O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) já transferiu 128 dos 150 afegãos que se abrigavam no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, para a Colônia de Férias do Sindicato dos Químicos, em Praia Grande.
O transporte do grupo teve início na noite dessa sexta-feira (30) e está sendo concluído à medida que vão sendo cadastrados pelo Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). Entre os transferidos, 35 são crianças e 16 são adolescentes com idades entre 12 e 17 anos.
Os afegãos estão sendo acomodados e também recebendo alimentação e atendimento médico, se necessário, além de vacinação, informou o ministério à Agência Brasil. O prédio da Colônia de Férias possui 50 apartamentos equipados com cozinha, fogão, geladeira, microondas, beliches, ventilador, banheiro e televisão. Nas áreas comuns, há jardim, piscina, uma grande área de convivência e espaço para tratamento de saúde e refeições.
A retirada dos afegãos do aeroporto ocorre após denúncias de contaminação dos imigrantes por sarna, um dos fatores que demonstram a precariedade a que estavam sujeitos. A doença, altamente infecciosa, se prolifera rapidamente em locais de má higiene, e foi detectada no dia 21 de junho.
Além do Acnur, integram a parceria que permitiu a transferência dos afegãos o governo de São Paulo, a prefeitura de Guarulhos, a prefeitura de Praia Grande, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) e a Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, entre outras entidades da sociedade civil que atuam na causa.
Segundo o relatório mais atual do Acnur, 6.194 afegãos chegaram ao Brasil no período de janeiro de 2022 a abril de 2023. Somente em junho de 2023, 356 afegãos tinham solicitação ativa de refúgio e, até abril deste ano, 733 já possuíam o status de refugiados reconhecido pelo governo brasileiro.
O Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Imigrante (Paahm) - instalado no Aeroporto Internacional de Guarulhos - atendeu a 3.545 afegãos, entre janeiro de 2022 e maio de 2023. No momento classificado pelo Acnur como o mais crítico - entre novembro de 2022 e maio de 2023 - houve 2.106 atendimentos.
Contexto do país
A população do Afeganistão lida, há décadas, com conflitos e adversidades como a seca e baixas temperaturas no inverno, uma conjuntura que lança parte dela à miséria.
As dificuldades multiplicaram-se em 2021, quando o Talibã voltou a controlar o país, com a retirada das tropas dos Estados Unidos. A retomada do poder pelo grupo fundamentalista islâmico, que já teve o domínio entre 1996 e 2001, agravou as vulnerabilidades sociais, fazendo crescer o deslocamento forçado de parcela significativa dos afegãos.
Segundo o Acnur, cerca de 3,5 milhões de pessoas estão deslocadas devido ao conflito. Entre 2,6 milhões de pessoas refugiadas do Afeganistão, 2,2 milhões estão registradas somente no Irã e Paquistão.
Desde 2 de dezembro de 2020, o Brasil reconhece a vulnerabilidade dos afegãos e facilita o processo de reconhecimento de sua condição de refugiados, caso recorram a ajuda no país.
Edição: Kleber Sampaio