contenção evita a entrada e depósito de sedimentos no fundo dos açudes, rios e riachos o que pode esgotá-los, além disso, revitalizam o solo. Dez famílias são beneficiadas pelas BBZs.

Já o cordão de pedra é a barreira que reduz a velocidade das enxurradas. Os cordões forçam o acúmulo de nutrientes, induzem o aumento da profundidade, a infiltração e armazenamento da água no solo. Vinte e seis famílias desfrutam desse projeto na região.


                                       G1 CE 

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